sábado, 12 de junho de 2010

Capitulo Vinte e Quatro - Sete dias

Eu não conseguia decifrar nenhuma expressão no rosto dos três quando terminei de contar. A verdade contada em voz alta pareceu muito mais dura para mim. A morte era minha única saída?
Eu senti uma consciência tranqüilizadora tocar a minha e a afastei. Eu precisava de um momento sozinha. Eu olhei para Eve e uma ruga de preocupação havia se formado em sua testa.
- Eu não consigo ver nenhuma solução a nossa frente desta vez. – disse Leonard.
- Mas eu consigo. – disse confiante.
Sam nesse instante se afastou de mim como se eu tivesse acabado de dizer a coisa mais absurda do mundo.
- Nem pense nisso, Anne. Não mesmo.
Eu soltei uma risadinha sem humor.
- É a única solução e você sabe muito bem disso.
- Você está fraca demais. – ele me olhava suplicante.
- E amanha estarei mais, e depois de amanha, mais e mais e mais. Essa situação só vai piorar Sam, vamos acabar com isso uma vez por todas.
- Não Anne, você não entende. – sua voz se tornou um sussurro quase que inaudível, como se aquelas palavras o ferissem profundamente – Você pode morrer Anne. Morrer.
- E irei morrer se não fizermos isso. – ele sabia que isso era verdade e terminou aquela discussão me puxando para um abraço. Eu enterrei meu rosto no seu peito e tentei me convencer que tudo ficaria bem, mesmo sabendo que seria remota a possibilidade de que isso acontecesse.
Alguém bateu na porta, mas nenhum de nós dois fizemos menção de se mover e sair daquele momento. Vendo isso, Eve se levantou e atendeu quem é que estivesse ali.
- Anne? – eu reconheci a voz de Matt. Oh Matt, eu tinha medo da reação dele assim que contassem o que estava acontecendo e desejei por alguns instantes que ele ficasse fora disso tudo. Mas era impossível. Ele teria que saber de tudo, até da minha alimentação extra.
Eu estremeci com essa idéia e enterrei ainda mais minha cabeça em Sam.
- Anne? – seu tom de voz agora diferente notando que algo errado estava acontecendo.
Eu não conseguia dizer nada, então tentei algo que já havia dado certo.
‘’Sam?’’ pensei, tentando me comunicar via pensamento.
Ele me apertou mais forte, em resposta.
“Sam, ele tem que saber de tudo. Conte para ele.”
- Eve vai fazer isso. – ele sussurrou no meu ouvido.
E então eu esperei que ela fizesse. Tentando escutar o mínimo do que ela falava e as reações dele.

Um barulho forte me tirou do meu refugio nos braços de Sam. Me virei para ver uma mesa de madeira que até pouco tempo estava perto da porta do banheiro, despedaçada no chão. Sam me puxou para trás dele de maneira protetora.
- Se acalme Matt.
Desviei meus olhos até ele que parecia confuso e prestes a desmoronar. Tentei dar um passo até ele mas Sam se pôs na minha frente, impedindo que eu andasse.
- Ele não vai me machucar.
- Eu não teria tanta certeza. – disse Sam. Empurrei seu braço, e avancei em direção a ele ignorando o que Sam acabara de dizer.
Eve se postou a minha esquerda, pronta para ajudar se algo acontecesse. Mas nada daquilo me abalou.
Eu andei até Matt sem medo de que ele fizesse qualquer coisa comigo. Seus olhos estavam presos na parede do outro lado do lugar, mas eu sabia que nada ali estava prendendo seu interesse. Segurei seu rosto gélido em minhas mãos, obrigando-o a olhar para mim.
- Matt...
- Eu não posso te perder. – sua voz quase inaudível. Uma lagrima escorreu pelo seu rosto e eu a limpei.
- Você não vai me perder.
Mas nem eu tinha certeza disso.
Sam junto a Leonard me encheram de restrições. Eu não poderia fazer esforço de forma alguma, nem muito menos deixar de me alimentar, da forma normal claro. Mesmo sabendo o quanto aquilo era horroroso, outra parte de mim sabia que eu sentiria falta dessa outra alimentação. Ela me fazia mal e me levava cada vez mais para o abismo da morte, mas eu não podia negar o quão era bom o prazer momentâneo que ela me causava. Fiz de tudo para escapar de pensamentos como estes.
- Sam me falou da ta reunião de hoje a noite. – disse Alex me desviando dos maus pensamentos que resolveram me atormentar novamente de manha.
Eu estava em um dos meus passeios matinais ao quarto de Alex. Eu viera mais cedo dessa vez para contar todos os acontecimentos de ontem a ele. Ele tentou se mostrar paciente, mas eu podia ver a apreensão em seu rosto, provavelmente por parte de que se eu estivesse morrendo, ele também poderia.
- Você está bem. – tranqüilizei-o – Essa droga é só comigo.
Mesmo assim, ele não pareceu tão aliviado depois disso.
- Oh, essa reunião. – disse, vendo sua necessidade de mudar de assunto – Sam está me obrigando a ir.
Ele sentou ao meu lado como de costume.
- Ele pediu para que eu fosse. Mas não sei se estou pronto para sair daqui. – disse ele, apoiando a cabeça na parede e olhando para o teto pensativo.
- Você já está a bastante tempo aqui. Mais quanto demorará a se acostumar, Alex?
- Hey pequena, você é a única que consegue se acostumar tão rapidamente com o fato de ter vários vampiros colados a sua volta. – disse ele sorrindo, e despenteando meu cabelo.
Eu retribui o afeto, sorrindo para ele.
- Já disse que não gosto de ser chamada de pequena. – disse fingindo, sem muito sucesso, uma cara de raiva.
Ele riu de um jeito besta que me fazia sorrir ainda mais.
- Então cresça.
Eu o empurrei e ele fez o mesmo. Afastei o cabelo despenteado do meu rosto. Alex me surpreendeu pegando uma parte do meu cabelo e colocando atrás de minha orelha.
Minha respiração parou alguns segundos, sentindo o toque quente de suas mãos. Droga, o que estava havendo de errado comigo?
Alguém tossiu perto da porta, quebrando o silencio e clima, ambos constrangedores, que havia se formado.
Era Matt, nos olhando com uma expressão indecifrável no rosto. Seus braços estavam cruzados, e seu corpo rígido. Ele cerrou os olhos e logo depois disse que Sam queria falar comigo. Notei que ele alternava o olhar entre Alex e mim.
- Vamos. – disse eu levantando, puxando Matt comigo. Eu não estava gostando nada de seu olhar. Ele permaneceu parado, como uma estatua não se movendo nem um centímetro apesar de eu usando de toda minha força para movê-lo. Ele lançou um ultimo olhar frio para Alex, e começou a me acompanhar. Eu só consegui acenar para Alex, em sinal de despedida.
Matt permaneceu daquele jeito estranho até chegarmos perto do quarto de Sam onde ele parou e começou a me lançar um olhar nada bom.
- O que houve? – indaguei – Até ontem você não estava assim.
- Até cinco minutos atrás eu não estava assim. – disse ele friamente.
- O que está acontecendo com você? Matt?
- O que está acontecendo comigo? Comigo? Tem certeza Anne?
Eu não tive tempo de retrucar sua resposta. Sam apareceu no corredor.
- Algo de errado? – perguntou Sam.
- Não sei, pergunte para ele. – disse, apontando para Matt. Eu estava aborrecida, e tratei andar mais a frente, chegando ao quarto de Sam primeiro.
Sam chegou sozinho. E fechou a porta logo que entrou, deixando a entender que Matt não viria. Sentei na cama, procurando me fazer de despreocupada, mas não funcionou.
- Esqueça isso, Anne. – disse Sam, com um ar divertido no rosto.
- Só queria entender o que fiz de errado.
- Você não fez nada. É somente paranóia do seu namoradinho. – disse ele, parecendo ainda mais divertido.
Pra que isso? Não via graça nenhuma na situação estranha que Matt estava fazendo. Antes que eu pudesse falar qualquer coisa, percebi uma mudança repentina no rosto de Sam, que agora ficara serio outra vez.
- Andei pensando na solução que você me deu ontem.
Demorei um tempo para entender o que ele estava falando. A transformação. Meu coração disparou e pude começar a sentir um leve suor em minhas mãos.
- E então? – perguntei apreensiva.
- Você está certa. A cada dia você fica mais fraca, e cada vez mais fica arriscado tentar isso.
Eu assenti, concordando com a cabeça, incapaz de dizer qualquer palavra.
- Eu farei.
Silencio encheu o quarto e minha cabeça agora estava a mil. Era isso que eu realmente queria certo?
- Mas... – começou Sam.
Eu revirei os olhos. Era claro que havia um ‘mas’, ‘porém’.
- Uma semana Anne. Só preciso desse prazo, e então, farei.
- O que você vai ganhar adiando isso por uma semana Sam?
Ele hesitou.
- Leonard está trabalhando num antídoto. Algo que fará essa sua outra parte morrer aos poucos, até que você se torne humana novamente, fazendo com que seu corpo se torne estável, e você possa ser transformada da maneira certa, sem tantos riscos. – ele fez uma pausa, avaliando minhas expressões – Mas não é nada certo que Leonard consiga, por isso dei esse prazo a ele. Caso funcione, ótimo, caso não...
Era claro que ele não estava nada bem com a idéia de me transformar daquela forma. A possível segunda opção me deixou um tanto aliviada, mesmo sabendo que havia tanto chances dela acontecer, como havia dela dar errado.
- Tudo bem Sam. Uma semana.
Ele sorriu superficialmente.
- Então, você vai na reunião de hoje? – disse Sam, mudando repentinamente de assunto.
- Tenho outra opção?
Dei a Sam um breve sorriso, não conseguia mais que isso. Minha mente só conseguia repetir: sete dias.

O sol estava se pondo e Sam havia me avisado que eu poderia descer a partir daquela hora. Eu estava criando coragem para isso. Socializar era uma palavra extinta no meu dicionário, e eu sabia que nessa tal reunião que Sam dissera, eu teria que fazê-la.
Eve passara mais cedo aqui, pra me ajudar a escolher alguma roupa para usar. Aquilo me lembrou Louise, e senti um leve aperto no peito. Mas eu sabia que Eve não estava lá somente para me ajudar a escolher algo para usar, por que quem se importa com isso? Eu estava muito bem com meus jeans e moletons.
Todo tempo que ela permaneceu aqui, eu sentia a consciência dela de encontro a minha. Sam a mandara vir me checar, tinha certeza. Fui convencida, ou melhor, obrigada a ir com uma roupa que eu nunca pensaria em usar. Um vestido estampado com minúsculas flores lilás e azul, que eu achei curto demais e convenci Eve de me deixar ir com uma calça apertada (argh!) por baixo. Ela escolheu sapatilhas praticamente do mesmo tom que o vestido, e um cardigan branco com delicados botões.
O resultado não ficou tão ruim, mas mesmo assim, não conseguia me ver ali. Novamente, parecia tão diferente e distante daquela antiga Anne.
Alguém bateu na porta, e logo depois Sam entrou.
- Pronta?
Dei uma ultima olhada no reflexo do espelho e assenti.

