quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Capitulo Vinte e Um - Um outro alguem

Aquela cena foi me sufocando aos poucos. Eu não conseguia falar, nem muito menos gritar. Eu sentia as palavras presas na minha garganta, mas era impossível tirá-las dali. Alguém me puxava sem sucesso, minhas pernas estavam travadas.
- Anne? ANNE! – Alex gritou ao reparar a minha presença. Ele se debatia inutilmente contra os braços de Pablo.
Tentei responder ao seu chamado, mas tinha certeza que não havia conseguido mover nem os meus lábios.
- Vamos, vamos! Por favor! – aos poucos tudo começou a ficar mais nítido. Consegui em fim, reparar em Matt me puxando e suplicando para que eu subisse as escadas novamente e saísse do meio daquela confusão.
Mais rostos agora chegavam à sala, mas eu os ignorava. Minha atenção estava presa ao garoto assustado no centro de tudo. Seu cabelo loiro estava emaranhado, seu rosto pálido e contada com olheiras terrivelmente arroxeadas. Ele parecia fraco e pude notar pequenos arranhões em seus braços.
Um arrepio passou pelo meu corpo. Aquele terrível pesadelo. O grito voltou a ecoar na minha cabeça e fui obrigada a desviar meu olhar. Não queria aquelas cenas novamente presentes em cada pensamento meu.
Parei de resistir a força que fazia contra o esforço de Matt e deixei que ele me puxasse uns dois degraus acima.
“Vamos Anne, venha comigo.” A voz doce tocou minha mente no mesmo instante que mãos gélidas tocaram as minhas. Eve subiu as escadas logo atrás de mim e Matt estava ao seu lado. Abracei meu corpo tentando buscar forças. Seguimos nos corredores até a sala antes de chegar ao meu quarto, antes que eu entrasse na porta em que chegaria a ele, Eve abriu a porta ao lado e gesticulou para que eu entrasse.
O quarto era semelhante ao meu, porém maior. Não havia ninguém ali. Sentei em um sofá ao lado da lareira que crepitava baixinho. O calor emitido por ela me fez sentir melhor, mesmo que pouco no meio daquela situação. Matt sentou ao meu lado e passou a mão pela minha cintura me aproximando mais dele. Eve ficou parada em pé ao lado da porta, como se esperasse alguém.
- Está melhor? – sussurrou Matt para mim. A preocupação tomava seu rosto.
Fiz que ‘sim’ com a cabeça e a apoiei em seu ombro, começando novamente a tentar limpar minha mente dos acontecimentos ruins recentes. Procurei pensar no lado positivo daquela situação, Matt estava ao meu lado, mas eu compensação Alex estava no hall se debatendo. Ok; não sou boa em ver o lado otimista. Desisto.
Click. A porta se abriu. Levantei a minha cabeça no mesmo instante. Sam e Michael estavam a poucos passos da porta com uma leve expressão de espanto. Michael parecia diferente desde a última vez que nos vimos. Seu rosto agora parecia mais velho e cansado. Ele sorriu levemente assim que me viu, mas eu não tinha forças para retribuir.
- Ela o viu não é? – Sam estava do meu lado antes de terminar a frase. Eu olhar caiu sobre Matt e eu senti a tensão novamente no ar. A boca de ambos se tornara agora uma fina linha e seus corpos ficaram mais rígidos.
- Antes que você comece, espero que você tenha entendido que a culpa não foi minha.
- Nunca é! Você sempre faz as coisas do seu jeito e acaba prejudicando as pessoas! Viu como ela está agora? – Sam explodiu e Matt se levantou no mesmo instante.
- Você só pode estar de brincadeira! Você sabe o que aconteceu? Você viu as coisas que aconteceram? Foi pura sorte eu e Pablo termos conseguido sair daquilo. – algo passou pelo rosto de Matt e eu não pude decifrar. Seu olhar vacilou para mim e voltou novamente para Sam que agora estava pálido.
- Pablo não me contou e não me deixou ver tudo o que aconteceu. – agora era frustração que tomava seu rosto.
- Isso por que ele ficou inconsciente boa parte do tempo. – Matt começou a desabotoar a camisa, trazendo a atenção de Eve que permanecia quieta do outro lado do cômodo.
