segunda-feira, 30 de março de 2009

Capitulo Onze - Raça

Os segundos se passavam, e nada da resposta. Senti que por algum tempo Matt fez menção de me contar o que queria saber, mas ele sacudia a cabeça me deixando frustrada. Eu olhava em seus olhos procurando respostas, só conseguia ver angustia. Eu não gostava de vê-lo daquela forma, mesmo o conhecendo há tão pouco tempo eu sentia algo por ele. Não conseguia me afastar. Eu fiz um movimento arriscado e coloquei minha mão em seu rosto. Sua pele, gélida como sempre, parecia veludo.
Ele se aproximou lentamente de mim, e eu fiz o mesmo. Nossos corpos estavam tão próximos que sentia o frio que ele irradiava. Meu coração acelerou de tal forma que parecia sair do lugar onde sempre esteve. Seus lábios estavam mais próximos aos meus do que poderia imaginar, sentia seu hálito frio e doce. Fechei meus olhos esperando alguma reação da parte dele. Ouvi um bip abafado de um celular e automaticamente abri meus olhos. Matt já estava do outro lado do quarto atendendo o telefonema.
Por um instante fiquei frustrada e cruzei meus braços infantilmente. Reparei que era inútil essa reação e me concentrei em decifrar o que ele estava falando. As palavras saiam baixas e ele parecia tentar esconder o que estava falando.
- Matt Rider.
- Não a vejo há dois dias senhor. – ele sussurrava.
- Não atendi ligação alguma.
- Prometo que ligarei. - ele batia o pé em sinal de ansiedade.
Ele desligou o celular e seu rosto se tornara uma face obscura. Como hoje, em minha casa, senti medo dele. Ele correu em minha direção e me levantou gentilmente da cama.
- Anne, precisamos voltar para o quarto do Sam. Preciso falar com Michael. Está tudo bem? Ou prefere ficar aqui?
Eu não iria conseguir ficar naquele lugar sozinha. Sacudi a cabeça e ele ofereceu o braço para que eu segurasse. Apertei-o com todas minhas forças e o segui, sendo guiada até o quarto onde Sam estava.
Antes mesmo que Matt pudesse girar a maçaneta, Sam estava na porta, lançando a Matt um olhar desaprovador.
- Você anda bem espertinho não é? Não consegue fazer tudo certo, por que é muito complicado? – Sam acusava Matt.
Percebi que Matt se conteve em responder as acusações de Sam e recuou me empurrando de leve para suas costas. Enfim, o olhar de Sam caiu sobre mim, e ele me olhava tentando entender alguma coisa. Talvez ele estivesse tentando ler minha mente, como ele parecia fazer. Sam passou a olhar para Matt e era com ódio. Por um segundo, jurei que Sam avançava sobre Matt, mas quando voltei a olhar para ele, a mulher e o homem que estavam em minha casa mais cedo, seguravam Sam pelos braços e o impediam de machucar Matt.
- Você, você... Como faz isso sem autorização, hein moleque? – Sam cuspia as palavras.
Não conseguia ver o rosto de Matt para saber sua reação. Esperei que ele se defendesse, mas ele permanecia calado. Michael apareceu por trás da porta, e olhou severamente para Sam, que parecia mais furioso a cada segundo que se passava. Michael ordenou que todos entrassem, porém ninguém se movimentou.
- Querem que eu repita? Sem escândalos no corredor. Resolvemos lá dentro, agora. – disse ele em voz severa.
Dessa vez, obedeceram. O homem e a mulher soltaram aos poucos Sam, que ainda olhava para Matt com ódio. Os dois deixaram Sam entrar e em seguida formaram uma barreira entre ele e Matt. Michael estava na porta, esperando uma reação de nossa parte. Matt se virou olhando nos meus olhos. Meu coração parou por alguns instantes olhando sua beleza estonteante.
- Anne, fique perto de mim, está bem? – ele me pediu, fazendo seu olhar implorativo que nunca falhava.
Assenti e ele pegou minha mão, entrelaçando com a dele. Entramos juntos no quarto, sobre o olhar de todos que estavam ali. Sam estava sentado em uma poltrona, perto da cama, com o homem e a mulher cada um de um lado, como guarda costas. Nos sentamos na cama, um bem próximo do outro, como Matt me pedira. Apertei de leve sua mão, e ele me deu um meio sorriso.
- Agora com calma, um dos dois me explique o que aconteceu. – Michael disse olhando para os dois.
Matt começou calmamente.
- Me ligaram da casa da Anne. A policia já está lá. Eles acharam o celular dela, e a ultima ligação foi para mim. Eles acharam que eu poderia saber de alguma coisa.
Meu coração acelerou. Então já sabiam do meu sumiço e provavelmente meus pais já estavam de fato, a caminho de casa, preocupados comigo. Soltei minha mão, que ainda estava com a de Matt, e a levei ao rosto para esconder as lagrimas que caiam. Matt me abraçou, me pedindo para ficar calma. Enxuguei minhas lagrimas na manga do agasalho e voltei a olhar para todos, segurando ao máximos as lagrimas que lutavam em cair. Matt pegou minha mão novamente.
- Tem certeza que foi só isso que aconteceu moleque? Você não disse nada que deveria ter ficado calado? – acusou Sam.
- Eu não disse nada. Você sabe disso. – Matt se defendeu.
Sam olhou para mim de relance e depois para Michael.
- Matt, fez o grande favor de falar para Anne, da minha... Habilidade.
Entendi finalmente o porquê de tanta irritação.
- Ele não me disse nada. – defendi Matt. - Eu deduzi. Não sou tola, nem alienada. Você sempre fala coisas que eu simplesmente pensei.
Todos olharam pra mim quando terminei de falar.
- Os policiais, por hora, não são um problema. Temos que colocar prioridades na nossa missão protegeremos Anne com nossas próprias almas. – Michael falava tranquilamente. Eu não entendia o porquê de tanta devoção.
- Então você confirma? – perguntei para Sam, evitando olhar em seus olhos. – O que eu deduzi?
Mesmo sabendo que Matt deixou a entender que eu estava certa, queria ouvir a verdade vinda da boca de Sam talvez fizesse a coisa parecer mais normal, ainda achava toda uma loucura essa idéia de ‘ler mentes’
- Prefiro te explicar a coisa toda. – disse ele olhando para Michael, que assentiu com a cabeça.
Os outros começaram a se retirar do quarto, restando somente eu, Sam e Matt. Cheguei para mais perto de Matt, eu tinha a leve impressão, que o que eu ouviria a seguir, mudaria todo o rumo da história.
Sam se levantou e andou em minha direção, pegou minha mão e fez menção que eu me levantasse. Olhei para Matt, preocupada, mas ele fez um gesto para que eu me levantasse. Percebi, que Sam me passava a mesma sensação de segurança transmitida por Matt. Mesmo que eu tivesse me desentendido vezes o suficiente com ele em pouco tempo, a proteção que ele me passava, fez com que eu sentisse um pouco mais de simpatia por ele. Matt ficara no quarto, enquanto eu e Sam andávamos pelo extenso corredor. Achei que surtaria sem Matt do meu lado, mas me pareceu tão normal estar ali, com meu suposto irmão. Essa percepção me fez sorrir.