Por mais que eu estivesse incomodada era impossível eu não apreciar como conseguiram transformar o hall que antes parecia algo do século passado em um ambiente de festa descolado. Metade do lugar estava repleto de cadeiras e mesas, estas estavam forradas com um pano prata e tule branco. Varias luzes coloridas estavam instaladas perto delas dando cores diferentes a cada minuto.
Do outro lado, bem o outro lado se tornara uma pista de dança com vários efeitos de luz. A musica estava tocando a todo vapor, o chão estremecia de tão alta que estava.
- Reuniãozinha, RÁ! – disse brava olhando para Sam.
- Ei, relaxa. De verdade. Você precisa disso. – ele estava sorrindo e aquilo me agradou.
Reparei em suas roupas. Ele usava uma cala jeans escura, uma camisa branca de botões e um blazer preto aberto.
- Eve? – perguntei automaticamente.
Ele abriu ainda mais seu sorriso.
- Sim. Eve.
Tentei encontrar em meio a multidão Matt. Eu não gostei de como as coisas estavam entre a gente.
- Matt não chegou. Ele estava muito irritado e saiu pra correr pouco tempo atrás. – lancei a Sam um olhar irritado, e ele entendeu o recado. – Desculpe, não consigo evitar.
- Sam? – uma voz desconhecida gritou do meio da multidão.
Era um garoto, mais ou menos da idade de Sam, loiro e baixo. Ele piscou e sorriu abertamente para mim.
- Espere um minuto Cameron.
Ele acenou e voltou para onde a maioria estava.
- Tenho que conversar algumas coisas com ele. – Sam parecia hesitante – Você vai ficar bem sozinha?
Revirei os olhos.
- Claro Sam, como eu poderia me machucar dançando e conversando com vários vampiros?
- Seu senso de humor melhorou consideravelmente. –disse ele, brincando.
- Que bom, não?
Ele não respondeu. Senti uma inquietação em seus movimentos.
- Diga. Te conheço o bastante para saber que algo te incomoda, Sam.
- Não caia na tentação, está bem? – disse ele, como um jato.
Demorei um tempo para entender e foi um casal de vampiros perto de onde estávamos que me deu a resposta. Ambos seguravam garrafinhas de vidro vazias. Eu respirei fundo.
- Certo Sam. Sei me controlar. Agora vá, ficarei bem. – disse, tentando manter meu rosto sem expressão.
Ele dessa vez foi, mas ainda não muito convencido em me deixar sozinha. Antes de chegar no ultimo degrau da longa escada, ele se virou, dessa vez com um sorriso tímido no rosto.
- Tem uma surpresa escondida por ai para você. – e depois voltou a andar em direção a Cameron.
Uma surpresa? Que tipo de surpresa? Desci os degraus rapidamente, com a curiosidade a toda.
Eu procurei pelo salão inteiro, olhando até mesmo no chão a procura de o que quer que fosse que Sam falara. Decepcionada, agarrei o frio colar que pendia no meu pescoço e comecei a andar, procurando algum lugar para ficar, ignorando como sempre, os olhares que eram dirigidos a mim.
Eu estava prestes a me sentar em uma cadeira vazia perto da entrada onde pudesse enxergar o lado de fora, quando notei alguém sentado sozinho próximo de onde eu estava. Era Pablo. Seu rosto estava abatido e não ele não se parecia nem um pouco com aquele cara alegre que eu havia conhecido. Ele parecia... Mais velho. E cansado.
Sentei ao seu lado, não sabendo se estava fazendo o certo ou errado.
- Hey Anne. – ele me deu um sorriso fraco, nada comparado aos de antes.
Eu acenei com a cabeça, começando a ter certeza que foi um erro ir falar com ele. Aquilo só me deixaria mais mal em relação ao que havia acontecido.
- A culpa não foi sua Anne. Nem minha, nem de ninguém. Ela só fez as escolhas erradas. – disse Pablo, olhando diretamente para mim pela primeira vez. Ele não parecia convincente dizendo isso.
- Lê mentes também?
Um breve sorriso passou novamente pelo seu rosto.
- Não preciso ler mentes para ver isso em seu rosto. Tente parar de se culpar pelas coisas que acontecem.
- Vou tentar. – disse sabendo que seria quase impossível eu parar de me culpar com as coisas que aconteciam.
Eu começava a entrar novamente em meus pensamentos sobre meu destino quando Pablo me desligou deles.
- Ei, parece que seu amigo finalmente tomou coragem para descer. – ele comentou, apontando para o canto oposto de onde estávamos.
Demorei alguns segundos pra realmente entender que Alex estava ali, misturado com várias pessoas. Eu podia sentir um sorriso bobo se espalhando pelo meu rosto. Mas ele não durou nem um segundo após perceber com quem ele estava. Luke e seu grupinho idiota.
Mesmo tendo se mostrado completamente diferente ontem, após o que havia acontecido, minha opinião sobre ele não havia mudado completamente e ver Alex com ele, e parecendo divertir-se.
- Eu... Eu preciso ir. – disse levantando abruptamente.
- Se cuida Anne. – disse Pablo, parecendo confuso com a minha reação.
- Você também.
Eu cruzei o salão em questão de segundos, forçando um sorriso amigável no rosto, que logo se desfez ao reparar na expressão provocadora que voltara ao rosto de Luke. Alex diferentemente sorria abertamente.
- Você tinha razão, e eu finalmente desci! Gostou da surpresa? – disse ele assim que estava perto o bastante para ouvir apesar da musica alta.
Eu não respondi, olhando furtivamente para Luke. A garota loira novamente atracada com ele, e me olhando com certo desprezo. Mas eu a ignorei.
- O que nos dá a honra de sua presença? – disse Luke, usando o tom mais odioso possível em sua voz.
- Vamos Alex. Ele não é uma boa companhia.
Alex continuou parado onde estava, com uma expressão confusa, tentando notar se havia perdido algo na historia. Luke largou a garota loira e deu alguns passou na minha direção ficando a poucos centímetros de mim.
- Não sou uma boa companhia, huh?
- Em geral quando você está com seus amiguinhos, usando esse tom de voz babaca e esse sorriso odioso, sim... Você é uma má companhia.
Ele soltou um riso e torceu a boca fazendo uma careta.
- Você se arrisca muito, sabe disso? – eu sabia que não demoraria a ele jogar na minha cara as coisas que haviam acontecido ontem. Minha expressão desafiadora vacilou e ele se aproveitou disso chegando mais perto e falando num sussurro.
- Eu te prometi que não faria, e não vou. Só estava testando seu nível de paciência.
Trinquei os dentes e dei um passo para trás, aumentando o espaço entre a gente.
- Ótimo, espero então que tenha notado que ele é baixo.
Eu lancei um ultimo olhar zangado a ele, e me dirigi até Alex que continuava com uma expressão confusa. Eu acenei para que ele me seguisse, e ele fez não falando nada até que eu sentasse numa mesa do outro lado do salão perto de onde Pablo estava, minutos antes. A mesa agora vazia.
- Você e Luke, não se dão então. – afirmou Alex, sentando numa cadeira ao meu lado.
- Ele gosta de fazer um papel de líder na frente dos amiguinhos dele.
- Ele não me pareceu ser má pessoa na verdade. – disse ele cauteloso – Sam foi com ele mais cedo no meu quarto e ambos conseguiram me convencer a sair de lá.
- Foi bom você ter descido. – disse sinceramente, sorrindo. A raiva começava a se dissipar e finalmente consegui relaxar.
- Ele tem uma maneira peculiar de pensar.
- Ele quem?
- Luke. – disse Alex olhando com curiosidade para os vampiros dançando na pista.
- Temos realmente que falar dele? – disse voltando meu corpo em sua direção – Ele é um babaca.
Alex virou para mim com uma expressão pensativa no rosto.
- Desculpe, não vamos falar se você não quiser. Eu só fiquei intrigado com algumas coisas que ele me disse.
- Que coisas? – perguntei relutante.
Alex fez uma careta antes de continuar.
- Sobre se transformar... Em um deles. – ele acenou levemente em direção a pista de dança.
- Ah.
Eu abri a boca para falar alguma coisa, mas fechei logo em seguida. Estar com Alex me trazia de volta ao meu mundo antigo e falar de vampiros com ele era no mínimo estranho. Nós éramos humanos, os verdadeiros peixes fora d’água daqui por que mal ou bem, o resto dos humanos que aqui viviam, tinham sido criados juntos a eles e estavam acostumados com as coisas que aconteciam aqui.
- Luke é aficionado nisso realmente. – disse por fim.
- Ele me perguntou se era isso que eu queria também, e por alguns segundos eu considerei essa opção. – confessou-me.
- Você não precisa fazer isso. Você não tem nada que te prenda a esse mundo. – disse, cortando um guardanapo em pequenos pedacinhos inconscientemente.
- Talvez não. Talvez eu esteja ligado mais do que posso querer. – sua voz falhava um pouco e percebi que ele já havia pensado nisso diversas vezes, pela forma que falava.
- Você tem uma opção. Eu não. – eu engoli em seco antes de prosseguir. – Uma semana. Daqui a uma semana eu serei um deles.
Eu avaliei cautelosa a sua expressão e por mais incrível que pareça, ele não pareceu surpreso com o que eu havia dito.
- É a sua única opção não é?
Eu assenti com a cabeça.
- Diferente de você, que tem mais de uma. Nada te prende a esse mundo. – repeti.
Ele franziu o cenho e me olhou de uma forma intrigante.
- Talvez haja alguém que me prenda.
Meu coração parou por alguns segundos sentindo minha cabeça dar mil voltas.
- Eu não deveria ter dito nada disso. – disse ele se levantando – Eu...
Eu segurei seu braço não o deixando sair dali. Eu estava prestes a falar qualquer coisa que minimiza-se a situação quando um casal saindo da pista passou pela nossa frente. A mulher, vampira claramente, esbarrou em uma das mesas e deixou cair o que segurava na mão.
O barulho foi abafado pela musica. Mas poucos segundos depois eu pude identificar o que havia caído. O chão perto de onde eu estava em poucos segundos assumiu uma tonalidade carmim e o cheiro doce chegou até mim.
Eu estava com a guarda baixa, e tinha sido pega de surpresa. O cheiro irresistível começou a tomar conta de mim me fazendo perder meus pensamentos pela metade e me concentrar somente naquilo. Meus pés deram um passo automaticamente me afastando de Alex.
Minha mente clareou poucos instantes antes de eu dar outro passo em direção ao liquido e foi o suficiente para eu colocar a minha cabeça no lugar e repetir que aquilo era errado. O ambiente a minha volta começou a ter sentido novamente e consegui virar para onde eu estava antes.
Alex não pareceu notar o que havia tirado minha atenção, provavelmente achando que eu só estava tentando digerir o que ele me dissera. Mas não tinha sido nada demais. Ou tinha? Ele só estava confuso.
- Preciso comer alguma coisa. Vamos. – disse dando a ele um sorriso fraco, mas encorajador.
Sam deixara algumas coisas preparadas na geladeira. Alguns sanduiches bastaram para nós dois. Por mais que a poucos minutos eu tivesse me sentido extremamente estranha com o que Alex dissera, agora mesmo com nós dois a sós na cozinha, eu não me sentia constrangida.
- Seu namorado não está aqui porque? – perguntou Alex enquanto voltávamos ao barulho da festa que agora parecia ter reunido mais gente.
- Faço a mesma pergunta.
Alex entendeu que eu não queria falar sobre o assunto e fez bem. Eu iria conversar com Matt serio assim que ele chegasse. Se ele deixasse de ser criança e viesse falar comigo, é claro.
Andamos sem rumo. Não sabendo o que fazer agora. Alex virou e ficou de frente a mim. Um sorriso divertido brotando no canto de sua boca. Ele acenou de leve em direção a pista de dança, esperando que eu viesse a entender o que ele queria.
- Oh não – disse balançando a cabeça, com uma expressão de choque – Isso não.
Seu sorriso aumentou e eu dei as costas começando a voltar em direção a cozinha pelo caminho que viemos. Ele me puxou pelo ombro de volta.
- Por favor, Anne. Vai ser divertido, anda. – ele parecia realmente convencido nisso.
- Não vai ser nada divertido me ver caindo no chão que nem uma pateta.
Ele me jogou um olhar implorativo.
- A não você também não. – abaixei meus olhos até o chão, sabendo que iria ceder.
- Eu não o que?
- Esqueça. Esqueça isso e eu dançar, ali. – apontei em direção a pista de dança.
- Por favor. – esse olhar não. Droga, droga, droga.
Eu não retruquei mais nada e Alex viu aquilo como algo bom e cautelosamente começou a me arrastar para pista.
Bom, não sei que diabos deu em mim e eu deixei. Minha mente começou a trabalhar vendo como a última vez que eu pudesse fazer aquilo. E talvez fosse. Daqui a uma semana eu poderia estar morta se as coisas não dessem certo.
Um senso de urgência a me divertir me tomou e eu comecei a dançar junto a Alex que gostou da minha mudança de vontade.
Eu não era o que podia se dizer uma perfeita dançarina e prova disso foi a diversas vezes que eu tropecei e quase cai, para diversão de Alex. Uma delas foi pro causa de Sam que me viu e sorriu surpreso, os poucos segundos que eu me distrai foram suficientes para um desequilíbrio.
E valeu a pena. Não em divertia dessa forma mesmo antes de tudo acontecer. Eu arrisquei dançar e não foi tão mal assim como pensei. Eu agradeci a Alex mentalmente por ter feito aquela proposta, não querendo admitir que ele estava certo.
Mas não precisei dizer nada. Ele notou pelo modo que eu sorria quando ele me deixou na porta do meu quarto já tarde da noite.
- Boa noite, Alex. Durma bem. – disse me despedindo.
- Você também Anne. – ele começou a se afastar e eu esperei ele virar o corredor para fechar a porta.
O cansaço me atingiu logo em seguida. Meu corpo parecia pesado demais para eu conseguir mover sem me cansar. Me adiantei em colocar um pijama quente e confortável e ir direto para cama.
Eu mal havia encostado a cabeça no travesseiro quando uma batida de leve na porta me fez levantar. Eu estava prestes a levantar da cama e ver quem era quando uma voz conhecida preencheu o quarto.
- Anne? Já está dormindo?
Eu encostei a cabeça novamente no travesseiro e levei o edredom até cobrir minha cabeça inteira.
- Não, Matt. E mesmo se eu tivesse você teria me acordado. – disse, satisfeita pelo meu tom de voz demonstrar que eu não estava nada satisfeita.
Ele demorou a responder o que me fez pensar se ele ainda estava ali.
- Posso entrar? – sua voz estava tranqüila. Eu podia odiá-lo pelo modo infantil que ele havia me tratado antes, mas ainda sim era ele. Meu Matt.
- Se quiser.
Eu terminei de falar e no instante seguinte eu o sentia deitar na cama, ao meu lado e me abraçar pelas costas. Ele encostou sua boca em minhas orelhas.
- Me desculpe. Por tudo.
Eu tentei esconder um sorriso que involuntariamente preencheu meu rosto.
- Por ter sido um idiota e me largado mais cedo?
Pude sentir seu corpo ficando mais relaxado ao ouvir minha voz tranqüila deixando de lado a hostilidade.
- Sim. Me desculpe.
- Por ter deixado de ir à festa absurda de Sam mais cedo?
Eu sabia que ele agora sorria mesmo não conseguindo ver seu rosto.
- Sim. Me desculpe por isso também.
Eu puxei seus braços para mais perto de mim.
- Te desculpo por tudo.
Eu bocejei e Matt começou a se afastar.
- Durma. Você está tendo dias cansativos. Precisa de bons sonhos.
Eu me virei pela primeira vez vendo seu rosto iluminado pela Lua.
- Fique aqui. Só essa noite.
- Sam não vai gostar nada disso. – disse ele serio. Mas eu podia jurar que havia diversão em sua voz.
- E desde quando você liga para o que Sam gosta?
Eu não precisei dizer mais nada. Ele deitou novamente na cama, agora entrando embaixo das cobertas que eu estava.
- Mas você precisa dormir.
Eu o abracei fortemente, encostando minha cabeça eu seu peitoral. Me envolvendo no silencio.
- Anne? – sussurrou Matt.
- Sim.
- Eu te amo. – a intensidade com que ele disse aquelas palavras me fez parar de respirar por alguns segundos.
- Eu também.
Eu fechei meus olhos esperando o sono vir e antes que isso acontecesse, minha mente entrou naquele modo replay desagradável das palavras de Alex: Talvez haja alguém que me prenda.

_________________________________________________________________

Oi gente, desculpe a minha falta mais um vez. Escola acaba com qualquer tentativa de vida pós ela HAHAHA mas eu estou fazendo o possivel para conciliar as coisas.
Agradeço mais um vez a todos vocês que lêem meu livro. Agradeço MUITO mesmo.
Queria pedir os favores de sempre. Quem puder comentar falando o que achou, gostando ou não.
Outra coisa é quem lê o blog, se puder segui-lo, seria legal pra eu ter uma ideia de quantas pessoas lêem.
Adorei os comentarios e suposições que vocês escreveram no ultimo capitulo e quem quiser continuar, estamos aê HAHAHAHA :)

Bem, sendo um pouquinho chata, volto a pedir que entrem na comunidade do livro. Se quiserem dar sugestões e etc, pode ser por lá tambem.
http://www.orkut.com.br/Community?cmm=59609542

escrevi tambem um trecho de uma possivel nova historia. é um rascunho apenas.
http://www.orkut.com.br/CommMsgs?cmm=59609542&tid=5474558138078878408&start=1
se puderem comentar tambem , agradeço.