A única coisa que conseguir fazer após ver o que Matt queria mostrar foi soltar um gemido de agonia. Cruzando a parte inteira da frente do seu corpo estava uma cicatriz avermelhada que ia do ombro esquerdo, até seu quadril direito. Ele se virou pra mim e me olhou como se desculpasse.
- Não tem o que temer Anne. – ele se virou para Sam – Eu tinha acabado de me alimentar, meu corpo ainda estava forte, essa cicatriz não me rendeu mais do que uma muda de roupa ensangüentada.
- O que exatamente aconteceu? – a voz de Sam agora soava diferente. Ele se sentou ao meu lado, onde Matt estava há pouco tempo. Seu olhar ainda preso nele, que andou até mais a frente ficando colado a lareira. Um sorriso zombeteiro tomando seu rosto.
- Não vai ser dessa forma que você vai descobrir o que aconteceu.
Sam revirou os olhos e olhou de relance para mim. Eu sabia que ele não iria deixar Matt contar o que acontecera na minha frente. Eve entendeu que havia algo errado e circundou o local, parando do meu outro lado.
- Não na frente dela. – Sam falou entre os dentes. Rá, previsível.
- Ela já é bem grandinha pra saber o que está acontecendo em volta dela. – vociferou Matt.
- Não na frente dela.
- Que diabos está acontecendo? – a voz histérica fez todos pararem. Demorou um tempo pra que eu notasse que havia sido eu que gritei.
“Fique calma, relaxe.” Meus pensamentos entraram novamente em calmaria. A voz doce ecoando na minha mente.
- Sam, eu sou grande e responsável o bastante pra saber das coisas que estão acontecendo em minha volta. Já que as mesmas me têm envolvida. Eu não vou enlouquecer, nem me deixar levar por uma crise de histeria aguda. – eu sorri de leve para ele e me virei para Eve sentindo ainda sua presença em mim – Confie em mim, por favor. – o tom calmo de minha voz surpreendeu não somente a eles, como a mim mesma.
Sam parecia relutante, mas indicou para que Matt continuasse. Ele apoiou sua mão na minha.
- Logo depois que vocês saíram, Louise estava obstinada em limpar qualquer coisa que tivesse o cheiro da Anne. – Matt permanecia com a camisa desabotoada e a cicatriz me encarava ali, vermelha e irritadiça. Eu engoli seco e tentei focalizar no rosto dele – Quatro de nós ainda estavam na casa, sem ser eu, Pablo, Louise e Leonard. Pablo lembrou a Louise que Anne havia estado no jardim dos fundos e algo poderia ter ficado para trás e ela foi verificar.
“Os outros quatro, foram embora assim que ela estava indo para lá. Louise começou a demorar e ficamos inquietos. Quando estávamos prestes a entrar na casa, ouvimos um grito dela pedindo para que corrêssemos. As coisas aconteceram rápido demais. O cheiro inconfundível nos atingiu e os ataques começaram. Eles eram 7 contra nós três.
Eu estava lutando com dois e Pablo com 4. Contudo ele estava se dando bem. Eles tinham mandado guerreiros incompetentes que pareciam mais perdidos do que outra coisa. Um grito de Louise vindo novamente dos fundos retirou a atenção de Pablo e os dois que sobravam aproveitaram do momento para arremessar ele contra a parede. Ele ficou inconsciente, mas eu e Leonard demos conta dos que restaram. Assim que acabamos com o ultimo deles, corremos ao auxilio de Louise... – eu prendi a minha respiração esperando ouvir o pior e percebi que Michael fizera o mesmo do outro lado – Mas ela não estava mais lá. O rastro ia floresta adentro e eu pedi que Leonard ajudasse a limpar as coisas e ajudar Pablo.
O rastro ainda estava fresco e fácil de seguir. Mas eles não eram bobos e chegou um trecho em que o cheiro se bifurcava. Eu não consegui identificar qual deles estava carregando Louise. Um dos rastros ia em direção ao Norte, saindo completamente de Foester e o outro voltava pra cidade. Eu arrisquei o menos obvio, esperando que eles achassem que eu iria escolher o outro e peguei a trilha que retornava a cidade.