- O que houve? – perguntou Sam, curioso.
- Hm, eu e... Você aqui. Parece tão normal, me sinto segura perto de ti. Como se o que você me contou fosse realmente a minha historia. – respondi sinceramente.
Ele parou no corredor e afagou meu rosto. Reparei que uma lagrima escorreu por seu rosto antes de recomeçarmos a andar. Ele me puxou para perto das escadas e eu parei. Não queria descer para aquela sala movimentada, era muita gente desconhecida.
- Tudo bem, eles não vão te machucar. – disse Sam, com um meio sorriso no rosto.
Pelo visto, ele entrara mais uma vez na minha mente. Eu não gostava muito desta situação, era complicado ter alguém na minha cabeça sempre.
- Posso te pedir uma coisa? – vacilei entre um degrau e outro.
- Fale, mas eu imagino.
- Dá pra ficar fora da minha cabeça. É serio, posso pensar coisas que possa te machucar. – pedi sabendo o quanto era difícil controlar meus pensamentos.
- Tentarei evitar. Com você é mais fácil. – seu sorriso aumentou fazendo seu rosto ficar extremamente estonteante.
Não entendi o que ele quis dizer, mas permaneci em silencio assim que chegamos à sala lotada. Parecia que mais gente havia chegado ao local e mais uma vez todos pararam o que estavam fazendo para olhar em direção a mim. Michael também estava na sala, no canto norte, rodeado de pessoas, inclusive o casal que estivera em minha casa. O homem alto e loiro acenou rapidamente para mim, o ato não passou despercebido pela mulher que estava do seu lado, reparei que ela dera uma cotovelada nas costas dele. Sam passou comigo por entre todos que estavam ali presentes me levando para uma porta do outro lado da sala.
- Hei Pablo, evitem barulho, preciso de silencio. – Sam gritou para o grupo em volta de Michael, o homem loiro assentiu com a cabeça saindo do lugar onde estava.
Paramos em frente à porta e Sam a abriu, esperando que eu entrasse primeiro. A sala tinha paredes claras e moveis brancos, talvez o motivo pelo qual Sam me trouxera ali era porque a sala passava um ar de tranqüilidade. Isso me fez temer mais ainda o que ouviria a seguir.
- Sente ali Anne. – disse Sam apontando pra uma poltrona perto da janela.
Fui andando até lá e olhei para a janela. A vista dava pra uma montanha, e uma clareira lotada de flores violetas. Fiquei impressionada com a beleza do local. Sentei-me no sofá e fiquei olhando para Sam, ele levantou e foi em direção a janela, fechando à persiana.
- Você é como se fosse um radio fora de sintonia – disse ele, ainda perto da janela.
- Como? – disse me virando para ele. Não vi sentido nas palavras que ele acabara de dizer.
- Eu te disse que era mais fácil não te ler. Você perguntou o por que. – disse ele se explicando.
- Ah. – então era por isso, eu era um radio sem sintonia.
Ele puxou um pufe e sentou na minha frente.
- Antes de tudo Anne, quero que me prometa uma coisa. – pediu ele.
Assenti com a cabeça, e esperei que ele continuasse.
- Tudo o que você vai ouvir, quero que, por favor. Ouça de cabeça aberta. Não leve em conta nada que tenha ouvido em toda sua vida. Prometa-me.
- Eu prometo Sam. – tentei parecer o mais indiferente o possível, mesmo que tudo que ele tenha dito havia me deixado mais tenebrosa.
- Então Anne – ele fez uma pausa, parecendo procurar palavras para começar- pelo que percebi você já reparou na semelhança entre todos os presentes aqui.
Assenti novamente com a cabeça. Foi a primeira coisa que reparei ao entrar neste local. A beleza estonteante, os olhos verdes claro, a pele pálida e gélida, levando em consideração o toque de Matt e Sam.
- As semelhanças vão além de nossa aparência. Fazemos todos, parte de uma raça, desconhecida pela maioria.
A palavra ‘raça’ me fez sentir calafrios, então eles eram diferentes de minha raça? Não consegui entender o que ele tentava dizer. Esperei que continuasse.
- Na verdade, você tem uma idéia de boa parte do que somos. Mas uma idéia errada, mitos e mais mitos fazem de tudo o que vocês pensam que somos um erro.
“Não somos afetados pelo alho, nem pelo sol, nem pela água benta. Não dormimos em caixões, não viramos morcegos e não necessariamente bebemos sangue.”
Eu ouvi as palavras dele lentamente, tentando entendê-las, mesmo sabendo do que se tratava. Meu coração acelerou de tal forma que tudo começou a girar em minha volta. As palavras dele eram repetidas varias e varias vezes em minha mente, mas eu não conseguia raciocinar sobre elas. Vampiros era isso que ele queria me dizer, impossível. Então de anjos não havia nada neles, eles eram monstros.
Mesmo tendo prometido a ele, não conseguir me conter. Minhas pernas não pareciam responder aos meus comandos, mas mesmo assim consegui levantar.
- Impossível. – gritei em meio a lagrimas, que resolveram aparecer no momento errado.
- Não Anne, por favor, me escute. Não é do jeito que você está pensando, você me prometeu.
- Não, me deixa sair deste lugar. Agora, Agora. – eu gritava sem pensar. Eu não queria ficar mais ali, depois disso. Eu tinha medo de ficar em meio a monstros. Eu não estava raciocinando direito. Eu estava desnorteada, optei por correr até a porta. Sabia que ele não deixaria sair daquele lugar, se eu fugisse, talvez funcionasse.
Fui o mais rápido que pude e girei a maçaneta. Eu não esperava que o homem loiro, que a pouco Sam chamara de Pablo, e Matt estarem em frente à porta. Não fui rápida o bastante para conseguir passar por entre eles, o braço de Matt me segurou.
- Me solta, agora. – eu me debatia em vão.
- Calma Anne, não vou te soltar se continuar neste estado. – disse Matt calmamente.
- Me solta agora, me deixa sair daqui. Não quero ficar no meio de vocês, quero meus pais, minha casa. – eu não iria conseguir me acalmar facilmente.
- Solta ela. – a voz de Sam estava chorosa.
Matt vacilou em obedecer, ele foi me soltando aos poucos e por fim fiquei livre. Olhei em seus olhos, mas desta vez, ao invés de fascinação, eu senti medo de Matt. Eu teria que decidir o que fazer. Fugir dali e tentar esquecer tudo, ou continuar aqui e continuar a ouvir o que Sam queria que eu escutasse.
Mesmo contrariando o que eu sentia naquele momento, recuei novamente para dentro da sala.
- Eu quero ouvir tudo, tudo mesmo. E quero provas, de tudo o que for dito. – minha voz saiu severa, fiquei com medo de me arrepender do que estava fazendo, mas algo dentro de mim me fazia querer continuar ali.
Sam assentiu e desviou o olhar, sentando-se novamente no pufe. Antes de voltar a me sentar, olhei para Matt mais uma vez. Em vez de encontrar aquele sorriso perfeito que sempre estava presente em sua face, encontrei agonia e dor. Ele percebeu meu olhar a ele, e veio em minha direção, com um dos braços estendidos.