Falta pouco pro final.
Espero que gostem desse capitulo.
Beijos Doces,
Ana Cardoso

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Capitulo Vinte e Três - Bom pesadelo

Era forte demais pra eu conseguir ir contra e eu estava fraca demais para tentar, mesmo sabendo o que viria a seguir.
Mas dessa vez algo diferente aconteceu. Eu não estava na mente de ninguém, nem no corpo de outra pessoa. Eu não estava em lugar nenhum. Era tudo escuro, como eu tivesse fechado meus olhos e eles relutassem em abrir. Porém algo naquele lugar era familiar, não conseguia dizer como, nem por que.
- Bem vinda Anne. – uma voz fria foi soprada no meu ouvido.
O medo começou a me sufocar. Era ele. E ele sabia que eu estava aqui. Mas aqui aonde? Eu afastei esses sentimentos e tentei ser o mais forte possível.
- Onde eu estou? – eu não podia enxergá-lo, mas podia sentir sua respiração próxima a mim.
- Você não reconhece a própria mente? – sua voz trazendo um tom odioso de sarcasmo.
Minha mente? Então era isso. Assim como eu podia visitar a dele, ele podia vir até a minha.
- Você é realmente muito tolinha, pequena Anne.
- Não me chame assim.
Ele riu me fazendo ter arrepios.
- O que você quer? – me arrependi de ter perguntado assim que senti o prazer em sua resposta.
- Queria saber como anda meus sobrinhos. Odeio ser julgado como alguém que só quer o mal da minha família.
- Eu não sou da sua família. Nem eu, nem Sam. Você é um monstro. – minha voz começava a se tornar histérica e tive que respirar fundo algumas vezes para me acalmar.
Aquilo era extremamente insano e impossível. Eu estava dentro da minha mente e conversando com um sádico que queria por qualquer coisa, matar a mim e ao meu irmão. E por que tanta escuridão? Eu queria olhar em seus olhos e dizer tanta coisa, perguntar por que de tudo isso, já que aqui, ele não podia me machucar. Ou poderia?
- Eu não vou te machucar se é isso que você pensa. Eu só queria conversar. – disse ele, com uma calmaria suspeita.
Eu abaixei um pouco a guarda com medo de me arrepender disso.
- Sobre? – perguntei, cautelosa.
- Pelo visto vocês já sabem a verdade sobre Alex. Queria esclarecer de vez tudo para que essa ingratidão termine.
Uma risada breve escapou.
- Ingratidão? Como...
- Eu te salvei Anne, salvei você e aquele menino.
A frase demorou para fazer sentido. O silencio pareceu me sufocar duas vezes mais do que o medo que eu sentia pouco tempo antes. Eu passava e repassava tudo que Sam havia me contado.
- Você não me salvou de nada.
Foi a vez dele rir. Aquilo me deixou confusa.
- Sam me contou... – comecei a falar mas ele me interrompeu.
- Sam não sabe de nada. Ele era pequeno demais pra lembrar de qualquer coisa. O que ele conta... O que ele te contou, foi o que ele ouviu de outras pessoas.
Permaneci calada, esperando que ele continuasse.
- Alex tinha sofrido um acidente grave de carro, eu o salvei da morte.
O acidente... Ele tinha salvado Alex.
- Você foi algo diferente. Você estava doente demais e seus pais se negavam a ver isso.
- Você matou eles. – gritei reunindo todas minhas forças. Ele hesitou antes de responder.
- Sua mãe era um erro. Seu pai nunca deveria ter a conhecido. – disse ele friamente.
- Só por isso você a matou? Porque você a considerava um erro?
- Não vim aqui falar sobre minhas decisões passadas.
Eu queria gritar, pedir explicações, mas não conseguia. Era tudo muito estranho pra acreditar.
- Você disse que eu estava doente. – afirmei, tentando convencê-lo a voltar ao que falara antes.
- Sim, disse e sim, você estava. Você era frágil demais, seu corpo desde pequena não aceitava seus genes vampiros.
- Meus genes vampiros? Foi você que fez isso comigo! – eu estava cada vez mais confusa.
- Você é filha de vampiros. Você nasceu com uma pequena parcela desse genes. O que eu fiz foi outra coisa. – a frieza em sua voz era o que mais me causava ódio.
- Como você sabia que eu era doente, ou qualquer coisa? Sam me disse que você não sabia nem onde estávamos.
Ele riu daquela forma odiosa novamente.
- Já disse que Sam não sabia de nada. Eu sabia onde vocês estavam desde o momento em que Pietro fugiu com sua mãe.
- Mas...
- Anne, já disse que não vim até aqui para falar sobre essas coisas. Só queria esclarecer que eu não sou tudo isso que falam para você. – ele hesitou – E queria saber como você estava.
Ele não iria me convencer de que era bonzinho ou coisa do tipo, mas algo dentro de mim se manifestou. A duvida.
- Por que eu? Por que você tinha que fazer isso comigo? – choraminguei. Eu não gostava de demonstrar fraqueza perto dele, mas eu precisava de uma resposta.
- Você estava morrendo. Eu tive que fazer isso. – seu tom de voz mudara consideravelmente – Fiz primeiro com Alex, e havia funcionado. Você estava precisando de ajuda então testei em você também, mas tem algo errado.
- Algo errado?
- Naquela noite, percebi que seus genes vampiros evoluíram muito mais do que deveriam. Você esta fraca demais para tudo, e isso só tende a piorar.
- Sam... – eu pensei duas vezes antes de prosseguir, era certo eu falar essas coisas pra ele? Mas eu queria a verdade, e uma solução também, então precisava ser sincera – Eu estou me alimentando, de... Sangue.
- Enlouqueceu de vez? Isso só vai piorar as coisas. Você está alimentando o lado errado.
Aquilo fazia sentido e me desesperou ainda mais. Eu só estava piorando a situação. Mas eu iria conseguir parar com aquilo? Eu havia me tornado dependente daquela garrafinha.
- O que vai acontecer comigo? – perguntei desesperada.
- Isso só tende a piorar. Seu lado vampiro vai se manifestar cada vez mais. Você precisa ser transformada.
- Sam nunca vai permitir. Eu estou fraca.
- E vai ficar cada vez mais. –repetiu ele.
Droga, droga, droga.
Algo começou a acontecer, eu pude sentir sua presença ficando mais fraca.
- Eu não posso aguentar mais. – sua voz agora distante.
Eu só queria mais uma resposta.
- Espere. Só quero saber como você conseguiu isso. Me transformar, transformar Alex.
- Uma grande transfusão de sangue. Esperava que Sam descobrisse isso, mas vejo que meu sobrinho não puxou a inteligência do lado paterno.
- Mas se o sangue vampiro entrar em contato com o humano, isso me transformaria. – disse, confusa. Eu chegara a essa conclusão sozinha, graças ao que Michael me disse.
- Não se eu fizesse aos poucos.
E logo depois, eu fui puxada de volta.
Uma voz gritava meu nome sem parar. Eu abri meus olhos lentamente e pude ver o rosto de Sam me olhando preocupado.
Eu estava suada e gelada. Meu corpo doía, e eu me sentia cansada.
- Graças a Deus. O que aconteceu?
Eu ia começar a falar quando senti um forte gosto de ferrugem na boca, e um liquido quente escorrendo pelo meu pescoço. Olhei para Sam temendo que fosse o que eu pensava e o olhar dele confirmou.
Eu nunca o tinha visto daquela forma. Ele parecia faminto. Sam se afastou rapidamente indo em direção a porta.
- Precisamos levar ela para Leonard. – uma voz conhecida disse. Mas espera... Era Luke! O que ele estava fazendo ali?
- Ele tem que vir aqui. Não tem como eu levar ela até ele, e os que estão circulando pelos corredores?
- Libere os corredores, eu carrego ela.
Em seguida eu ouvi a porta batendo e uma gritaria acontecendo do outro lado dela.
- Ok, fiquei quieta. – a voz de Luke estava do meu lado. Senti meu corpo sendo levantado. Eu não conseguia ver as coisas com clareza mas podia ver alguns quadros passando em minha volta.
- Droga. – consegui dizer antes de chegarmos a uma sala branca que me lembrava a da outra casa.
Luke me deitou numa maca e Leonard veio até onde eu estava.
- Anne? Consegue me ouvir? – disse o medico.
Fiz que sim, com a cabeça.
Ele acendeu uma luz e pediu para que eu a seguisse com os olhos. Ele me entregou uma toalha úmida e pediu para que eu me limpasse. Minha blusa estava ensopada de sangue então não adiantou muito eu tentar limpar.
Sam estava do outro lado da sala, como uma pedra sem se mexer. A reação dele no meu quarto me assustara. Mas eu evitava pensar nisso caso ele estivesse-me ‘ouvindo’.
- Você está bem? – Luke me perguntou parecendo preocupado. Ele ia me convencer até eu cair na real, Luke... Preocupado... Comigo?
- A sim claro, tirando pelo fato de meio litro de sangue resolveu sair de mim a 5 minutos atrás, estou ótima. – disse sarcasticamente.
Ele pareceu ofendido e fingiu não ter notado minha hostilidade.
- Toma, você está fraca. – Leonard me entregou uma garrafa.
Eu estava prestes a protestar e dizer que aquilo era insano e que estava me fazendo mal, mas o cheiro veio até mim e minha mente só conseguia focalizar o liquido escarlate dentro dela.
Era errado? Sim. Só iria me prejudicar? Sim, também. Mas naquele momento eu necessitava daquilo. Eu bebi em um gole a garrafa inteira, eu precisava de mais e Leonard me deu. Três garrafas ao todo. Eu nunca tinha bebido tanto assim.
Como sempre, depois de terminado, me enchi de culpa. Monstro, aberração. Esperei que Sam viesse para o meu lado e me abraçasse até minha culpa passar. Mas Sam continuou imóvel olhando fixamente para Leonard.
Do outro lado da sala, percebi outro olhar em minha direção. Luke! Droga. Droga. Droga. Ele tinha visto tudo é claro, só tinha essa explicação para o olhar confuso dele.
- Sam? Vamos conversar lá fora. – o tom na voz de Leonard me deixou preocupada. Assim que a porta se fechou, eu virei para Luke.
- Nenhuma palavra do que você viu aqui. Nenhuma está me ouvindo? – ameacei.
- Você é humana. Como...
- Nenhuma palavra! Me prometa Luke, que eu te explico! – repeti.
- Eu prometo. – ele se sentou em um banco, mais perto de onde eu estava.
Hesitei antes de prosseguir. Era certo contar para ele? Mas eu já havia prometido, e ele tinha visto coisa demais para arriscar quebrar uma promessa.
- Eu sou meio humana, meia vampira.
- Isso é impossível. – disse ele incrédulo.
- Não, Não é.
Ele ficou calado, me olhando de uma forma estranha.
- Você não vai contar a ninguém não é? – insisti.
Ele fez que sim com a cabeça.
- Ninguém iria acreditar mesmo.
Eu sabia que não. Senti uma urgência em mudar de assunto.
- O que você estava fazendo no meu quarto? – o questionei.
Ele relaxou um pouco a cabeça e fez uma tentativa falha dos sorrisos debochados dele.
- Estava conversando com Sam, e esperando meu pai...
- Seu pai? – o interrompi.
- Oh Anne, sabe... Eu tenho pai... Mãe! Nunca te contaram a historia da cegonha? Sementinha? Ou qualquer outra? – pronto, ele tinha voltado ao normal.
- Eu quis dizer, quem é seu pai! Estúpido. – disse, revirando os olhos.
- Meu pai é Michael – disse ele cauteloso – Achava que você sabia.
Espera. Michael? Pai de Luke?
- Não, não sabia. – admiti.
- Como eu estava dizendo antes de você me interromper. Estava conversando com Sam, quando ouvimos você gritar. Você estava se debatendo como louca, depois se calou. Por alguns instantes pensei que estava morta. – disse ele.
Eu não me lembro de ter gritado em nenhum momento, mas talvez todo aquele esforço que inconscientemente eu estava fazendo para manter minha ligação com a mente de meu tio, estava fazendo com que meu corpo sentisse dor.
- Você não parecia ser muito fã de Sam. O que queria conversar com ele? – eu esperei uma resposta malcriada vindo dele.
- Sam tem que autorizar minha transformação.
Eu engoli seco.
- Você já fez sua escolha. – afirmei.
Ele riu.
- O que foi? – perguntei confusa.
- Você acha mesmo que há uma escolha? Pense Anne, você largaria tudo o que tem, toda sua família, pra viver com os humanos?
Eu balancei a cabeça.
- Isso é tudo uma forma pra dizer que não somos forçados a isso tudo. Mas quer saber? Eu não vejo a hora de me tornar um deles.
A forma doentia na voz dele me assustou.
- Eu tenho medo. – admiti.
Ele me olhou compreensivo.
- Você andou muito tempo com humanos, e eles possuem muitas historias sobre nós. Era de se esperar que você tenha medo.
Ele tirou o cabelo rebelde dos olhos e sorriu de uma forma estranha para mim. Eu desviei o olhar em direção a porta tentando decifrar alguns dos sussurros que eu podia ouvir. Uma pergunta ficou na minha cabeça.
- O que mais te atrai para essa vida? – a pergunta escapou. Me virei novamente em sua direção.
- Tudo. Poder, força... Imortalidade. – ele respondeu como se aquilo fosse obvio.
- Imortalidade? Como vocês são imortais? Meus avós morreram.
Ele sorriu de uma maneira nada agradável.
- Somos imortais até que cortem nossas cabeças. – ele disse isso naturalmente.
Um arrepio passou pela minha espinha só de imaginar cabeças rolando. Antes que eu pudesse perguntar mais qualquer coisa a Luke, a porta se abriu e a expressão de Sam fez com que meu coração parasse por alguns segundos.

Lágrimas rolavam por seu rosto, ele parecia muito mal. Eve estava ao seu lado segurando sua mão e pedindo para que ele mantivesse a calma. Meu peito doeu só de vê-lo daquela forma. Eu queria abraçá-lo e dizer que estava tudo bem, mas minha camisa ainda estava ensopada de sangue e lembrei como ele havia me olhado antes.
Leonard pediu para que Luke saísse da sala. Ele hesitou provavelmente sentindo que algo estava errado, assim como eu. Relutante acabou obedecendo e saiu dali. Antes ele acenou de leve com a cabeça, mas eu estava nervosa demais para responder.
- Se troque, temos que conversar. – Eve veio até mim e me entregou uma camiseta de malha preta e um moletom limpo. Ela apontou pra uma porta perto da maca e sorriu nada convincente para mim.
Eu sabia que tinha algo errado.