Quem eu perseguia era igualmente rápido e ficou difícil alcançá-lo. O cheiro começava a se intensificar, porém parecia diferente. Notei então que não era só um a quem eu perseguia e sim 6. – Respira Anne, respira – Continuei seguindo-os até que comecei a avistar uma movimentação estranha na frente. Diminui o passo e avistei os 6, infelizmente nenhum carregava Louise. A frustração me tomou e eu estava prestes a retornar o caminho, implorando para que o outro rastro estivesse ainda intacto quando uma voz me chamou a atenção logo a frente.
Era ele. Augustus estava ali, parado a poucos metros de mim. Me surpreendi que ninguém ali havia sentido meu cheiro. Eles pareciam ocupados com alguma coisa e eu pegava pequenos trechos da conversa deles, mas nada coerente.
Estávamos perto demais das casas, tanto que eu conseguia ouvir a voz de um grupo que se aproximava da calçada que margeava a floresta. Eram apenas estudantes. Os sete se apressaram atravessaram a estrada, parando em um terreno vazio ao lado de uma das casas que ficava do outro lado. A vegetação estava densa e alta ali e eles puderam se esconder. Eu avancei alguns metros procurando melhorar minha visão dos acontecimentos. Os estudantes se despediram de dois deles e riam alto.
Os dois que ficaram na calçada eram Marina, amiga de Anne na escola, e Alex. – Respira, não é difícil assim Anne – Eles cochicharam alguma coisa que não entendi e ela se juntou novamente ao grupo que já estava perto da esquina. Alex esperou que desaparecessem e atravessou a rua logo em seguida. Eu fiquei sem reação quando reparei no que eles queriam. Era Alex que eles estavam esperando.
Foi uma ação impensada, mas eu me joguei a toda velocidade para perto dele. Eu não ia simplesmente deixá-lo ali morrer na mão daqueles malditos. – a voz de Matt vacilou pela primeira vez, eu sabia por que. Ele havia passado por uma situação parecida e Sam o salvou da morte. – Empurrei ele para longe e ele caiu assustado. Eles zombaram de mim pelo meu ato. Era covardia sete contra um. Mas eu não tinha alternativa e parti para cima deles. Dois foram a frente e protegeram Augustus da minha investida. Ao contrario daqueles que atacaram a casa, esses eram guerreiros experientes e logo ficaram em vantagem. Todos assistiam a tudo calados, inclusive Alex que ficara mortificado ao chão.
Eu vacilei meu olhar por um instante e isso bastou para que eles conseguiram me vencer. Foi nesse momento que eu ganhei essa cicatriz e se não fosse Leonard e Pablo que vieram atrás de mim, eu não estaria aqui. Continuamos lutando até que depois de perder 4 dos 6 guardiões, aquele maldito começou a recuar e se sentir ameaçado.
Aproveitamos a vantagem para sair dali. Carreguei Alex até a casa e de lá partimos o mais rápido possível. Alex estava em estado de choque e não dizia uma palavra. Paramos na estrada e tentamos descobrir um jeito de trazê-lo até aqui. Conseguimos alugar um jatinho particular, e foi assim que chegamos aqui.”
Todos na sala permaneceram em silencio por um bom tempo. Eu lutava para manter meu rosto sem expressão. Depois de um tempo foi Sam que falou primeiro.
- Louise? – sua voz angustiada.
Matt balançou a cabeça negativamente. O silencio constrangedor ressurgindo no ambiente. Cada rosto continha uma expressão distinta. Sam parecia horrorizado, Michael parecia lutar para engolir tudo o que foi falado, Matt sofria com tudo o que acabara de falar e Eve, bem, Eve parecia calma e seu rosto permanecia sem expressão. Eu tentava fazer o mesmo e isso me fez crer que ela igualmente nervosa como eu por dentro e aquilo não passava de uma mascara.
- Por que Alex? – fui eu a primeira a falar.
Matt riu sem humor e olhou para Sam. Pela primeira vez percebi que ele deixou-o ler por livre e espontânea vontade e isso me fez crer que a verdade doía nele.
Com um reflexo instantâneo do que Matt acabara de lhe mostrar, Sam jogou a cabeça para traz, soltando nossas mãos e as levando até suas têmporas.
- Por que Alex? – repeti. Eu odiava esse joguinhos mentais.
Ninguém parecia disposto a falar.
- Por que Alex? – dessa vez minha voz tinha um toque de histeria.
- Ele é igual a você Anne. Igual. – disse Sam. Mas ele não olhava para mim.