Mesmo querendo abraçá-lo, o que eu acabara de ouvir me deixou assustada. Afastei-me dele, empurrando seu braço.
- Anne... – ele sussurrou meu nome, e foi recuando lentamente. Seu olhar ainda estava preso em mim, antes de se virar.
Eu estava confusa demais pra tentar concertar o que acabara de fazer. Arrastei meu pé em direção a poltrona que a pouco ouvi a história mais absurda o possível. Sentei-me esperando que Sam recomeçasse tudo, ouvi um estalo da porta sendo fechada.
- Eu imaginei que você reagiria assim. E Anne, por mais que você esteja confusa, uma coisa quero que esteja claro para você, nunca nenhum de nós vai te machucar. Nunca, entendeu?
- Entendi. – eu estava mais calma, consegui dar um meio sorriso para Sam. Ele retribuiu automaticamente- E então o que tem para me contar?
- O que quer saber, fica melhor assim. – ele me olhou, podia ver que seus olhos agora, estavam mais leves, talvez me contar esse segredo, talvez fosse aliviar boa parte do seu fardo.
Procurei as perguntas certas em minha mente.
- Você me disse, há pouco... Que vocês, não... Necessariamente bebem sangue. – tentei formular uma pergunta certa, mas não conseguia. Meu raciocínio ainda permanecia lento.
Ele pareceu entender o que eu estava tentando perguntar.
- Nós podemos optar, entre a comida normal, a que vocês humanos comem. Ou sangue.
Estremeci ao ouvir essas palavras. Ele percebeu.
- Já disse que não precisa ter medo, nós...
- Nunca me machucarão. – completei a frase.
Um silêncio constrangedor baixou no local. Eu estava fazendo as minhas perguntas e Sam as esperando.
- E as presas? – disse por fim, gesticulando com a mão, imitando-as.
Ele olhou debochadamente para mim, provavelmente por parte do gesto.
- Mito. – disse ele, formando um sorriso no rosto.
- Prove. – o desafiei.
Ele pareceu se divertir. Sam chegou para frente, de modo que ficasse a um palmo de mim. Meu rosto estava perto o suficiente para que conseguisse ver todos os detalhes. Ele sorriu divertido e me mostrou todos os dentes. Realmente, não havia nada de incomum neles, nem uma ponta mais afiada.
Ele esperava que eu continuasse com o interrogatório. Uma pergunta surgiu em minha mente, se de fato, eu fosse irmã de Sam, a que ponto nossos genes eram iguais.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Capitulo Dez - Subentendido

O que mais me intrigava, era o que eu estava fazendo ali. Por que esse mal entendido havia ocorrido comigo. Nessa altura, a polícia já devia ter revistado minha casa toda e avisado meus pais sobre a invasão que ocorrera. Eles estariam indo a toda velocidade para casa, e suas mentes voltadas para mim, se eu estaria bem. Não era de o meu feitio desobedecer a ordens, principalmente a que eu mais ouvi durante minha infância ‘’ Não fale com estranhos ‘’, dessa vez eu não só desobedeci, como também fui parar numa casa lotada deles ao lado de um homem que dizia ser meu irmão e me contara uma historia sem fundamento, na verdade tinha um fundamento, se eu fosse adotada ou algo do tipo. Eu tinha mãe, pai. Uma família. E possivelmente a morte de minha avó foi conseqüência deste mesmo engano.
- Anne, você não pode sair desta casa. Você viu o que aconteceu hoje, se a gente não tivesse chegado a tempo, você estaria...
- Morta. – completei a frase automaticamente
- Não Anne, você poderia... – mais uma vez Sam deixou sua frase como uma incógnita.
Olhei de cara feia para ele, e ia reclamar dessa insistência em me fazer ficar confusa, mas Michael continuou a falar.
- Anne, eu estou falando serio, você precisa entender algumas coisas. – nesse momento Sam e Matt viraram a cabeça instantaneamente para Michael, seus olhos arderam em ansiedade- As pessoas que te procuram, não são tão comuns, elas são... Excepcionalmente fortes. Aqui você fica mais protegida, aqui que você deverá ficar.
- Eu tenho outra idéia, - me levantei da cama, estava ficando realmente irritada – vou pra minha casa e ligo pra policia, eles vigiam a minha casa e tudo fica bem.
Antes que pudesse dar mais um passo, Sam estava na minha frente, me obrigando a recuar de novo para a cama. Ele me olhava severamente, mas sua expressão mudou imediatamente e ele começou a rir.
- Você ta rindo de que? – disse cuspindo as palavras.
- Como se um bando de policiais fosse o suficiente para deter ele.
Michael lançou a Sam um olhar o repreendendo. Sam se fez indiferente. Matt ainda ao meu lado, olhava para Michael sem desviar. Ele estava ansioso e não conseguia esconder isso. O silencio tomou o local.
- Preciso de explicações, não vou ficar aqui por nada. Meus pais devem estar preocupados, desesperados para falar a verdade.
Sam riu amargurado e mais uma vez, ele conseguiu me deixar com raiva. Ele tinha que ser tão debochado?
- Vou ter que contar tudo de novo Anne? - disse Sam, me olhando.
Eu não agüentei, ele estava me tirando do serio, ele havia de entender que eu não era a irmã dele, estava longe disso. Levantei e fui em direção a ele, mesmo com a cabeça ainda latejando. Antes que pudesse chegar a ele, Matt já estava do meu lado me reprimindo. Mas minha boca estava livre para falar o que eu quisesse. As palavras saiam rápido demais, sem freios.
- Eu não sou sua irmã, eu não tenho nada com você. Espero que você entenda isso. Não adianta você falar nada.
Ele revidou, tentando se explicar. Procurando justificativas para suas afirmações.
- Anne, acho que você que devera entender. Não há um mal entendido, você é minha irmã. Não temos como se enganar.- não era a primeira vez que eu ouvia isso.
Em um movimento rápido ele me puxou pelo braço até uma cômoda no outro lado do quarto. Matt tentou vir junto, mas Michael o puxou para perto. Sam retirou da primeira gaveta uma caixa de veludo vinho bordado com dourado. Sam a pegou delicadamente e me puxou para a cama, dessa vez sendo mais sutil. Ele se sentou e esperou que eu fizesse o mesmo. Mesmo contrariada, me sentei, esperando ele abrir a caixa, para ver o que ela continha.
Ele a abriu e pude ver que seu conteúdo, era feito de fotos e papeis de carta. As fotos tinham aspecto de antigo e a cor estava desbotando. Ele me entregou uma delas. Era de uma família, e pelo contexto de tudo, era a família que Sam me contara a historia. Eram todos parecidos, assim como todos dessa casa. Todos eram morenos, até o bebe mais novo. Estavam todos sorridentes. Meus olhos então pousaram sobre a figura materna da foto. Era estupendamente bela, assim como Sam me descrevera. E notei a semelhança. Mesmo sendo perfeitamente linda. Suas feições eram quase idênticas a minha. Seu nariz, boca, até mesmo o cabelo e o jeito que era preso atrás das orelhas.
Fiquei boquiaberta. Se eu não estivesse tão certa de que tudo era um erro, eu poderia afirmar que ela era sim minha mãe, por toda a semelhança. Comecei a ficar confusa e me perguntei até que ponto Sam falara a verdade.