Tentei tirar ao máximo o cheiro de sangue que parecia entranhado na minha pele. Era engraçado o quanto aquele sangue não tinha nenhum chamativo para mim.
Quando eu sai do pequeno banheiro todos olhavam para mim. Meu rosto formigou e eu abaixei a cabeça, indo me sentar na maca novamente. Sam me surpreendeu vindo até meu lado e se sentando. Ele parecia mais calmo, e algo me dizia que isso era devido a Eve. Eu sabia como era o efeito calmante dela.
Sam franziu o cenho e segurou minha mão. Eu me senti mais tranqüila sentindo sua pele gélida.
- Precisamos conversar Anne. – seu tom de voz fez meu coração se apertar – Tem algo muito errado com você minha pequena.
- Nada daquilo que estávamos fazendo funcionou. Na verdade, no principio, tivemos resultado, mas agora a situação só piora Anne. – completou Leonard.
- Não entendemos o que está acontecendo, Anne. – recomeçou Sam – Se ao menos soubesse o que...
- Eu sei. – o interrompi.
Eu pude ver a surpresa no rosto deles. Eve pelo contrario continuou com seu rosto tranqüilo como sempre.
- Você sabe? – perguntou Sam com um tom de esperança.
Eu soltei minha mão que estava junto a dele e abracei meu joelho buscando forças para contar meu sonho.

_________________________________
obrigada pelos comentarios, gosto muito de ver as opiniões de vcs!
que tal vocês darem opinião do final que vocês querem? quem sabe alguem acerta HAHAHAHA
e sim, já estamos entrando na reta final! faltam uns 5 capitulos no máximo :O
s2

sábado, 6 de março de 2010

Capitulo Vinte e Dois - Decisões

Sua camisa ainda estava aberta expondo aquela horrível cicatriz. Eu tentava não olhar para ela, inutilmente por sinal. Seu cabelo estava desarrumado e embaraçado em varias partes. Ele parecia exausto e varias olheiras provavam isso.
Ele sorriu assim que me viu.
- Anne... – eu gostava quando ele falava meu nome desse jeito que misturada ternura com devoção.
Eu apressei meus passos em sua direção. Sentei ao seu lado afagando seu rosto.
- Eu senti sua falta. – disse ele beijando a palma da minha mão, fazendo cócegas.
- Eu também.
Depois de vários minutos com meu olhar preso nele, eu olhei em volta. Estávamos em uma cozinha realmente grande e impecavelmente limpa. O local estava praticamente vazio a não ser por nós dois e um homem cozinhando a poucos metros de nós. O cheiro estava maravilhoso e isso só me fez sentir mais fome. Ele tirou algo do forno e trouxe na minha direção, colocando um prato na minha frente e logo em seguida saindo pela porta dupla que a pouco eu havia entrado.
Eu olhei do prato para Matt e de Matt para o prato tentando escolher uma prioridade. Fazia algum tempo que eu não ficava a sós com ele e comer podia ser... Ele interrompeu meus pensamentos.
- Coma. Sem mais.
Não sei se era minha fome ou a necessidade de acabar logo de comer que me fez comer tão rapidamente. Matt ficou me olhando o tempo todo. E logo depois de terminar e o encarei. Ficamos um bom tempo assim. Duas horas? Dois minutos? Eu perdia a noção do tempo quando ficava ao lado dele. Mas a parte boa, era que minha mente perdia o fio dos pensamentos ruins. Era um conforto ficar ali.
Meu olhar caiu novamente para sua cicatriz horrenda. Meu cabelo da nuca se arrepiou e minhas mãos foram diretamente para sua camisa fechando os botões.
- Dá pra esconder isso. – acrescentei.
Eu estava prestes a fechar o ultimo botão quando ele me puxou mais para perto, quebrando o espaço entre a gente. Eu podia sentir o frio de sua pele.
Ele me beijou delicadamente. E eu retribui o beijo sentindo seus lábios frios no meu. Ele passou as mãos pelo meu cabelo e as descansou ali. Minha respiração começou a ficar ofegante e ele se afastou um pouco.
Eu encostei minha cabeça no seu peito, esperando ouvir suas batidas do coração. Silencio. Aquilo de certa forma me surpreendeu e eu o encarei, ainda perplexa. Ele me olhava confuso.
- Seu coração... – eu fiquei incapaz de terminar a frase, mas ele pareceu entender o que eu queria dizer.
- Não bate desde que eu entrei nessas condições.
Eu engoli devagar essas palavras.
- Então... Então por que você respira? – eu já escutara a respiração tanto dele, quanto de Sam.
- Força do habito.
Outra pausa. Eu o abracei novamente.
- Matt?
- Sim. – sua voz curiosa.
- Será que as coisas vão dar certo alguma hora?
- Queria poder te responder.

Ficamos um bom tempo ali. Daquele jeito, até que meus músculos começaram a doer e Matt propôs que déssemos uma volta em algum lugar.
- Você tem alguma casa da arvore escondida aqui também? – brinquei.
Ele sorriu balançando a cabeça.
- Não. Porem aqui tem lugares mais interessantes a ir. A cavalo por exemplo.
- Cavalo? – eu podia sentir meu rosto iluminar com essa palavra. Cavalos. Minha paixão desde pequena. Única coisa que eu não era desajeitada o bastante para não conseguir fazer. Um leve arrepio passou por mim ao lembrar da ultima vez que eu estive em cima de um cavalo. Procurei abafar a lembrança o mais rápido possível.
- Amanha. Acho que Sam não se importaria se déssemos uma volta dentro da propriedade. Ou melhor, acho que ele se importaria. – ele pontuou a ultima frase com uma pitada de sarcasmo.
- Oh, eu tenho certeza que ele se importaria.
Matt me levou em direção a porta de entrada. Mas antes que saíssemos pela porta, ele me puxou em direção a escada. Eu o encarei confusa.
- É melhor pegarmos um agasalho pra você. A temperatura está caindo e provavelmente fará bastante frio mais tarde. – ele fez uma pausa – Não estamos mais em Foester, Anne.
Pensando bem, a ficha não havia caído totalmente.
- Mas parece que um pedaço de Foester não quis me deixar. – disse amargamente.
Matt fez uma careta e continuou a andar.
- Ele parece que não vai aceitar isso tudo muito bem. – entendi ‘ele’, por Alex.
- Ele parecia calmo quando conversamos.
- Calmo?
- Bem, calmo dentro das condições. Não é qualquer um que descobre que vocês existem e começa a abraçar e beijar um de cara. – brinquei.
Matt não parecia ver humor nisso. Encerrei o assunto e continuei a caminhar. O corredor estava vazio e eu já havia decorado boa parte do caminho até meu quarto, me guiando através das pinturas e estatuas exóticas. Preferi usar o termo exótico ao invés de bizarro, soava mais sutil.
Eu me apressei indo direto ao meu closet. Estava prestes a abrir a porta, quando ouvi Matt falar.
- É incrível a semelhança entre vocês duas.
Hesitante, me virei em direção a Matt. Eu não precisava dos dons de Sam ou Eve pra saber do que Matt estava falando. Ele encarava o quadro da parede com uma grande curiosidade.
Eu sorri e fui logo procurar um casaco usável.
Matt me levou para o lado de fora e vários olhares acompanharam a nossa pequena caminhada até um banco mais afastado de tudo. Pensei no que Sam havia dito de eu virar o centro das atenções e tentei parecer o mais natural possível.
- Eu gosto dessa atenção, do mesmo jeito que você gosta dela. – disse Matt sentando. Ele fez uma careta e me puxou para o seu lado.
- Eu tenho que aprender a lidar com ela. – disse tanto pra mim quanto pra ele.
Ele sorriu passando as mãos pelos meus ombros. Eu fiquei um tempo observando todos ali. Alguns resolveram continuar a fazer o que estavam fazendo antes de passarmos outros continuavam com os olhares fixos em mim e às vezes faziam algum comentário com alguém do lado. Indiferente a qualquer coisa estavam àqueles três que eu observei de manha.
- Quem são aqueles três? – perguntei a Matt. Eu podia imaginar que eles eram humanos por sua aparência.
- Ah... – ele cerrou os olhos – Gian, Iuri e Luke. Mas eu prefiro chamar eles de ‘bando de idiotas’. – mesmo com a expressão amarga, Matt me deu um breve sorriso.
Eu aguardei que ele explicasse o por que daquilo. Ele simplesmente deu nos ombros e falou rispidamente.
- Nunca nos demos bem.
Eu me contentei com aquela resposta. Algo dentro de mim soava como uma antipatia por eles. Continuei quieta, olhando para todos e dando um breve sorriso pra quem respondia meu olhar com um. Notei que a quantidade de vampiros era bem maior do que vampiras. E eram muitos, muitos mesmo. Eu me sentia como em um bastidor de algum desfile de moda com modelos excessivamente lindos. O que era difícil de se acostumar era a falta de roupas. Vampiros sem camisa passavam de um lado por outro na minha frente, e vampiras usavam em sua maioria um top de tecido fino. Eu mesmo usando um casaco estava começando a sentir realmente frio. Uma brisa gelada raspava em meu rosto.
Eu me encolhi e me aproximei mais de Matt.
- Eu disse que estaria frio. – ele começou a desabotoar a camisa e eu o parei.
- Você tem sérios problemas em deixar essa droga fechada? – disse forjando uma cara de raiva que não foi convincente.
Ele deu aquele sorriso deslumbrante que fazia meu coração parar. Ele se aproximou lentamente de mim, quebrando o pouco espaço que nos separava e encostou seus lábios no meu de uma forma delicada. Ele sorriu ainda mais deliciado quando se afastou alguns poucos centímetros.
- Bom, agora sim estamos dando o que falar.
Eu olhei rapidamente para onde todos estavam parados anteriormente e bom, lembram daqueles poucos que tinham resolvido me deixar de lado e retomar o que estavam fazendo? Agora eles haviam resolvido voltar a me olhar. Eu sentei rapidamente e sentindo meu rosto formigar.
Desviei rapidamente meu olhar dos meus joelhos e olhei para Matt que estava com aquele cara de ‘Tanto faz essas caras de OOOH’. Eu não tinha coragem de olhar para frente. Foi quando eu ouvi uma gargalhada vinda de não muito longe. Senti Matt se mexendo desconfortavelmente do meu lado.
Isso me forçou a fazer o que eu menos queria, que era olhar para frente. E assim que fiz, uma onda de surpresa me atingiu.
Aqueles três, os humanos daqui, estavam vindo em nossa direção. Um dos morenos estava poucos passos a frente dos outros. Todos possuíam um ar arrogante e presunçoso e eu não gostei nada disso.
Em um piscar de olhos Matt se moveu daquela forma não natural parando poucos metros a minha frente barrando a passagem dos três. O moreno alto se afastou um pouco quando viu a reação dele.
- Oh, vai com calma camarada. – sua voz acompanhava sua aparência. Arrogância demais pra uma pessoa só. Argh.
- Eu não sou seu camarada. – o tom que Matt falou me fez lembrar aquela noite horrorosa na outra casa. Um arrepio passou pela minha espinha.
- Vai ficar na minha frente? Tem certeza? Tenho coisas mais uteis a fazer se você quer saber.
Aquilo não ia dar certo. Eu podia sentir algo em mim me alertando sobre isso. Ignorei os olhares afiados e andei em direção a eles. Matt não pareceu gostar nada disso, ao contrario daquele idiota que sorria ainda mais. Eu parei um pouco atrás de Matt.
- A que devo a honra vossa majestade? – eu podia notar o sarcasmo em sua voz e as risadinhas dos outros só confirmaram isso.
Ao invés de responder eu o encarei, estudando-o. Ele era alguns centímetros mais alto que Matt, mas era visivelmente mais magro que ele. Ele era branco como muitos aqui, mas a diferença era o leve rosado em seu rosto. Ele não era de maneira nenhuma feio, mas ele parecia doente. Sua magreza parecia um pouco além do normal, seu rosto estava magro e as maçãs do rosto estavam salientes. Seus olhos eram de um castanho intenso que me fez perder um pouco a concentração. Seu cabelo era praticamente da mesma cor e estava propositalmente desarrumado causando um ar mais rebelde.
Meu olhar caiu em seu pescoço que parecia levemente irritado. Eu levei minhas mãos automaticamente ao meu passando a mão levemente onde antes estava irritado. Ainda se sentia uma leve ardência.
Ele esperava uma resposta minha, mas eu permanecia quieta tentando parecer indiferente a sua provocação. Mas ele não parecia se ofender com meu silencio, pelo contrario.
- Desculpe-me... Esqueci de me apresentar. Sou Luke Miazzi, mas agradeço se me chamar somente de Luke. – ele fez uma pequena referencia e estendeu a mão para mim. Eu o ignorei mais uma vez e dessa vez consegui uma breve expressão carrancuda.
- Sou Anne... – um pensamento estranho passou pela minha cabeça, qual seria meu sobrenome agora? – Bom, somente Anne. – sorri para ele tentando parecer tão debochada quanto ele parecia ser.
Ele pareceu gostar daquilo e se virou para Matt que o encarava de cara feia.
- Sammyzinho já sabe que vocês dois estão juntos?
Matt rosnou entre os dentes mas Luke nem se abalou com isso. Eu não esperei que Matt respondesse e sai de onde eu estava me metendo na frente dos dois. Eu cruzei meus braços e franzi meu cenho o encarando nos olhos (bem tentando, eu era pelo menos uns 15 centímetros mais baixa que ele).
- Meu irmão – ênfase a essas palavras – sabe de tudo desde o começo. Algum problema? – minha voz saiu ríspida e furiosa e ele recuou um pouco aumentando o espaço entre nós.
- Pobre Sam, foi-se tempo que ele era mais firme. Antigamente ele odiava esse idiota e agora ele deixa sua preciosa irmãzinha de amasso com ele? Agora concordo plenamente com aqueles que dizem que precisamos de um líder mais forte e convicto com suas idéias.
Matt rosnou mais uma vez e fez menção de avançar, mas eu descruzei meus braços e o forcei a ficar onde ele estava. Seu corpo estava tenso e eu desejei internamente que eu não fosse forte o bastante pra o conter ali e ele partisse para cima desse babaca. Mas eu não queria meter ele no meio. Eu podia lidar com isso sozinha. Eu acho.
- O que eu faço, o que Matt faz, ou o que Sam pensa ou deixa de pensar não é da sua conta creio eu. A pouco você disse que tinha coisas melhores a fazer, pois bem, as faça. – disse firmemente.
Eu consegui desbancar seu sorriso presunçoso mais uma vez e dessa vez ele não retornou. Agora uma expressão amarga destacava-se em seu rosto. Ele chegou mais pra perto e começou a falar tão baixo que eu quase não entendi. Eu podia sentir Matt tenso atrás de mim, eu segurava suas mãos que estavam fechadas.
- Tome cuidado com o que você diz e pra quem você diz Anne. Você é nova aqui, provavelmente você não sabe quem dita às regras.
Ele se virou sorrindo novamente e saiu em direção a casa. Eu o encarei até que ele saísse de vista. A platéia aumentara consideravelmente e tenho certeza que eu já havia dado assunto o bastante para eles falarem.
Eu olhei para o céu reparando no tom vermelho que ele possuía nesse instante. Eu não havia notado o quão tarde já era.
Matt parecia mais relaxado e agora estava com os dedos cruzados aos meus. Eu me virei esperando uma feição carrancuda, mas ele me olhava divertido.
- O que foi?
- Nunca vi esse babaca tão desajeitado como você o deixou. – disse ele mostrando claramente seu divertimento em sua voz.
Eu cerrei meus olhos e segurei sua mão mais firme.
- Vamos lá pra dentro.