Os três olhavam para mim esperando uma reação, contudo nada conseguir dizer. Matt conseguiu se desviar dos braços de Michael e se agachou na minha frente. Senti algo quente escorrer por meu rosto, e tive a consciência que eram lagrimas novamente. Eu só queria um lugar seguro naquele momento, meu coração se tornara um imenso vazio. Sem pensar eu me joguei nos braços de Matt e o abracei com todas minhas forças. Enterrei meu rosto em seu pescoço, não queria mais ouvir nada, nem ver nada. Ele tentava me acalmar e me levantou sem esforço nenhum para me colocar na cama novamente, eu o agarrei mais fortemente.
Ele pareceu entender o recado e pediu para que os outros saíssem dali. Porém Sam se recusou.
- Não vou deixar ela sozinha com você.
Fiz um grande esforço e me virei para olhar pra ele, me soltando de Matt.
- Por favor, eu preciso pensar.
Neste mesmo instante, alguém bateu na porta, e Michael já estava abrindo-a. Na soleira da porta, se encontrava um homem que aparentemente era o medico que Michael falara. Ele, assim como todos deste lugar, era extremamente bonito.
Ele foi diretamente a mim. Puxei Matt para que ficasse mais perto. Não queria nada agora a não ser ficar sozinha ali. O medico fez menção de abrir a maleta que ele carregava, mas eu olhei suplicando para Matt me tirar dali. Ele entendeu e me puxou para suas costas.
- Depois ela vai ser examinada, deixa ela ficar quieta comigo. Ela não quer ver ninguém.
Ele pareceu tirar as palavras de minha boca e eu afirmei com a cabeça. O medico e Michael se entreolharam.
- Leve ela pra seu quarto, preciso falar com Sam.
Sam olhou com curiosidade para Michael, e voltou a olhar para mim. Ele abaixou a cabeça logo em seguida. Matt me colocou em sua frente e me levou em direção à porta. O corredor estava vazio, e um vento frio passou por ele. Me encolhi e me aconcheguei a Matt. Ele me puxou para uma porta, semelhante a todas outras. O quarto era visivelmente menor do que o que Sam me levara. Reparei que a janela, tinha vista pra uma floresta linda. Ele me puxou de leve e me levou para a cama. Em um movimento rápido, ele se dirigiu ao armário e me trouxe um agasalho.
Ele entregou em minhas mãos e sorriu. Eu me sentia tão protegida com ele. Coloquei o casaco e no mesmo instante, um cheiro doce e agradável me envolveu. Apoiei minha cabeça na cabeceira da cama. Ele olhava para mim com gentileza, um meio sorriso ainda ficou em seu rosto. Eu ainda precisava de respostas, e não agüentaria esperar.
- Matt – seu sorriso aumentou ao ouvir seu nome – posso fazer umas perguntas? – perguntei gentilmente.
- Não garanto respostas, mas sim Anne, pode fazer o que quiser.
Formulei rapidamente, as perguntas que as respostas eram prioridade.
- O Sam, ele... Ele, - gaguejei ao tentar pronunciar o que se seguia, talvez parecesse idiota demais – consegue ler mentes, ou algo do tipo, não é? – consegui falar enfim.
Esperei uma reação debochada da parte dele, mas ele me olhava com curiosidade.
- Você é mais perceptiva do que eu poderia imaginar. – disse ele por fim.
Então havia algo mesmo, algo sobrenatural que cercava Sam. Minha cabeça disparou a pensar que as semelhanças entre Sam e Matt, talvez não passassem da beleza e os olhos. Eu olhei espantada para Matt e ele pareceu entender a que ponto meu raciocínio chegara. Ele se afastou lentamente. Só de imaginar de ficar longe dele, eu me sentia desprotegida e agoniada. Puxei sua mão para perto de mim por reflexo e ele se aproximou novamente, para meu alivio.
- Então você, é... – deixei o resto da frase ficar subentendido.
Ele entendeu imediatamente, e me respondeu sorrindo.
- Não, eu sou... Diferente.
Por um lado fiquei tranqüila, por outro, um arrepio passou por todo meu corpo, me fazendo estremecer. Matt deixou entendido que a minha tese era verdadeira. Então, todas aquelas vezes, que Sam parecia ler o que eu pensara, ele de fato era isso que estava fazendo. Isso não podia ser verdade, era uma coisa impossível e fora do normal. A cada batida do ponteiro, esse dia se tornava mais estranho. Eu tinha toda certeza que havia mais um segredo a ser revelado. Algo que tanto Matt e Sam estavam tentando esconder de mim.
- Posso fazer outra pergunta? – perguntei arriscando.
- Como eu disse Anne, sempre. – o sorriso perfeito mais uma vez no seu rosto.
Fui diretamente ao ponto, sem rodeios. Estava tão certa, que afirmei ao invés de perguntar.
- Eu sei que tem mais coisa que vocês deveriam me contar. Conte.
Ele estava sem saída e percebeu que eu não iria desistir até obter a resposta que eu queria.
- Anne, eu não posso. – disse ele pegando minha mão. Sua pele sempre gélida me fez arrepiar.
- Eu quero, ou melhor, eu preciso saber. Por favor, Matt. – olhei em seus olhos.
Ele apertou de leve a minha mão, me olhando com tristeza.

terça-feira, 10 de março de 2009

Capitulo Nove - Revelado

Ele respirou fundo, me olhando intensamente. Seu rosto era muito parecido com o de Matt, as feições eram perfeitas e bem delineadas. O anjo sentado na minha frente, assim como Matt, tinha os olhos mais lindos que eu já vira.
- Por que anjos? - ele me perguntou, rompendo o silencio que se sucedia desde sua ultima frase.
Levei um tempo para engolir sua pergunta, nunca havia dito a ninguém do meu modo de ver ele e Matt. Como ele sabia que eu os chamava assim? Como ela sabia outras coisas que eu tinha simplesmente pensado?
- Tudo vai ter sua resposta Anne. Acho interessante o fato de você nos denominar dessa forma. – ele riu sem humor.
Fiquei esperando, as respostas prometidas por ele. Ele se ajeitou na almofada onde estava sentado e pegou minha mão e a afagou, ele fazia círculos com os dedos na minha palma; até que ele começou a falar.
- “Tudo começou a um bom tempo atrás, onde que um amor entre um casal, colocaria tradições e decisões de séculos atrás em jogo. O menino, filho de um casal de governantes que seguia essas leis tão firmemente que chegavam a se tornar lunáticos. Já a menina, criada da mais fina forma, era a perfeita princesa, era linda e mais bonita de todos os tempos.”
Ele engoliu seco ao falar essas palavras. Permaneci atenta esperando o resto da historia.
- O destino fez sua parte, e em um verão, os dois se encontraram pela primeira vez. Ambos eram adolescentes. Foi amor a primeira vista, mas eles sabiam que nada poderia mudar a visão de seus pais, sobre a raça do outro. Mesmo dessa forma, eles desafiaram tudo que fora ensinados a eles, e se encontravam escondidos de todos. Nenhuma das duas famílias sabia de seu amor.