A lareira crepitava baixinho enquanto algumas fagulhas pulavam pra fora e dissolviam antes de chegar ao tapete. A temperatura agora agradável para mim me deixou abandonar o casaco.
Eu estava sentada no chão absorvendo ao máximo o calor vindo do fogo que ardia na minha frente. Matt sentara na minha cama e olhava para o quadro acima de mim pensativo.
- Você mudou bastante.
Eu absorvi lentamente o que ele havia dito. No fundo eu sabia que isso havia acontecido, mas não sabia o quanto isso havia alterado no modo em que as pessoas me viam. Eu olhei para ele tentando identificar algum sinal de decepção em seu rosto mas não encontrei.
Eu me deitei ao seu lado, encostando a cabeça em seu peito me acostumando com o silencio. Ele ficou quieto também, afagando meu braço e encostando seus lábios no meu cabelo.
Eu pensei um pouco até tomar coragem para perguntar.
- Em que sentido?
Ele demorou um tempo para responder.
- Você parece mais livre. Antes você parava e pensava no que ia fazer e isso te levava a ser restrita a razão, mas hoje, como naquela hora lá embaixo, você foi você mesma, agiu como tinha que agir, ou que pensava que era o certo agir. Por isso não te interrompi, você lidou com aquilo sozinha. – Matt falou pensativo, porém suas palavras traziam um pouco de orgulho.
Eu refleti sobre o que ele havia dito. E cheguei a conclusão que aquilo era verdade. As coisas que haviam acontecido, tudo desde a primeira vez que eu os vi, havia acontecido uma grande mudança no meu modo de ver tudo. Eu sempre fui a tímida garota de cidade pequena, não movendo um dedo pra mudar algo que já estava numa rotina. Eu só havia encarado a morte uma vez, e a anormalidade nesse mesmo dia.
Mas me convenceram que parte daquilo que eu havia visto, tinha sido da minha cabeça e eu resolvi concordar com isso, mesmo que me matasse por dentro a possível culpa. Eu não era de muitos amigos e nem de conversar, me acostumei a não contestar nada do que era me dito e sempre concordar, e concordar.
E agora? Eu tirei um peso das minhas costas ao descobri que eu não tinha imaginado nada daquilo. Em compensação eu agora carregava o peso de varias mortes. Por que sim... Eu me culpava por algumas coisas que tinham acontecido. E aquela pergunta martelava na minha cabeça, por que eu?
Eu podia estar aqui agora deitada ao lado de minha mãe conversando por algo que tivesse acontecido hoje ou rindo com meu irmão e meu pai.
Varias opções de um destino mais justo apareceram na minha frente e pensar em cada uma delas era doloroso. Eu me apeguei ao mais possível e ao mais provável. Eu iria passar o resto da minha vida aqui, em segurança, tentando não dar um passo em falso que pudesse acabar com a vida de mais uma pessoa. Esse lugar aqui me aspirava segurança e isso me ajudava a seguir com esse pensamento.
Por ultimo, eu pensei em algo que havia passado em minha mente muito esporadicamente e agora eu havia decidido que teria que acontecer. Eu iria abrir mão da minha humanidade. Era a forma mais certa de me manter fora de problemas, e além disso era a única forma de ficar com eles. A cada batida do ponteiro meu corpo funcionava mais rápido do que o deles e me deixava mais velha.
Eu estava empenhada a me concentrar nessa opção e tinha certeza que podia viver feliz com ela. Eu teria Sam e Matt, para sempre. Eu sorri com essa idéia.
- Seus pensamentos andam mais complexos e determinados a cada dia. – a voz de Sam me assustou. Eu não havia o visto chegar. Ele estava parado perto de nós. Seu rosto estava sereno diferente da ultima vez que nos vimos. Seu cabelo caindo nos olhos e um pouco rebeldes. O jeito me lembrou o de Luke e eu fiz uma breve careta.
Então ele havia escutado meus pensamentos. Então conseqüentemente havia escutado a parte da transformação, e eu agradeci por isso. Não saberia nem por onde começar uma conversa com ele sobre isso.
Eu me sentei na cama apoiando a cabeça na cabeceira. Matt ao meu lado se levantou e ficou desconfortável, Sam não era a melhor presença para ele.
Tentei fazer uma coisa nova, porque sabia que falar esse assunto alto afetaria Matt.
‘ Você entendeu o que eu quero, certo?’ perguntei mentalmente para Sam.
Ele acenou com a cabeça e disse com uma voz firme.
- Conversaremos sobre isso depois, temos tempo.
Matt fez uma careta entendendo que estávamos fazendo o típico joguinho mental de Sam. Um silêncio constrangedor nos cercou e eu podia sentir um clima na presença dos dois juntos ali. Eu não gostava disso, mas eu sabia que seria impossível desfazer essa implicância vinda dos dois. Eles eram completamente diferentes e a única coisa que os unia, ou obrigava eles a ficarem perto um do outro, como agora, era eu. Sam parecia mais relaxado naquela situação, ao contrario de Matt que se mexia desconfortavelmente.
Entendi nesse momento, que eu nunca poderia ter os dois de uma vez, mesmo que eu quisesse. Sempre um havia que ceder sobre a presença do outro. Bem, dessa vez foi Matt.
- Eu tenho que... Ah, fazer algumas coisas. – eu sabia que não havia nada para se fazer.
Eu forcei um leve sorriso compreensivo e ele veio até onde eu estava me beijando na testa.
- Durma bem minha Anne.
E ele saiu do quarto se movendo rapidamente. Eu me virei para Sam esperando ver como ele havia reagido à desistência de Matt. Ele me olhava com uma careta exagerada.
- É realmente serio isso? Você e ele? Juntos? – ele sentou do lado oposto da cama, me olhando com uma certa esperança.
- Já conversamos sobre isso. Se eu fosse você, começava a tratar melhor o seu cunhado.
Sua careta aumentou me fazendo rir. A quanto tempo que eu não fazia isso?
- Como foi o resto do seu dia? Eve me contou sobre o que aconteceu com Alex. – ele inspirou o ar demoradamente – Você está bem sobre isso?
- Bem na verdade. Estou mais preocupada em como ele vai lidar com essas coisas. Eu sei como é complicado engolir algo como isso.
- Você acreditou de primeira. – disse Sam. – O que foi realmente espantoso. A reação que Alex teve é sempre a mais esperada. Humanos têm certa aversão em acreditar em coisas que fogem de sua realidade.
- Eu também me espanto com a facilidade que eu acreditei. – confessei.
Sam abriu a boca para comentar alguma coisa, mas a fechou logo em seguida. Uma pergunta surgiu em minha mente a qual mais cedo me faltou a resposta.
- Meu sobrenome Sam... Qual usarei agora?
Ele pareceu surpreso com a pergunta.
- Eu não tinha falado antes? Me desculpe Anne. – disse sincero – Anne De La Met.
Anne De La Met. Soava legal. Seria difícil de me acostumar, mas eu tinha que. Sam repetiu aquele movimento de antes, como se quisesse falar alguma coisa e desistiu no meio do caminho. Aquilo havia me deixado frustrada.
- O que é Sam? – perguntei intrigada.
Ele se calou por um tempo.
- O que você estava pensando antes de eu chegar aqui. Você parecia bem em abrir mão de tudo.
Eu o avaliei antes de continuar, tinha medo de dar um passo em falso e Sam chegar a conclusões erradas.
- É a solução para a maioria dos problemas.
Ele concordou com a cabeça.
- Só queria entender algumas coisas antes de dar esse passo. – minha voz saiu firme e esperei que isso me ajudasse a convencer Sam.
- Creio que você terá que esperar para dar esse passo. – o tom que ele falou não me agradou nem um pouco.
- É o que eu quero. Você não tem como me impedir. – bom, na verdade tinha. Mas eu não ia admitir isso.
Ele ficou em silencio novamente me olhando com aquela estranha expressão.
- Se você não fizer Matt faz. – eu estava blefando novamente. Era claro que Matt nunca toparia fazer isso, mas talvez eu arrumasse outras formas. Eve por exemplo.
- Não é o caso de quem irá fazer, ou qualquer coisa. Simplesmente você não pode entende?
Eu esperei quieta ele continuar.
- Leonard disse que você está fraca. Não podemos arriscar, você tem que estar preparada.
- O que eu tenho que fazer para ficar mais forte? Vitaminas? O que for. – eu estava disposta a tudo.
Sam me olhou de uma forma nada encorajadora.
- O que foi? – minha voz deixando escapar um pouco da histeria que me tomava.
- Não é a sua parte humana que está te deixando fraca. É a outra parte que precisa de alimento.
Longos segundos se passaram até eu entender completamente o que Sam estava me dizendo.
- É impossível eu fazer isso. – choraminguei.
- Não é impossível Anne – ele parecia mal em admitir isso – Mas eu não queria te forçar a fazer algo assim.
Eu podia ver a verdade em suas palavras. Eu me forcei a fazer a próxima pergunta.
- É muito necessário?
Ele afirmou com a cabeça fazendo meu coração dar um aperto.
- Você está fraca. Não aparenta mais está. A situação pode piorar. Não queremos apressar as coisas mas essa era uma decisão que teria que ser tomada logo. Eu queria te propor algo menos doloroso, mas infelizmente não posso. Desculpe Anne. – ele ficou desajeitado com as palavras.
Eu em lembrei das vezes que essa outra parte de mim havia se manifestado, de como aquele misto de desejos tinha se apoderado de mim. Eu estava disposta a tudo para ver as coisas dando certo de vez, e aquilo se encaixava em ‘tudo’.
Eu me ajeitei na cama e tentei ser o mais confiante possível.
- Como faremos isso?
Sam se espantou pela minha mudança de comportamento.
- Você tem certeza Anne?
- Não tenho opções.
Eu podia ver que ele não estava gostando muito disso assim como eu. Ele levantou e fez uma rápida ligação. O tempo que eu levei tomando coragem para perguntar para quem ele estava ligando, foi o mesmo para Eve entrar no quarto trazendo na mão duas garrafas de vidro que lembravam ser de cerveja. Mas eu sabia que não era isso que estava dentro daqueles frascos. Algo dentro de mim dizia que era desses mesmos frascos que Eve me falara noite passada.
Algo dentro de mim me dizia o quanto aquilo era errado e perturbador. Eu era humana em certos aspectos e nada mudaria isso. Mas mais afundo na minha consciência eu desejava aquilo. Eu não havia esquecido como eu havia me sentindo no dia que eu provei pela primeira vez. Era insano, mas prazeroso. Aquele líquido escarlate havia me proporcionado algo impossível até antes.
Eve me entregou a garrafinha cautelosa, ela alternava os olhares entre Sam e mim. Os dois compartilhavam o mesmo olhar: preocupação. Algo dentro de mim sabia que eles haviam conversado muito antes de tomar a decisão de me oferecer aquilo. Mas como Sam disse: Era necessário, não havia uma segunda opção para isso.
Além do mais, isso era algo que eu teria que fazer por um longo tempo.
- Certeza? – Sam me perguntou novamente.
Dessa vez eu apenas acenei. E eu provei o primeiro gole.
Meu corpo todo ficou dormente e minha mente só se focava naquilo que eu estava bebendo. O gosto era diferente daquele que eu havia provado, tinha um leve amargo no final, mas mesmo assim, eu queria mais e mais. Não necessitei de mais goles para terminar com a garrafa inteira, eu nem lembrei de respirar quando estava imersa ali.
Eu terminei ofegante. Minha mente aos poucos se livrava dos efeitos do sangue e ia se clareando. Com o final de todo aquele frenesi, eu comecei a me sentir mal. Isso é insano, errado. Eu não conseguia parar de me culpar por sentir prazer com aquilo.
Limpei minha boca no casaco e entreguei a garrafa na mão de Eve. Eu evitava olhar nos olhos dos dois com medo de haver algum sinal de reprovação. Eve fez menção de me entregar a outra garrafa, mas Sam a afastou.
- Por hoje basta.
- Desculpe. – choraminguei depois de um tempo.
Sam me envolveu em seus braços me puxando para o seu lado. Eu afundei meu rosto no seu peito procurando um abrigo. Ficamos um longo tempo assim e eu comecei a ficar cansada, meus olhos mal conseguiam abrir. Aos poucos eu fui apagando e entrando, para minha sorte, em um mundo sem pesadelos. Meus sonhos eram distorcidos, mas ainda eram sonhos e isso era um alivio.
Eu senti algo me mover e relutante eu abri meus olhos. Sam estava tirando meus sapatos. Ele deu um leve sorriso pra mim e me cobriu com um edredom. Ele beijou minha testa e eu recuei a sensação gelada, mas ele não pareceu notar.
Sam começou a se afastar e eu protestei.
- Já vai? – minha voz grogue.
- Continue dormindo Anne. – sua voz era doce e amável.
- Você não pode ficar mais aqui?
- Tenho alguns problemas para resolver. Irei voltar amanha pela noite. Mas Eve estará aqui para o que você precisar.
Percebi que Eve estava sempre ao lado de Sam e o ajudando. Eu ia fazer um comentário sobre isso, mas acabei escorregando para meus sonhos.
Um fio de luz adentrou no quarto, mas não foi o bastante para me fazer levantar da cama. O tempo parecia mais frio e mesmo usando diversas cobertas eu senti minha pele ficando gelada.
Um barulho familiar me fez acordar finalmente. Olhei para janela confirmando. Uma forte chuva batia nos vidros. Olhei amargurada para o céu, sabendo que meu passeio a cavalo estava arruinado. As nuvens estavam escuras e pouco se via do sol.
Mesmo com a forte chuva do lado de fora, alguns vampiros usavam a água que caia do céu para limpar seu carro. Meu pai fazia isso. A dor da lembrança começava a me machucar. Ele não é seu pai de verdade, Anne. Repeti diversas vezes para mim, enquanto procurava algo para fazer.
Sam me dissera que não estaria aqui de manhã então, mais uma vez fiquei presa ao dilema de descer ou não sozinha as escadas. Eu sabia que eles não iam me machucar, na verdade nem era esse o problema, eu tinha medo dos olhares, eles sim me deixavam receosa.
Tomei um banho quente e logo me encontrei parada em frente a porta vestindo um casaco grosso. A cor não me agradou muito, rosa, mas ele tinha sua utilidade num dia frio como esse. Minha mão hesitou na maçaneta, tomando coragem para vira-la.
Não foi difícil encontrar a cozinha, Eve estava me esperando lá dentro. Ela me desejou bom dia e me entregou uma pequena bandeja com pão, queijo e frutas.
Eu comi silenciosamente, olhando para Eve de vez em quando.
- Sabe onde Matt está? – disse logo que acabei.
Ela acenou que não.
- Matt saiu mais cedo.
Tentei esconder ao máximo minha cara de frustração.
- Mas ele não deve demorar. – ela disse indo em direção a porta, antes que ela saísse, eu chamei seu nome.
- Diga Anne.
- Posso te pedir um favor?
- Sempre.
Eu hesitei procurando as palavras certas para usar.
- Pode não comentar aquela... hm... Coisa de ontem com o Matt? Por favor, não tenho certeza de como ele reagiria.
Ela me encarou e deu alguns passos em direção a porta novamente.
- Tudo bem, também não tenho certeza de como ele reagiria.
Sua reação fria me deixou confusa. Fiquei ali adiando minha saída o máximo que pude. Pra onde eu iria agora?
Uma opção surgiu.
Eu comecei a andar em direção as escadas, mas acabei parando graças ao que vi.