“Os dois estavam apaixonados e faziam loucuras um para o outro. Ele não era filho único, seu irmão, copia perfeita de pensamentos de seu pai, descobriu que ele se encontrava as escondidas com a filha de seus inimigos. O irmão indignado com a ‘traição’, resolveu contar tudo para seus pais, e assim fez. Luna e Pietro foram encontrados juntos, numa caverna que ficava na divisa entre os dois reinos. Foram pegos em flagra pelo pai dele. Eles discutirão feio, e naquela noite, Pietro decidiu abdicar do trono que em pouco tempo seria dele. Juntou suas coisas mais importantes e saiu da casa de seus pais.”
Sam ainda olhava para minha mão, percebi que ele evitava olhar diretamente em meus olhos. A história pelo que percebi por suas feições não teria um final feliz, tentei entender aonde ele queria chegar me contando essa historia.
- Logo que os pais de Luna descobriram seu caso também, perguntaram para a filha, se era isso mesmo que ela queria, surpreendendo-a. Luna respondeu que Pietro era tudo que ela queria que ele era sua alma gêmea. Diferente da família dele, os pais dela deixaram sua filha tomar as próprias decisões. Luna largou tudo que tinha e fugiu com Pietro. Por anos eles conseguiram viver clandestinamente, em um lugar desconhecido. Luna realizou seu sonho e teve um filho, uma criança que misturava a grandiosa beleza do casal. Eles finalmente estavam felizes, tinham pouco, mas o que tinham era necessário para a felicidade. Três anos após Luna ter tido seu primeiro filho, veio a noticia que ela esperava outro bebê, só que desta vez era uma menina. Tudo estava ocorrendo bem, a felicidade reinava na família. O bebe, era muito esperado e mesmo antes de nascer, tinha todo amor que poderia ter.
“A menina nasceu, perfeita, mesmo ainda recém nascida, dava para perceber o quanto se assemelhava a sua mãe. Uma semana após seu nascimento, é anunciada a morte do pai de Pietro, e seu irmão assume o trono. Pietro ficou abalado com a morte de seu pai, mesmo depois das brigas que eles tiveram.”
Sam, enfim, levantou sua cabeça e me olhou nos olhos. Eles estavam cheios de lagrimas e pude notar o quanto era difícil ele me contar tudo isso.
- Dois meses depois do nascimento da menina, Pietro teve que se ausentar, e Luna ficou em casa cuidando das duas crianças. Eles não sabiam que o irmão de Pietro, havia descoberto onde eles estavam. Ele tinha ódio, tanto de Luna, quanto das crianças e decidiu que eles deveriam pagar por tudo. Junto com alguns soldados da guarda, ele invadiu a pequena casa, e levou Luna para o lado de fora. O filho mais velho do casal ficou com a menina em seus braços, enquanto ouvia os gritos de desespero de sua mãe, ela não gritava por socorro, ela só pedia que não fizessem nada de mal para os seus filhos. Os gritos se cessaram e o tio das crianças adentrou no cômodo onde as crianças estavam. Seu olho brilhava de ódio, mas algo aconteceu e ele nada de mal fez fisicamente as crianças. Ele levou a bebe para longe e não se ouviu mais falar dela, o menino voltou a morar com seus avôs maternos. O pai nunca mais foi visto, muitos dizem que seu irmão, deu o mesmo fim de Luna para ele.
“Luna foi enterrada em uma ilha, seu lugar favorito em todo mundo. Ela costumava ir lá quando era criança, do lado do seu tumulo, se encontra uma roseira, e do lado uma placa com os dizeres: ‘Aqui descansa minha estrela’”
Sam terminou a historia e uma lagrima brotou pelo canto de seu olho, tentei consolá-lo afagando seu rosto. Ele olhou para mim, esperando que fala-se algo. Não tinha entendido o motivo pelo qual ele me contara essa historia triste.
- Você não entende Anne? – ele me olhou esperando alguma reação.
Foi quando tudo se encaixou, o que ele acabou de me contar, era a minha história, nossa historia. Luna e Pietro eram meus pais e, Sam e eu as crianças da historia. Um aperto surgiu em meu peito. O que Sam estava querendo dizer? Que na verdade Luna e Pietro eram meus pais? Ele estava louco. Levantei rapidamente, e antes mesmo de acabar de fazer o movimento, ele já estava na minha frente bloqueando minha passagem.
- Você está louco, por favor, me deixa sair daqui. – pedi empurrando seu corpo em vão.
- Não Anne, não há nenhum engano aqui. Por favor, escute o que eu ainda tenho a falar.
Consegui sair de seus braços e andei em direção a porta, já girando a maçaneta, olhei para trás, para saber onde ele se encontrava. Ele ficou parado, no mesmo lugar onde eu conseguira desviar de seus braços, em seus olhos constavam lagrimas e seu rosto que a pouco era perfeito, estava contorcido em dor. Aquela imagem me deixou chocada, ele estava realmente muito abalado. Dei um passo em direção a ele, não podia deixá-lo ali, naquelas condições, mesmo sabendo que tudo que estava acontecendo, não passava de um mal entendido. Eu estava caminhando em sua direção, quando a dor insuportável na minha cabeça voltou. Minha mente estava queimando, mas dessa vez, via apenas flashbacks.
Via duas crianças em um chão encolhidas de medo, uma mulher que gritava por eles, um homem que corria sem parar e eu mesma, me vi pela perspectiva de outra pessoa. As imagens lentamente foram fugindo de minha mente, e pude ver o rosto preocupado de Sam ao meu lado. Ele me sacudia e gritava:
- Anne, por favor, fala comigo, olha pra mim.
- Estou bem – gemi de dor.
Senti meu corpo flutuar, e reparei que mais uma vez, Sam me carregara em seus braços. Ele me deitou no sofá perto da lareira, e afagou meu rosto. Abri meus olhos e ele sorriu. Ele era tão carinhoso comigo, me tratava como sua verdadeira irmã, ele teria que entender que tudo estava errado, eu não era sua verdadeira irmã. Mas as imagens que eu vi, foram tão estranhas, pareciam ser da historia que ele acabara de me contar.
- Anne, como consegue? – ele me olhava intrigado.
- Consigo o que? – a dor estava se amenizando, eu esfregava minha testa em movimentos sincronizados.
- Deixa pra lá Anne. Deixe por favor, eu terminar o que tenho a te dizer?
- Pode continuar Sam, mas ainda acho que isso não passou de um mal entendido. – disse me ajeitando no sofá, de uma forma onde pudesse olhar em seus olhos.
Ele sentou ao meu lado, e mais uma vez pegou minha mão.
- Quero que você entenda, que toda aquela perseguição, não terminou. Ainda corremos perigo.
Ele me olhou seriamente, e antes que eu pudesse me pronunciar, ele continuou.
- Anne, eu já imaginava que você não entenderia, acharia que tudo não se passava de um engano. Mas não é Anne. Você, você... É tão parecida com nossa mãe. - ele me olhou tão profundamente, e mais uma vez, lagrimas escorreram pelo canto de seu olho.
- Sam, eu sinto muito, é serio. – disse me levantando – é um engano tudo isso, desculpe.
Ele soltou minha mão com tristeza.
- Anne, se ele te fizer algum mal, nunca poderei me perdoar, você é tudo que eu tenho. Por favor, me entenda.
Eu não olhei em seus olhos, tive medo de mais uma vez, continuar ali pela pena que sentia dele. Mesmo sem meu casaco, girei a maçaneta e sai porta a fora. O vento frio mais uma vez veio em choque diretamente em mim, me enrolei o máximo possível na manta que Sam me dera, e corri em direção a minha casa.
Eu já estava sem fôlego quando cheguei a minha casa, lembrei então que havia deixado minha mochila, na casa de Sam. A sorte era que minha mãe, sempre deixava uma chave extra, embaixo do vaso da pequena escada na entrada.
Quando finalmente estava em casa, eu liguei imediatamente o aquecedor, eu tremia involuntariamente de tanto frio. Troquei de roupa e dei uma secada rápida no meu cabelo. Resolvi descer para ver o que tinha na geladeira, minha mãe deveria ter deixado pronta algumas refeições para o dia que ela se ausentaria.
Algo me fez recuar pela escada, minha sala não estava vazia, um grupo de homens encapuzados estavam me esperando. O pesadelo retornou a minha cabeça. Tentei me mover o mais rápido que pude, entrei em meu quarto e tranquei a porta assustada. Não demorou nem meio minuto, uma voz aveludada me ameaçou pelo outro lado.
- Anne, não tem como fugir, uma porta não é empecilho para mim, saia por bem, ou eu te arranco desse quarto por mal.
Eu não tinha o que fazer, fui até a janela para ver se um salto daquela altura não iria ter grandes conseqüências, percebi que não sairia dessa sem pelo menos um osso quebrado. Eu estava presa, e a única solução era fazer o que ele pedia. Me lembrei que Matt, havia me dado um telefone caso eu estivesse com problemas. É aquilo me pareceu grandes problemas. Revistei meu bolso a procura do papel que ele me dera, e encontrei. O homem do outro lado de minha porta batia em movimentos sincronizados, imitando o ‘ tic-tac’ dos relógios. Disquei o numero em meu celular, e reparei que minha mão estava tremula, o celular chamou duas vezes até que uma voz que reconheci imediatamente como a de Matt, atendeu o telefonema. Se eu não estivesse na situação que eu estava, estaria feliz por ouvir sua voz.
- Matt, socorro. – meu timbre de voz estava alto o suficiente para que do outro lado da porta, o homem escutasse.
- Anne? – respondeu Matt do outro lado.
Mas um estrondo fez com que eu deixa-se o celular cair. A minha porta havia sido arrombada, e não sei de que forma, sido jogada para perto de minha cama, do outro lado do quarto. Os homens encapuzados adentraram em meu quarto, e vieram em direção a mim. Eu estava sem saída, não tinha para onde correr, bolei rapidamente um plano de correr até meu banheiro, mas da mesma maneira que eles arrombaram a porta de meu quarto, poderiam fazer com a de meu banheiro. Eu não tive saída, tentei gritar socorro, mas antes que pudesse pronunciar, o homem que há tanto tempo tentei esquecer, tampou minha boca, e sussurrou em meus ouvidos.
- Não vai adiantar Anne.
O pânico me tomou por inteira, sabia que dessa vez eu não tinha escapatória. Ele me puxou até o andar de baixo, e me sentou no sofá. Os homens encapuzados nos acompanharam até a sala, e permaneceram em silencio. Mais uma vez, as palavras pareciam sumir de minha boca. Eu olhava assustada, esperando uma reação dele. Até que ele começou a falar.
- Pequena Anne, infelizmente você soube a verdade pela versão mais errada da historia. Você não entende o quanto foi difícil fazer tudo que fiz.
Minha mente trabalhava a mil por hora, e liguei um fato ao outro. O homem que estava na minha frente, seria então irmão de Pietro, ele também acreditava que eu era sua sobrinha. Tudo o que havia acontecido naquele verão, incluindo a morte brutal de minha avó, fora decorrente de um terrível engano. Minha voz saiu mais aguda e desesperada possível.
- Vocês têm que entender, eu não sou essa Anne que vocês pensam que sou me deixem em paz. Procurem a certa, me deixa ir embora, por favor.
- Não Anne, não temos como nos confundir. Sabemos que é você, o seu cheiro não nos engana. Ainda tenho muito que te contar. – ele afagou meu rosto e antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa, um estrondo tirou a atenção de todos de mim. Todos se voltaram para a cozinha, ainda assustada eu olhei esperando que algum milagre tivesse acontecido.
E aconteceu, Matt estava parado a poucos metros de mim, junto com Sam, e mais dois homens e uma mulher. Os cinco estavam em posição de ataque, e seus dentes amostra. Um arrepio passou por minha espinha, naquele momento, eles não eram meus anjos, não havia nada de angelical neles. O olhar de Matt caiu sobre mim, e eu supliquei mentalmente que ele me tirasse daquele lugar.
O homem que eu tanto temia me puxou para um abraço esmagador, e virou meu rosto para os cinco. Sam imediatamente saiu da posição que estava e foi logo levantando as mãos. Os outros quatro o imitaram.
- Larga ela. Agora. – Sam gritou, olhando desesperado para mim.
- Nem pensar, Sam. Seus pais nunca te ensinaram a respeitar os mais velhos.
Sam olhou com ódio em direção a ele, e veio em nossa direção. Tudo aconteceu muito rápido, eu fui jogada em direção a mesa da sala, e bati minha nuca na mesma. Fiquei um pouco tonta. Meu cotovelo estava doendo e estava arranhado. Eu olhei para briga que se sucedia na minha sala de estar.
Sam e o homem que se dizia meu tio estavam mais perto de mim, e eles se moviam rápido demais para que meus olhos conseguissem acompanhar, o mesmo acontecia com os demais que estavam ali. O homem mais alto e loiro, que estava acompanhando Sam e Matt, estava lutando com dois encapuzados ao mesmo tempo e pelo que me parecia, ainda estava em vantagem. Fechei meus olhos esperando acordar de um pesadelo. Ao invés disso, um barulho de sirene me fez abrir os olhos. Provavelmente, algum vizinho havia achado estranha toda aquela movimentação e comunicou a policia.
As brigas se cessaram quase que imediatamente, e o homem que se dizia meu tio, veio em minha direção. Não sei como aconteceu, mas antes que eu pudesse piscar os olhos, Matt estava na minha frente, me protegendo. Um rosnado saiu de seu peito e o outro homem recuou, quando voltei a olhar para a sala, somente Sam e os outros que o acompanhavam estavam presentes. Matt se virou para mim e pude sentir sua respiração. Ele me beijou na testa e me olhou esperando alguma reação. Sorri em saber que ele estaria de volta, me senti mais uma vez protegida. Ele me pegou em seus braços e eu enterrei minha cabeça em seu pescoço. Senti que ele se movimentou por causa do vento que movia os meus cabelos, o barulho da sirene se tornou distante, mas eu não tinha coragem de olhar em volta, de ver o que estava acontecendo.