Luke e seu grupinho de patetas estavam sentados nas escadas, bem o grupinho parecia ter crescido bastante. O que mais me assustou foi que ele não era formado só de humanos. Uns 8 vampiros se juntaram a eles. Todos pareciam ser um pouco mais velhos que ele, mas mesmo assim, eu podia sentir a liderança dele sobre eles. Uma vampira loira e bonita estava agarrada a Luke, parecendo estar extremamente satisfeita com aquilo.
Todos calaram a boca assim que me viram. Luke me deu um daqueles sorrisos odiosos que ele havia feito ontem. Eu focalizei o pequeno espaço que não estava tomado por eles e comecei a andar até eles. Luke parou na minha frente trazendo consigo a loira que estava do seu lado antes.
- Bom dia... – antes que ele pudesse completar a frase e o interrompi.
- Saia.
- Bom... – ele começou novamente.
- Saia!
Ele me deu um longo olhar de desprezo e saiu da frente. O resto do grupo soltava altas risadinhas.
Eu subi a escada o mais rápido que consegui e entrei no corredor que eu havia estado ontem de tarde. A porta estava sendo guardada por um vampiro alto e bonito. Ele tinha cabelos escuros e uma aparência feroz. Por alguns instantes eu achei que ele ia me barrar a minha entrada, mas assim que cheguei perto o bastante ele abriu a porta.
O quarto estava todo revirado, duas cadeiras e uma mesa estavam de cabeça para baixo. Toda roupa de cama estava espalhada pelo quarto, até uma fronha estava presa na luminária do teto, o colchão estava jogado perto da porta. O único móvel que permanecia no lugar era a cama, e percebi que esse fato era por que ela era pregada no chão.
No canto perto da única janela do local estava Alex. Ele parecia mil vezes pior do que ontem. Ele descansava as costas na parede e olhava para fora parecendo estar distante. Reparei em seus olhos vermelhos provavelmente de tanto chorar.
Ele não dirigiu o olhar a mim, mas eu sabia que ele tinha me visto. Me sentei ao seu lado cautelosamente, ele continuando imóvel.
- Como você está? – minha voz saiu tão baixa que se ele não tivesse virado pra mim, eu acharia que ele não teria ouvido.
- Pior. Muito pior. – a voz dele me fez estremecer. – Como você consegue? Andar no meio deles, desses monstros, sem ter medo?
Eu não gostei da palavra que ele usou ‘monstros’, mas notei que era hipocrisia de minha parte, já usei essa palavra pra denominar eles.
- Eles não vão me machucar. – eu tentei passar o máximo de confiança na minha voz – Eles não vão te machucar.
- Como você pode ter certeza disso?
- Apenas tenho. – e era verdade.
Ele pareceu não se convencer e se calou.
- Só queria entender o que eu tenho a ver com toda essa historia.
Eu o analisei. Ele não sabia. Não contaram pra ele a parte em que ele se encaixa aqui. Não sabia se era certo contar, ou se era para eu fechar a boca. Mas já era tarde demais, ele notou que eu sabia de algo.
- O que é Anne? O que está acontecendo?
Uma voz na minha cabeça repetia que era errado falar algo que pelo visto não era pra ser contado, mas ao mesmo tempo, outra dizia que o mais errado era esconder aquilo dele.
- Por favor. – ele me olhava suplicante.
- Não sei se é certo... – sussurrei.
- Certo? O que você acha que é certo então? Me manter aqui, sozinho, longe de tudo, sem poder falar com ninguém, sem poder avisar meu pai que eu estou bem, sem nem mesmo saber o por que disso tudo?
Era verdade. Era errado e mais que tudo, injusto fazer isso com ele.
- Bem, eu não sei de muita coisa...
- Mas sabe de pelo menos algo.
- Sim... – admiti. – É difícil de explicar.
- Você foi capaz de me dizer que vampiros existem, espero que isso não seja algo pior.
‘’É sim, você é metade humano, metade vampiro’’ disse mentalmente. Diabos, por que é tão difícil falar coisas assim?
- Bem, você é como eu. Somos diferentes e iguais ao mesmo tempo das pessoas que vivem aqui. – legal, não disse nada com nada. Parabéns Anne.
- Você quis dizer dos vampiros?
- Yeah.
Seu rosto estava confuso. Bem, tente ser mais especifica dessa vez.
- Meios vampiros, meios humanos. – ok, um tanto menos especifica, mas o estrago já estava feito.
Assim como ontem, eu vi varias expressões passarem pelo rosto dele, só que diferente da ultima vez, a ultima que permaneceu ali, foi de alivio.
- Achei que estava ficando louco.
Varias coisas passaram pela minha cabeça. Será que não era somente eu que via e sentia aquelas coisas? Será que ele precisava da mesma coisa que eu, do sangue? Engoli seco.
- Eu tenho sonhado com coisas assim todo tempo. – começou ele me explicando – Aquele homem, que estava na porta da minha casa, sonhei duas vezes com ele noites antes. Era estranho como se eu estivesse...
- Vendo pelo ponto de vista dele. – completei.
Então não era só comigo. Tive o pensamento egoísta de que era bom eu não estar sozinha nesse barco.
- Você também.
- Yeah, eu também.
Ficamos um tempo em silencio.
- Acontece sempre com você? – ele perguntou.
- Bem, de uns dois meses para cá. Era mais fraco antes, mas agora não consigo fugir. E nem sempre eu estou dormindo quando acontece.
Ele cerrou os olhos.
- Como?
- Eu sou puxada, sinto uma horrível dor de cabeça e pronto. Começa.
Ele ficou calado por algum tempo, pensando em algo.
- São só pesadelos, não?
Eu acenei negativamente.
Contei a ele de todos meus pesadelos. Daquele que fez com que os outros conseguissem invadir a outra casa. Aquele era o pior porque o envolvia. Não queria piorar a situação. Além de pior, aquele era o mais enigmático. Não havia passado de uma ilusão certo? Uma armadilha?
- Então somos ligados a aquele cara de alguma forma? – ele perguntou no final.
- Sim. Isso explicaria o porque que vemos e sentimos coisas que ele está vendo e sentindo.
Ele respirou algumas vezes. Ele parecia exausto e provavelmente não dormia a tempos. Eu me levantei, ele precisava descansar e eu estava ali atrapalhando tudo. Mas antes que eu desse algum passo ele agarrou minha mão rapidamente. Eu fiquei rígida e meu coração acelerou. Fazia tempos que eu não sentia o contato de uma pele quente.
- Por favor, fique. – ele abaixou suas mãos novamente
- Você precisa descansar.
- Prometo assim que você me responder só mais uma pergunta.
Eu hesitei, mas por fim acabei concordando.
- Diga. – disse me sentando no chão, um pouco mais afastada dele do que antes. Eu ainda estava assustada pela minha reação ao seu toque.
- Você disse que somos vampiros e humanos... Como isso aconteceu?
- Ninguém sabe. Só uma tese.
- Qual?
- Bem, uma grande transfusão de sangue. É confuso, mas pelo o que me falaram ela aconteceu a muito tempo. Por isso nosso cheiro estava meio encoberto. Demoraram um tempo para descobrir que eu era assim. – minha voz estava mais firme do que antes.
- Espera... Pra eu ter essa grande transfusão de sangue, eu teria que perder sangue... Certo? – percebi que ele havia descoberto algo.
- Nunca pensei dessa forma, mas por que?
Ele estava mais agitado agora.
- Bem, eu tinha um ano quando sofri um grave acidente de carro. Minha mãe morreu nele, e todos achavam que eu tinha morrido também... Desapareci por quase um ano, até que misteriosamente apareci em frente a igreja da cidade. Eu era pequeno demais pra lembrar de alguma coisa.
Eu havia esquecido que ele era órfão de mãe. Aquilo me lembrou do que Sam havia me falado. O tempo que eu fiquei desaparecida, entre o rapto e a entrada no orfanato. Tinha que haver alguma ligação entre isso.
- Nenhuma evidencia do que aconteceu? Nada? – eu precisava de pistas, provas. Eu queria resolver toda essa coisa.
- Nada. Só uma cicatriz do acidente. – ele levantou de leve a blusa na parte das costas. Uma cicatriz de pelo menos uns 30cm estava ali. Era mais clara que a pele dele, e me causou arrepios. – Isso pode ajudar em alguma coisa?
- Eu não sei.
- Ultima pergunta prometo. Vou ficar aqui pra sempre, não é? – disse ele triste. Aquilo doeu meu coração, mas eu não conseguia mentir. Ele deve ter visto a resposta nos meus olhos, mas algo em mim já dizia que ele sabia dela.
- Não é tão ruim, eu já disse... Eles nunca vão te fazer mal.
Ele ia começar a discordar, mas eu o interrompi.
- Você disse que era a ultima pergunta. Pronto... Agora descanse.
Ele não pareceu satisfeito mas levou o colchão de vota pra cama e deitou. Antes de sair pela porta ele gritou meu nome.
- Sim?
- Você volta amanha ?
Eu sorri e assenti.
Voltei para o meu quarto pela falta de opção. Me sentei perto da janela espiando a chuva caindo do lado de fora. As gotas batiam no vidro e escorriam até o parapeito da janela. Fiquei pensando e repensando inúmeras vezes tudo o que estava acontecendo, o que aconteceu e o que pode acontecer. Eu me sentia completamente impotente sobre meu futuro.
‘’Só quero uma vida normal’’ uma voz ficava repetindo dentro de mim.
Encostei meu rosto no vidro gelado e meus olhos foram ficando mais pesados. Mesmo tendo acabado de acordar, meu sono foi bem vindo.
- Isso não é lugar de você dormir, Anne. – uma voz doce me despertou.
Eu não precisava abrir meus olhos para saber que era ele que estava aqui.
- Matt. – disse com ternura.
Ele me puxou para cima. Eu tropecei e cai em seus braços. Meus reflexos eram lentos e eu tinha acabado de acordar, ele esperava mesmo que eu conseguisse me virar e ainda não caísse? Ele se divertiu com meu mal jeito e riu, me puxando mais para perto.
Ele beijou minha bochecha carinhosamente e depois meus lábios. Eu já tinha me acostumado com a sensação gelada. Eu enterrei meus dedos em seus cabelos e o puxei mais pra perto. Senti uma certa relutância primeiramente, mas aos poucos ele se entregou.
Minha respiração começava a ficar ofegante e fiquei com medo de que ele se afastasse. Mas pelo contrario, nosso beijo começou a ficar mais quente. Suas mãos agarradas a minha cintura.
Eu o puxava para perto cada vez mais e dei alguns passos para trás. Mais uma vez o meu jeito desastrado atrapalhou tudo e eu acabei caindo na cama, e levei Matt comigo. Ele flexionou os braços impedindo que caísse em cima de mim.
Mesmo com toda essa situação, eu queria continuar o que estávamos fazendo antes. Levei minha boca de encontro a dele, mas dessa vez para o meu desagrado, ele se afastou.
- Vamos parar por aqui. – ele trazia no rosto aquele meu sorriso travesso preferido, que vinha de bônus aquele carinho imenso transmitido pelos olhos.
- Tem certeza que você quer isso?
-Não, mas as vezes alguém tem que agir com a razão.
Ele riu e me arrastou para a cama deitar reto na cama. Ele deitou ao meu lado e começou a mexer com mechas do meu cabelo.
- O que você fez na minha ausência?
Eu ainda estava irritada pela nossa interrupção e demorei alguns segundos a mais para respondê-lo.
- Fui visitar o Alex.
Eu senti seu corpo ficar rígido.
- Por que... Quero dizer, como ele está?
- Bem pior. Simplesmente esqueceram-se de contar a ele da sua parte vampira. Por que de alguma forma isso se tornou irrelevante. – disse ironicamente.
- Sam achou que deveríamos esperar... Você não falou nada, não é?
Por uma fração de segundo eu me senti culpada por ter aberto a boca, mas logo aquele pensamento de ‘injusto era esconder’ voltou.
- Falei o que tinha de ser falado.
- Sam não vai gostar nada disso. – disse Matt desaprovando meu ato.
- Só tenho que lamentar por ele. É injusto esconder isso dele. E além do mais ele pode ser útil.
- Útil como? – percebi que despertei uma onda de curiosidade em Matt.
- Ele é igual a mim em todos os sentidos. Os sonhos, Matt, ele os têm também.
A respiração dele acelerou um pouco.
- Sam precisa saber disso.
- Contarei assim que ele chegar.
Conversamos por muito tempo, só pausando para que eu pudesse almoçar. Matt trouxe a comida até meu quarto e me olhava pacientemente, como fizera outras vezes, até que eu acabasse.
O sol já estava se pondo quando alguém bateu a porta. Era Sam. Finalmente ele havia chegado.
- Olá Anne. – disse ele sorrindo. Ele acenou de leve para Matt ao meu lado e ele retribuiu. Aquilo já era um bom começo.
- Sam. – eu estava satisfeita em vê-lo bem.
Eu sabia que não podia forçar muita coisa, então poucos minutos após a chegada de Sam, Matt se despediu e saiu para fazer algo como ontem. Ele me desejou boa noite e saiu rapidamente.
- Nunca poderei ter os dois ao mesmo tempo, não é? – perguntei a Sam.
- Nunca diga nunca Anne, as coisas sempre mudam.
Eu sabia muito bem disso.
- Fui ver Alex mais cedo.
Ele revirou os olhos.
- Fiquei sabendo. Fez alguma besteira, não é?
- Se besteira pra você é falar a verdade pro garoto... Yeah, eu fiz.
Ele me lançou aquele olhar penetrante, eu sabia o que ele estava fazendo. Poucos segundos depois sua cara mostrava frustração.
- Fora de sintonia? – perguntei.
Ele assentiu.
- Você não deveria ter dito nada. Ele já estava mal, imagino que esteja pior agora.
- Ele me parecia melhor. Me disse que imaginava algo assim. Ele tem os sonhos Sam, não é só eu.
Sam ficou surpreso e se aproximou mais de onde eu estava.
- Aqueles sonhos?
- Eles mesmos. Além disso, lembro que você me disse de uma diferença de anos entre quando eu desapareci e quando dei entrada no orfanato... Bem, Alex também!
- Seja mais especifica, Anne.
- Ele sofreu um acidente, quando era muito pequeno, e desapareceu por quase um ano.
Sam ficou pensativo e levantou em seguida.
- Preciso trabalhar mais nisso. É algo importante, não posso deixar passar. – ele beijou minha testa e sorriu. Eu segurei suas mãos.
- Deixe Alex descansar. Resolva isso amanha! Por favor.
Ele hesitou e por fim acabou concordando.
- Amanha de manhã verei isso.
Bocejei.
- Você também precisa descansar. – disse Sam notando – Ande, vamos comer alguma coisa...
- Estou sem fome Sam.
- Nada disso, você precisa se alimentar.
Sam não deixou que eu discutisse e me trouxe um prato de macarronada. Eu estava realmente sem fome, mas comi um pouco para não ter que ficar ouvindo dele.
- Sam? – disse entregando meu prato a ele.
- Sim?
- Quem são os pais do Alex?
- Ahn?
- Bem, os pais deles são vampiros... Não?
- Alex é humano, ou bem... Era.
- Então, ele não tinha nada haver com isso? Ela podia ter uma vida normal?
Sam só assentiu. Alex poderia viver uma vida normal. Se apaixonar, ter filhos e não entrar nesse jogo de vida ou morte. Eu desde que nasci, mesmo sem saber, meu destino já estava escrito, um dia ou outro eu teria que entrar nesse jogo. Mas Alex não. Aquilo despertou uma raiva.
- Durma. Amanha nos falaremos de novo.
Faltava somente uma pergunta.
- Não preciso repetir a dose de ontem? – não tive coragem de ser direta, mas Sam entendeu.
- Vamos fazer dia sim, dia não... Ok? Não quero te forçar a passar por isso todo dia. – ele afagou meu rosto e saiu porta afora.
Eu joguei minha cabeça para trás, implorando para o sono vir logo e eu não ter que ficar pensando em tudo o que estava acontecendo.