Depois de uns minutos, senti que Matt havia parado. Ele me soltou delicadamente, e pude olhar em volta. Estávamos parados em um lugar deserto, cercado por arvores. Uma casa se destacava por sua imensidão, vários carros estavam parados em volta da casa. Sam e os outros três, estavam perto de nós, eu tinha muitas perguntas a fazer para Matt, mas poderia esperar. Sam me olhava, esperando talvez, que eu me pronunciasse, ele havia me avisado do perigo e eu não tinha o ouvido. Mesmo achando que tudo o que estava acontecendo fosse uma grande loucura, algo dentro de mim começava a se manifestar, e se fosse verdade? Até que ponto, a impressão de que conhecia Sam estava ligado a toda essa historia?
- Vamos Anne, está frio aqui fora. – Matt pegara minha mão e andava em direção a casa.
Acompanhei Matt e os outros fizeram o mesmo. Reparei que a mulher que estava junto a nós, pegou na mão do homem loiro alto. Eles passaram a nossa frente e quando eles entraram pude ver o interior do casarão, ao contrario do exterior rústico, o interior era luxuoso e moderno, com varias TVs e eletrônicos. Meu queixo caiu ao ver a quantidade de gente que estava dentro da casa, dezenas de homens e mulheres se localizavam no hall. No momento em que passei na porta, todo barulho se cessou, o olhar de todos vieram em minha direção. Notei que todos tinham a mesma feição angelical de Matt e Sam, e todos tinham a mesma cor dos olhos. Achei estranha toda essa semelhança. Os quatro subiram as escadas e eu e Matt os acompanhamos. No andar de cima, havia um corredor enorme, com varias portas. Fiquei olhando tudo, cada detalhe, quando a mulher que nos acompanhava, falou.
- Matt, deixa que eu dê a ela outra roupa, ela deve estar com frio. – ela sorriu pra mim. Ela era de longe, a mulher mais linda que eu já havia visto. Seus longos cabelos castanhos desciam em cachos até a cintura. Seu rosto tinha feições angulosas e perfeitas.
Matt segurou mais forte minha mão. A dor em minha nuca aumentou e eu gemi de dor. Minhas pernas ficaram bambas e eu estava caindo quando Sam me segurou pela cintura. Ele me carregou até o final do corredor, ele abriu uma das varias portas e foi me carregando para dentro do cômodo. Os outros vieram logo atrás. O quarto era grande e luxuoso, Sam me deitou na cama e puxou meus cabelos para cima. Senti minha nuca arder.
- Chama o Michael, agora. – disse Sam a alguém que eu não pude ver.
Matt se sentou na minha frente, e segurou uma das minhas mãos.
- Anne você está bem? – disse ele preocupado.
Minha nuca ardia insuportavelmente, mas não queria preocupá-lo.
- Estou bem Matt, só arde um pouco.
- Ela está mentindo. – disse Sam.
Mesmo ainda tonta, dei um jeito e me sentei na cama, olhei seriamente para Sam.
- Você vai falar como faz isso? Ou vai continuar me fazendo de idiota? – disse brava, para Sam.
Ele sacudiu a cabeça. Em um movimento rápido, ele se levantou e andou em direção a porta. Ele olhou para mim, amargurado antes de se retirar.
- Não liga pra ele Anne, ele anda meio estressado ultimamente.
Encostei minha cabeça na cabeceira da cama, minha nuca ainda ardia, mas eu tinha tantas coisas a perguntar a Matt.
Antes mesmo que eu pudesse começar meu questionário a Matt, um homem entrou no quarto acompanhado de Sam e a outra mulher que estivera na minha casa. Ele era igualmente bonito como todos que reparei estarem naquela casa. Seus cabelos eram loiro mel e seus olhos eram do mesmo tom que Matt e Sam. Ele olhou para mim da mesma forma que Sam olhava.
- Anne. – um sorriso abriu em seu rosto ao pronunciar meu nome – soube que você se feriu não se preocupe já chamamos um medico que confiamos.
Sua voz me passava confiança e percebi que ele era uma pessoa importante. Sua voz era imponente e ao mesmo tempo amável. Me senti um pouco desconfortável , queria saber o que era aquele lugar. Um clube pra jovens ricos, ou algo do tipo? Minha mente voou eu pensar o que minha mãe, a quilômetros daqui, falaria quando visse toda aquela confusão em nossa casa.
Perdi minha linha de raciocínio ao ouvir Sam bufar altamente perto de mim. Ele olhava pra mim mais uma vez. O encarei sem desviar o olhar. Michael por sua vez, deu uma ordem que fez Sam desviar seus olhos de mim.
- Saiam todos, quero somente Sam e eu aqui. – imediatamente, como crianças respondendo as ordens de um adulto, todos saíram do quarto. Menos Matt, que contrariou suas ordens.
Michael olhou severamente para Matt, antes que ele pudesse reclamar, Matt começou a falar.
- Não saio de perto dela nem que me tirem a força. Já te disse isso, espero que dessa vez me entenda.
Sam e Michael olharam de cara feia para Matt, porém assentiram. Sam se aproximou da cama e sentou perto de mim. Michael fez o mesmo. Matt olhou para ele, esperando que começasse.

terça-feira, 3 de março de 2009

Capitulo Oito - Farsa

Não era fácil tentar acreditar. Na minha mente tinha entrado em colapso, eu fazia um grande esforço para tentar manter meu corpo em pé. Minha respiração estava fraca, e tudo parecia girar em minha volta. Nunca tinha imaginado que meus pais tivessem tido outro filho, além de mim. Eles nunca me contaram. A voz de veludo, de Sam interrompera meus escassos pensamentos.
- Não é isso que você está pensando, seus pais nunca tiveram outro filho. Na verdade, nunca tiveram um filho.
Ele parecia querer que eu deduzisse algo, mas minha mente trabalhava muito lentamente, eu não tinha condição de lógica nenhuma.
- Você me prometeu que não ficaria desse jeito, fui um idiota em ter te falado isso. Você não estava preparada. Fale algo Anne.
Foi nesse momento que as primeiras lágrimas escorreram por meu rosto, não tinha forças para pará-las. Meu olhar se prendeu ao dele, eu queria saber a verdade. Toda, o porquê que nunca havia escutado nada sobre ele, como ele era meu irmão, como ele me encontrou. Eram tantas perguntas a serem feitas, mas minha voz estava travada na garganta.
O sinal tocou, mas eu não tinha como me mover. Sam me olhava esperando alguma reação. Sua mão estava junto a minha. Era difícil tentar imaginar, aquele anjo tão lindo, sendo meu irmão. Ele me puxava levemente a caminho da escola, mas não conseguia me mover.
- Se vai continuar desse jeito, finja um desmaio, pra sair mais cedo. – sugeriu ele.
Não conseguia falar, mas queria sair dali, queria ir pra um lugar onde ele pudesse me contar tudo, saber a verdade era tudo que eu esperava.
- Você vai saber de tudo Anne, mas, por favor, fale alguma coisa, dá um sinal de vida.
Fechei os olhos procurando acordar de mais um pesadelo. Mas tudo era real, eu estava ali, com Sam. O meu irmão assim como ele dissera. Ele parecia começar a se irritar com aminha temporária mudez.
- Ok Anne, pelo visto já fiz a besteira de te contar, e você não vai sair desse estado de sei lá o que, que você se encontra. Então, você faz o que eu mando, e eu te tiro aqui da escola do jeito vamos se dizer, certo. Promete que vai fazer tudo o que eu mando?