Duas semanas se passaram.
Eu havia criado uma rotina, de manha sempre visitava Alex e conversava sobre diversas coisas. Ele sempre me pedia para voltar no dia seguinte e eu via uma certa melhora no seu comportamento, ou pelo menos não tinha nenhum móvel espalhado pelo quarto. Eu tentava fazer ele dar uma volta comigo, sair daquele lugar, mas ele não queria, e Sam pediu para que eu não ficasse insistindo.
A tarde, eu passava com Matt. Ele passava maior parte do tempo fora, assim como Sam, e toda vez que eu perguntava aonde ele ia, ele simplesmente dizia que tinha que fazer coisas. A cada dia eu passava a amá-lo mais. Ele era gentil e delicado e fazia tudo para me ver bem.
Sam era o que eu menos via. Notei que ele era muito ocupado e eu entendia o porquê. Ele passava a maior parte do tempo fora da propriedade, mas sempre que podia ia me visitar.
Eu estava feliz dentro das possibilidades. Eu tentava ao máximo esquecer o passado e estava funcionando bem.
Eu fazia exames regularmente, e Sam dizia que eu estava reagindo bem a minhas doses de sangue e que se tudo desse certo, dentro de algumas semanas eu poderia ser transformada. Aquilo me deixava ao mesmo tempo com medo e ansiosa. Mas eu sabia que poderia ser o único jeito de ter tudo o que eu queria sem problemas.
Pude dormir em paz durante esse tempo. Sem sonhos, sem emoções de outras pessoas, sem problemas.
Mas minha paz tinha terminado agora, eu estava dormindo quando senti aquela sensação de estar sendo puxada.

_____________________________________________________________________________

Bem, demorei mais tempo pra escrever esse capitulo, mas veio mais caprichado dessa vez HUAUHAAHUHAUHA
Queria agradecer mais uma vez a todos que leem. É serio, um dos motivos de eu fazer isso é por vocês.
Comentem se puderem sobre o que acharam do capitulo, se merece mudar alguma coisa, ou se está bom do jeito que está!
E quem acompanha, se puder entrar na comunidade , ou agradeço:
http://www.orkut.com.br/Community?cmm=59609542

Amo vocês todos. Beijos

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Capitulo Vinte e Um - Um outro alguem

Aquela cena foi me sufocando aos poucos. Eu não conseguia falar, nem muito menos gritar. Eu sentia as palavras presas na minha garganta, mas era impossível tirá-las dali. Alguém me puxava sem sucesso, minhas pernas estavam travadas.
- Anne? ANNE! – Alex gritou ao reparar a minha presença. Ele se debatia inutilmente contra os braços de Pablo.
Tentei responder ao seu chamado, mas tinha certeza que não havia conseguido mover nem os meus lábios.
- Vamos, vamos! Por favor! – aos poucos tudo começou a ficar mais nítido. Consegui em fim, reparar em Matt me puxando e suplicando para que eu subisse as escadas novamente e saísse do meio daquela confusão.
Mais rostos agora chegavam à sala, mas eu os ignorava. Minha atenção estava presa ao garoto assustado no centro de tudo. Seu cabelo loiro estava emaranhado, seu rosto pálido e contada com olheiras terrivelmente arroxeadas. Ele parecia fraco e pude notar pequenos arranhões em seus braços.
Um arrepio passou pelo meu corpo. Aquele terrível pesadelo. O grito voltou a ecoar na minha cabeça e fui obrigada a desviar meu olhar. Não queria aquelas cenas novamente presentes em cada pensamento meu.
Parei de resistir a força que fazia contra o esforço de Matt e deixei que ele me puxasse uns dois degraus acima.
“Vamos Anne, venha comigo.” A voz doce tocou minha mente no mesmo instante que mãos gélidas tocaram as minhas. Eve subiu as escadas logo atrás de mim e Matt estava ao seu lado. Abracei meu corpo tentando buscar forças. Seguimos nos corredores até a sala antes de chegar ao meu quarto, antes que eu entrasse na porta em que chegaria a ele, Eve abriu a porta ao lado e gesticulou para que eu entrasse.
O quarto era semelhante ao meu, porém maior. Não havia ninguém ali. Sentei em um sofá ao lado da lareira que crepitava baixinho. O calor emitido por ela me fez sentir melhor, mesmo que pouco no meio daquela situação. Matt sentou ao meu lado e passou a mão pela minha cintura me aproximando mais dele. Eve ficou parada em pé ao lado da porta, como se esperasse alguém.
- Está melhor? – sussurrou Matt para mim. A preocupação tomava seu rosto.
Fiz que ‘sim’ com a cabeça e a apoiei em seu ombro, começando novamente a tentar limpar minha mente dos acontecimentos ruins recentes. Procurei pensar no lado positivo daquela situação, Matt estava ao meu lado, mas eu compensação Alex estava no hall se debatendo. Ok; não sou boa em ver o lado otimista. Desisto.
Click. A porta se abriu. Levantei a minha cabeça no mesmo instante. Sam e Michael estavam a poucos passos da porta com uma leve expressão de espanto. Michael parecia diferente desde a última vez que nos vimos. Seu rosto agora parecia mais velho e cansado. Ele sorriu levemente assim que me viu, mas eu não tinha forças para retribuir.
- Ela o viu não é? – Sam estava do meu lado antes de terminar a frase. Eu olhar caiu sobre Matt e eu senti a tensão novamente no ar. A boca de ambos se tornara agora uma fina linha e seus corpos ficaram mais rígidos.
- Antes que você comece, espero que você tenha entendido que a culpa não foi minha.
- Nunca é! Você sempre faz as coisas do seu jeito e acaba prejudicando as pessoas! Viu como ela está agora? – Sam explodiu e Matt se levantou no mesmo instante.
- Você só pode estar de brincadeira! Você sabe o que aconteceu? Você viu as coisas que aconteceram? Foi pura sorte eu e Pablo termos conseguido sair daquilo. – algo passou pelo rosto de Matt e eu não pude decifrar. Seu olhar vacilou para mim e voltou novamente para Sam que agora estava pálido.
- Pablo não me contou e não me deixou ver tudo o que aconteceu. – agora era frustração que tomava seu rosto.
- Isso por que ele ficou inconsciente boa parte do tempo. – Matt começou a desabotoar a camisa, trazendo a atenção de Eve que permanecia quieta do outro lado do cômodo.
A única coisa que conseguir fazer após ver o que Matt queria mostrar foi soltar um gemido de agonia. Cruzando a parte inteira da frente do seu corpo estava uma cicatriz avermelhada que ia do ombro esquerdo, até seu quadril direito. Ele se virou pra mim e me olhou como se desculpasse.
- Não tem o que temer Anne. – ele se virou para Sam – Eu tinha acabado de me alimentar, meu corpo ainda estava forte, essa cicatriz não me rendeu mais do que uma muda de roupa ensangüentada.
- O que exatamente aconteceu? – a voz de Sam agora soava diferente. Ele se sentou ao meu lado, onde Matt estava há pouco tempo. Seu olhar ainda preso nele, que andou até mais a frente ficando colado a lareira. Um sorriso zombeteiro tomando seu rosto.
- Não vai ser dessa forma que você vai descobrir o que aconteceu.
Sam revirou os olhos e olhou de relance para mim. Eu sabia que ele não iria deixar Matt contar o que acontecera na minha frente. Eve entendeu que havia algo errado e circundou o local, parando do meu outro lado.
- Não na frente dela. – Sam falou entre os dentes. Rá, previsível.
- Ela já é bem grandinha pra saber o que está acontecendo em volta dela. – vociferou Matt.
- Não na frente dela.
- Que diabos está acontecendo? – a voz histérica fez todos pararem. Demorou um tempo pra que eu notasse que havia sido eu que gritei.
“Fique calma, relaxe.” Meus pensamentos entraram novamente em calmaria. A voz doce ecoando na minha mente.
- Sam, eu sou grande e responsável o bastante pra saber das coisas que estão acontecendo em minha volta. Já que as mesmas me têm envolvida. Eu não vou enlouquecer, nem me deixar levar por uma crise de histeria aguda. – eu sorri de leve para ele e me virei para Eve sentindo ainda sua presença em mim – Confie em mim, por favor. – o tom calmo de minha voz surpreendeu não somente a eles, como a mim mesma.
Sam parecia relutante, mas indicou para que Matt continuasse. Ele apoiou sua mão na minha.
- Logo depois que vocês saíram, Louise estava obstinada em limpar qualquer coisa que tivesse o cheiro da Anne. – Matt permanecia com a camisa desabotoada e a cicatriz me encarava ali, vermelha e irritadiça. Eu engoli seco e tentei focalizar no rosto dele – Quatro de nós ainda estavam na casa, sem ser eu, Pablo, Louise e Leonard. Pablo lembrou a Louise que Anne havia estado no jardim dos fundos e algo poderia ter ficado para trás e ela foi verificar.
“Os outros quatro, foram embora assim que ela estava indo para lá. Louise começou a demorar e ficamos inquietos. Quando estávamos prestes a entrar na casa, ouvimos um grito dela pedindo para que corrêssemos. As coisas aconteceram rápido demais. O cheiro inconfundível nos atingiu e os ataques começaram. Eles eram 7 contra nós três.
Eu estava lutando com dois e Pablo com 4. Contudo ele estava se dando bem. Eles tinham mandado guerreiros incompetentes que pareciam mais perdidos do que outra coisa. Um grito de Louise vindo novamente dos fundos retirou a atenção de Pablo e os dois que sobravam aproveitaram do momento para arremessar ele contra a parede. Ele ficou inconsciente, mas eu e Leonard demos conta dos que restaram. Assim que acabamos com o ultimo deles, corremos ao auxilio de Louise... – eu prendi a minha respiração esperando ouvir o pior e percebi que Michael fizera o mesmo do outro lado – Mas ela não estava mais lá. O rastro ia floresta adentro e eu pedi que Leonard ajudasse a limpar as coisas e ajudar Pablo.
O rastro ainda estava fresco e fácil de seguir. Mas eles não eram bobos e chegou um trecho em que o cheiro se bifurcava. Eu não consegui identificar qual deles estava carregando Louise. Um dos rastros ia em direção ao Norte, saindo completamente de Foester e o outro voltava pra cidade. Eu arrisquei o menos obvio, esperando que eles achassem que eu iria escolher o outro e peguei a trilha que retornava a cidade.
Quem eu perseguia era igualmente rápido e ficou difícil alcançá-lo. O cheiro começava a se intensificar, porém parecia diferente. Notei então que não era só um a quem eu perseguia e sim 6. – Respira Anne, respira – Continuei seguindo-os até que comecei a avistar uma movimentação estranha na frente. Diminui o passo e avistei os 6, infelizmente nenhum carregava Louise. A frustração me tomou e eu estava prestes a retornar o caminho, implorando para que o outro rastro estivesse ainda intacto quando uma voz me chamou a atenção logo a frente.
Era ele. Augustus estava ali, parado a poucos metros de mim. Me surpreendi que ninguém ali havia sentido meu cheiro. Eles pareciam ocupados com alguma coisa e eu pegava pequenos trechos da conversa deles, mas nada coerente.
Estávamos perto demais das casas, tanto que eu conseguia ouvir a voz de um grupo que se aproximava da calçada que margeava a floresta. Eram apenas estudantes. Os sete se apressaram atravessaram a estrada, parando em um terreno vazio ao lado de uma das casas que ficava do outro lado. A vegetação estava densa e alta ali e eles puderam se esconder. Eu avancei alguns metros procurando melhorar minha visão dos acontecimentos. Os estudantes se despediram de dois deles e riam alto.
Os dois que ficaram na calçada eram Marina, amiga de Anne na escola, e Alex. – Respira, não é difícil assim Anne – Eles cochicharam alguma coisa que não entendi e ela se juntou novamente ao grupo que já estava perto da esquina. Alex esperou que desaparecessem e atravessou a rua logo em seguida. Eu fiquei sem reação quando reparei no que eles queriam. Era Alex que eles estavam esperando.
Foi uma ação impensada, mas eu me joguei a toda velocidade para perto dele. Eu não ia simplesmente deixá-lo ali morrer na mão daqueles malditos. – a voz de Matt vacilou pela primeira vez, eu sabia por que. Ele havia passado por uma situação parecida e Sam o salvou da morte. – Empurrei ele para longe e ele caiu assustado. Eles zombaram de mim pelo meu ato. Era covardia sete contra um. Mas eu não tinha alternativa e parti para cima deles. Dois foram a frente e protegeram Augustus da minha investida. Ao contrario daqueles que atacaram a casa, esses eram guerreiros experientes e logo ficaram em vantagem. Todos assistiam a tudo calados, inclusive Alex que ficara mortificado ao chão.
Eu vacilei meu olhar por um instante e isso bastou para que eles conseguiram me vencer. Foi nesse momento que eu ganhei essa cicatriz e se não fosse Leonard e Pablo que vieram atrás de mim, eu não estaria aqui. Continuamos lutando até que depois de perder 4 dos 6 guardiões, aquele maldito começou a recuar e se sentir ameaçado.
Aproveitamos a vantagem para sair dali. Carreguei Alex até a casa e de lá partimos o mais rápido possível. Alex estava em estado de choque e não dizia uma palavra. Paramos na estrada e tentamos descobrir um jeito de trazê-lo até aqui. Conseguimos alugar um jatinho particular, e foi assim que chegamos aqui.”
Todos na sala permaneceram em silencio por um bom tempo. Eu lutava para manter meu rosto sem expressão. Depois de um tempo foi Sam que falou primeiro.
- Louise? – sua voz angustiada.
Matt balançou a cabeça negativamente. O silencio constrangedor ressurgindo no ambiente. Cada rosto continha uma expressão distinta. Sam parecia horrorizado, Michael parecia lutar para engolir tudo o que foi falado, Matt sofria com tudo o que acabara de falar e Eve, bem, Eve parecia calma e seu rosto permanecia sem expressão. Eu tentava fazer o mesmo e isso me fez crer que ela igualmente nervosa como eu por dentro e aquilo não passava de uma mascara.
- Por que Alex? – fui eu a primeira a falar.
Matt riu sem humor e olhou para Sam. Pela primeira vez percebi que ele deixou-o ler por livre e espontânea vontade e isso me fez crer que a verdade doía nele.
Com um reflexo instantâneo do que Matt acabara de lhe mostrar, Sam jogou a cabeça para traz, soltando nossas mãos e as levando até suas têmporas.
- Por que Alex? – repeti. Eu odiava esse joguinhos mentais.
Ninguém parecia disposto a falar.
- Por que Alex? – dessa vez minha voz tinha um toque de histeria.
- Ele é igual a você Anne. Igual. – disse Sam. Mas ele não olhava para mim.
- Igual a mim? – minha mente voltando ao turbilhão de pensamentos e deixando de lado a calmaria trazida por Eve.
- Meio-vampiro, meio-humano. – dessa vez quem falou foi Matt.
“Relaxe.” Mas dessa vez, nem a voz tranqüilizadora foi suficiente para me livrar de toda a tensão. Eu tinha certeza que agora, todo meu esforço de manter meu rosto inexpressivo, havia acabado. Eu só conseguia me concentrar nos ‘porquês’.
Por que eu? E agora por que com Alex? Por que éramos aberrações?
- Eve vá tranqüilizar o garoto. – Sam disse com sua voz trazendo um tom nada bom.
Eve prontamente saiu em direção a porta sem dizer nada, mas antes que ela saísse eu gritei.
- Não! Deixa que eu falo com ele.
Os rostos viraram para mim trazendo expressões mortificadas.
- Eu quero falar com ele. – disse por fim.
- De maneira alguma, Anne. Ele está fora de si, você viu lá em baixo. Deixe Eve e mais algum de nós tranqüilizá-lo. – disse Sam.
- Sam, ele está assustado. Ele não conhece ninguém aqui e está em um ambiente que nunca esteve antes. Tenho certeza que ele irá ouvir alguém que está habituado a ver do que um estranho qualquer. – converti o resto da minha força para manter meu rosto e minha voz calmos.
Sam parecia não saber lidar com a situação e depois de um curto tempo em silencio, indicou para que eu fosse. Eu lhe dei um breve sorriso e ele pediu que Eve ficasse comigo e eu não reclamei. Eu me sentia mais forte ao lado dela.
Andei pelos corredores sendo guiada por Eve. Tentei não levar minha linha de pensamentos para nada do que Matt havia contado. Me concentrei em pensar em algumas palavras que pudessem ajudar Alex a entender o que estava passando. Lembrei de quando Sam havia me contado tudo, a verdade sobre o que eles eram e como eu reagi. Pensando eu notei que eu havia aceitado as coisas bem. Por que vamos parar pra pensar, vampiros não é nada que se possa descobrir com um sorriso na cara e continuar com ele. Prometi de tentar fazer tudo de uma forma mais simples, mas cadê as palavras que tornavam isso tudo simples? Ok; elas não existiam.
Chegamos em um corredor mais largo que ficava do lado das escadas, do lado oposto aonde ficava o corredor que se dirigia ao meu quarto. Dois vampiros altos guardavam a frente de uma porta e Leonard estava na frente dela, recostado na parede oposta. Ele acenou para nós e fomos para perto dele, mas meu olhar preso na porta e nos gritos que vinham de dentro dela. Era Alex.
- Ele não quer escutar ninguém. – disse Leonard com uma voz preocupada.
- Anne vai falar com ele. – a voz de Eve calma como sempre.
Leonard parecia relutante, mas gesticulou para que os guardas abrissem a porta.
Eu entrei com passos largos e procurei o rosto conhecido dentro do cômodo. A porta se fechou no mesmo momento que eu o encontrei. Eu podia ver o desespero emanando de seu rosto que olhava para a janela trancada como se pudesse abri-la com um simples pensamento. Seu rosto mais pálido do que antes e com os olhos cheios de lagrimas. O sentimento de pena me inundando. Ele finalmente percebeu que eu entrara no quarto e me olhou suplicante.
- Anne... – sua voz chorosa.
Eu não disse nada e me sentei do outro lado da cama onde ele estava apoiando a cabeça na cabeceira. Eu procurava as palavras certas para começar.
- Eles te raptaram também.
O choque percorreu meu corpo, mas me lembrei que era isso que as outras pessoas pensavam sobre o que havia acontecido comigo.
- Eu vim de livre e espontânea vontade. – minha voz saiu calma enquanto eu tentava desfazer o mal entendido.
- Por que? Seus pais estão desesperados a sua procura, a cidade toda está chocada como você desapareceu.
As palavras me deixaram tonta, mas eu lutei contra o efeito delas. Eu me sentia de alguma forma bem em poder explicar tudo para alguém, pelo menos um alguém.
- Eles não são... – eu respirei fundo por que essa verdade me doía mais de todas – meus pais verdadeiros. Eu fui adotada ainda bebe e minha família está aqui agora.
Ele não lutava para esconder seus sentimentos naquele momento e seu rosto tomou um tom de surpresa.
- Sua família? Anne, eu os vi lutando... Eles não pareciam nem humanos. Um deles, o que estava na nossa sala, Matt... Ele... – suas palavras pareciam tentar me convencer, mesmo que aquilo parecesse estranho – Ele levou um corte muito feio e em menos de um minuto ele já estava parcialmente cicatrizado. Acredite em mim, eu vi o que aconteceu.
- Eu acredito. – disse tentando soar compreensiva.
O silencio veio a tona e Alex me olhava na duvida se eu realmente acreditava no que ele falara.
- Por que eu? Por que isso está acontecendo comigo Anne? Eu só queria entender. – eu conhecia muito bem essas indagações, a pouco tempo atrás eu fizera as mesmas procurando obter uma resposta.
- Eu já passei por isso Alex, e sei como você se sente mais do que qualquer um daqui. Te peço calma. As respostas vão chegar no seu devido momento.
- Você tem como me dar alguma delas?
Eu acenei positivamente e me preparei para começar a falar.
- Por que você? É algo que eu não posso responder. Mas eu posso tentar te colocar em uma caminho para entender. Você acertou em um ponto Alex. Eles não são realmente humanos.
Eu esperei ele digerir essas palavras, rezando para que ele não surtasse da forma que eu fiz. O choque não demorou muitos segundos em seu rosto e eu passei a crer que ele sabia disso desde que vira a pequena batalha na porta de sua casa.
- Se eles não são humanos, eles... – sua voz estava parcialmente calma para aquela situação, e eu não pude deixar de sentir uma ponta de inveja pelo o modo que ele estava lidando com aquela coisa toda de descobrir seres não-humanos. Mas ele não havia escutado a parte mais problemática e me perguntei se ele surtaria após ouvi-la.
Eu levantei uma das sobrancelhas esperando sair tão legal como era nos filmes.
- Pode falar Anne, eu vou tentar ser razoável. – sua voz parecia sincera e me deixou confiante para continuar.
- Eles são vampiros.
Pronto. Eu disse. Agora só me restava ler a sua expressão, tentando decifrar o que passava em sua mente. Eu vi vários sentimentos passarem por ele, a confusão, o medo e por ultimo e menos previsível, nada. Seu rosto ficara sem expressão.
- Você humana, supostamente vivendo com vampiros. – sua voz tinha um leve tom de zombaria e me fez lembrar do Alex que eu conheci no colegial. Nunca nos damos muito bem e nosso maior dialogo era de ‘bom dia’. O modo que ele falou deixou claro a sua descrença pelo o que eu acabara de falar e aquilo me deixou com uma ponta de raiva.
- Sim, eu humana vivendo com vampiros, que no caso, um deles é meu irmão. – eu cruzei meus braços infantilmente, com o ódio aumentando cada vez mais pela expressão como Alex me olhava. Ele achava que eu era doida.
- Você é louca! – disse ele se levantando. Muito previsível a sua pessoa, Alex.
- Não, eu não sou louca. Você mesmo disse que eles não pareciam humanos.
Eu vi a duvida passando por seu rosto e indo embora rapidamente.
- Vampiros não existem. – ele insistia.
Eu levantei indo até sua frente, encarando-o. Ele cruzou os braços da mesma forma que eu e continuou ali. Eu quase desejei que um dos moradores daqui atacasse Alex para que ele passasse a acreditar no que eu estava falando. Quase. Mas eu não via forma de o fazer convencer a não ser essa.
A porta abriu e Eve entrou no quarto. Seu rosto calmo como sempre. Ela usava roupas simples, mas mesmo assim era perfeita. Seus cabelos estavam soltos, fazendo um incrível contraste com a sua pele pálida. Ela era de minha altura e parecia frágil. Bem, creio que só parecia.
- Anne está falando a verdade, Alex. – sua voz era doce.
Alex ficou mudo por um tempo, seu rosto passava de confuso a surpreso e eu entendi o que estava acontecendo. Eve estava falando com ele mentalmente. Sorri satisfeita.
Meu sorriso aumentou ao ver a cara de espantado dele.
- Isso é loucura. – disse ele.
- Mas é verdade.
O silencio tomou o local. Eu permanecia estudando o rosto de Alex, esperando uma reação inesperada. Eu comecei a sentir uma leve pontada no estomago e lembrei que não havia comido nada, tentei ignorá-la, mas ela aumentava cada vez mais.
- Vá Anne, você precisa se alimentar. Já fez um bom trabalho.
Já disse que odeio esses joguinhos de ‘leia minha mente e descubra o que eu to pensando’?
Eu ia recusar o convite e estava abrindo a boca para fazer, quando Alex me interrompeu.
- Vá vocês duas. Eu preciso ficar sozinho. – algo em sua voz me fez sentir pena. – Por favor.
Eve assentiu com a cabeça e foi indo em direção a porta, mas em mim, algo dizia que eu tinha que ficar perto dele, talvez a semelhança em nossas situações me dissesse isso.
- Você vai ficar bem? Tem certeza?
- Eu não vou fazer nada de estúpido. Te prometo. – ele acrescentou uma careta no final na frase, que eu entendi como um sorriso. Ou uma tentativa de um.
Relutante eu deixei o quarto e fui com Eve em direção a cozinha. Onde Matt me esperava.