Balancei minha cabeça positivamente. Mesmo estando do jeito que eu me encontrava, quase que paralisada, iria fazer um grande esforço, eu só precisava sair dali, e faria de tudo para conseguir.
- Então ok Anne, quero que feche os olhos e forje um desmaio. Eu vou te carregar até a enfermaria e lá você diz que está assim por que não comeu, e que quer ir pra casa. Já aconteceu isso antes não é mesmo? – ele sorriu sem humor.
Balancei minha cabeça afirmando mais uma vez. Ele se aproximou de mim estendendo os braços. Ele rapidamente me pegou e me suspendeu. Parecia tão fácil da forma que ele fez, como se eu fosse tão leve. Joguei minha cabeça para trás e fechei meus olhos. Sentia alguns pingos da chuva cair no meu rosto enquanto caminhava pela parte descampada do pátio. Depois de um tempo de caminhada, ouvi ele falar que me vira desmaiar perto do pátio, e me pegou no colo, afim de me levar a secretaria. Alguém que parecia algum inspetor do colégio, o acompanhava até a enfermaria.
Percebi que estava na enfermaria logo que adentrei o local, o forte cheiro de álcool me deixava enjoada. Fui colocada em uma maca, e ouvi uma voz feminina dizer que não era a primeira vez que eu estivera nessa situação.
Como na ultima vez, senti um cheiro forte e levantei por impulso, fiquei surpresa por conseguir me movimentar. Coloquei a mão na cabeça tudo parte da encenação.
- Mais uma vez aqui querida? Eu disse que você deveria sempre comer algo.
- Me desculpe. – minha voz estava rouca, mas pelo menos conseguia falar.
- Está se sentindo bem? Pode continuar na escola ou prefere ir para casa?
Olhei em volta, e notei que Sam não estava na pequena sala, como fora parte do acordo que fizera com ele, teria que ir embora, e então, ele me contaria tudo. Estremeci com a idéia, tinha medo do que poderia ouvir.
- Ainda estou meio tonta – menti – teria como me liberar? – coloquei a mão na testa fazendo um pouco de drama.
- Sim querida. – disse ela amavelmente- mas, por favor, tente se cuidar melhor.
- Claro. – sorri para ela.
- Melhoras querida. – disse ela já fechando a porta da enfermaria.
A chuva havia se tornado uma leve garoa. O vento frio bateu em meu rosto, me fazendo tremer. Sam me esperava próximo ao corredor principal. Minha mochila em suas mãos, seu rosto trazia traços de desespero. Movia-me lentamente em sua direção, minha coordenação ainda não tinha voltado completamente. Já ao seu lado, fiz menção de pegar a mochila de sua mão, mas ele a colocou nas costas, e esperou que eu desse o primeiro passo.
Caminhamos juntos até a avenida que dividia a cidade na parte mais urbanizada, com a parte onde ainda havia a floresta nativa daqui e um pedaço da praia. A praia no verão era minha parte preferida da cidade. A mistura de floresta com o clima de praia era fascinante. Sam parou e olhou em direção a pequena estrada que dava direto pra praia, eu estava encolhida de frio.
Sam sinalizou com a cabeça em direção a estradinha, e começou a andar na direção da mesma. Fiquei confusa, perto da praia a temperatura estaria completamente fria, nessa época do ano, sem ser os moradores das luxuosas casas de frente para praia, aquele local era um deserto. O frio insuportável deixava o local inabitável. Mas Sam continuava seguindo seu caminho. Segui-o, o vento gelado começava a bater em minha pele. Apressei meu passo para poder acompanhá-lo.
A pequena estrada estava vazia, assim como a orla da praia. As ondas batiam e a espuma densa formava um manto branco no meio da imensidão do mar. As pedras que eram em maioria na orla, estavam cobertas por uma camada de algas. Um grupo pequeno de gaivotas sobrevoava a orla a procura de algum peixe.
Sam estava parado mais a frente, olhando para mim. Parei ao lado dele, esperando alguma reação. O olhar dele passou por mim, e foi em direção a uma das grandiosas casas que beiravam a praia de Foester. Desviei meu olhar, para a mesma direção que o dele. A luxuosa casa, de cor marfim, era majestosa e passava a imagem de um lugar confortável. Um pequeno jardim formado por rosas vermelhas destacavam a beleza da casa. Visível na garagem estava dois carros importados. Não entendia muito bem desse assunto, mas tinha a plena consciência de que valiam muito. A grade branca que cercava a casa impedia a minha visão do outro lado do local.
Sam retirou uma chave de seu bolso e destrancou a fechadura. Meu queixo caiu naquele instante, não conhecia ninguém que morasse em uma daquelas casas. Cheguei a ouvir boatos que valiam milhões de reais.
Ele me olhou, esperando que eu entrasse na casa. Em outras ocasiões, eu já estaria correndo em direção a parte mais movimentada da cidade, mas desta vez, eu não tinha como negar. Sabia que era errado, entrar numa casa de um estranho, que até uma semana atrás, nunca havia visto em minha vida. Ou tinha? Essa era e pergunta que mais me atormentava. Hesitei ao entrar, mas segui em frente. Algo nele, assim como em Matt, me dizia que eu poderia confiar.
- Pode confiar Anne, não quero mais nada em minha vida, a não ser o seu bem. – sua voz era confiante e mais uma vez ele me surpreendeu respondendo minhas perguntas mentais. Essa era mais uma pergunta que queria resposta. Como ele conseguia isso. Eu devo ser tão fácil de ler?
A casa ainda era mais majestosa de perto, todas as numerosas janelas, tinham detalhes em branco. A porta de entrada dava pra perceber, que era feita da mais luxuosa madeira. Sam abriu a porta e logo pude ver o imenso hall que ficava na entrada na casa. A mobília era formada por poltronas de veludo vermelho, e moveis de madeira mogno que passavam um ar de conforto. Uma lareira dava o toque final.
- Fique a vontade Anne. – disse ele, retirando o casaco.
Eu estava toda molhada, meu cabelo pingava e fazia poças no assoalho de madeira.
- A não ser que você queira pegar uma pneumonia, tire esse casaco.
Na mesma hora fiz o que ele mandou. O local estava quente e confortável, eu não precisaria usá-lo aqui dentro. Entreguei na mão de Sam, que andou em direção a o que parecia a cozinha da casa. Menos de um minuto depois, Sam estava de volta, e ao invés de meu casaco, ele trazia em suas mãos uma manta vinho.
Ele a passou pelas minhas costas, e colocou meu cabelo de lado. Ele parecia se importar tanto comigo, a cada gesto dele. Eu queria acreditar que ele era meu irmão, mas estava difícil. Talvez isso não passasse de um mal entendido e logo tudo estaria normal como antes. Ele pegou levemente a minha mão e me guiou até a lareira, sentei nas almofadas que estavam em volta da mesma. Ele sentou na minha frente, de um jeito que pudéssemos ficar olho para olho. O calor da lareira proporcionava uma sensação agradável na minha pele fria. Sam me olhava intensamente, até que com uma voz suave, falou.
- Que comece a verdade.