- Igual a mim? – minha mente voltando ao turbilhão de pensamentos e deixando de lado a calmaria trazida por Eve.
- Meio-vampiro, meio-humano. – dessa vez quem falou foi Matt.
“Relaxe.” Mas dessa vez, nem a voz tranqüilizadora foi suficiente para me livrar de toda a tensão. Eu tinha certeza que agora, todo meu esforço de manter meu rosto inexpressivo, havia acabado. Eu só conseguia me concentrar nos ‘porquês’.
Por que eu? E agora por que com Alex? Por que éramos aberrações?
- Eve vá tranqüilizar o garoto. – Sam disse com sua voz trazendo um tom nada bom.
Eve prontamente saiu em direção a porta sem dizer nada, mas antes que ela saísse eu gritei.
- Não! Deixa que eu falo com ele.
Os rostos viraram para mim trazendo expressões mortificadas.
- Eu quero falar com ele. – disse por fim.
- De maneira alguma, Anne. Ele está fora de si, você viu lá em baixo. Deixe Eve e mais algum de nós tranqüilizá-lo. – disse Sam.
- Sam, ele está assustado. Ele não conhece ninguém aqui e está em um ambiente que nunca esteve antes. Tenho certeza que ele irá ouvir alguém que está habituado a ver do que um estranho qualquer. – converti o resto da minha força para manter meu rosto e minha voz calmos.
Sam parecia não saber lidar com a situação e depois de um curto tempo em silencio, indicou para que eu fosse. Eu lhe dei um breve sorriso e ele pediu que Eve ficasse comigo e eu não reclamei. Eu me sentia mais forte ao lado dela.
Andei pelos corredores sendo guiada por Eve. Tentei não levar minha linha de pensamentos para nada do que Matt havia contado. Me concentrei em pensar em algumas palavras que pudessem ajudar Alex a entender o que estava passando. Lembrei de quando Sam havia me contado tudo, a verdade sobre o que eles eram e como eu reagi. Pensando eu notei que eu havia aceitado as coisas bem. Por que vamos parar pra pensar, vampiros não é nada que se possa descobrir com um sorriso na cara e continuar com ele. Prometi de tentar fazer tudo de uma forma mais simples, mas cadê as palavras que tornavam isso tudo simples? Ok; elas não existiam.
Chegamos em um corredor mais largo que ficava do lado das escadas, do lado oposto aonde ficava o corredor que se dirigia ao meu quarto. Dois vampiros altos guardavam a frente de uma porta e Leonard estava na frente dela, recostado na parede oposta. Ele acenou para nós e fomos para perto dele, mas meu olhar preso na porta e nos gritos que vinham de dentro dela. Era Alex.
- Ele não quer escutar ninguém. – disse Leonard com uma voz preocupada.
- Anne vai falar com ele. – a voz de Eve calma como sempre.
Leonard parecia relutante, mas gesticulou para que os guardas abrissem a porta.
Eu entrei com passos largos e procurei o rosto conhecido dentro do cômodo. A porta se fechou no mesmo momento que eu o encontrei. Eu podia ver o desespero emanando de seu rosto que olhava para a janela trancada como se pudesse abri-la com um simples pensamento. Seu rosto mais pálido do que antes e com os olhos cheios de lagrimas. O sentimento de pena me inundando. Ele finalmente percebeu que eu entrara no quarto e me olhou suplicante.
- Anne... – sua voz chorosa.
Eu não disse nada e me sentei do outro lado da cama onde ele estava apoiando a cabeça na cabeceira. Eu procurava as palavras certas para começar.
- Eles te raptaram também.
O choque percorreu meu corpo, mas me lembrei que era isso que as outras pessoas pensavam sobre o que havia acontecido comigo.
- Eu vim de livre e espontânea vontade. – minha voz saiu calma enquanto eu tentava desfazer o mal entendido.
- Por que? Seus pais estão desesperados a sua procura, a cidade toda está chocada como você desapareceu.
As palavras me deixaram tonta, mas eu lutei contra o efeito delas. Eu me sentia de alguma forma bem em poder explicar tudo para alguém, pelo menos um alguém.
- Eles não são... – eu respirei fundo por que essa verdade me doía mais de todas – meus pais verdadeiros. Eu fui adotada ainda bebe e minha família está aqui agora.
Ele não lutava para esconder seus sentimentos naquele momento e seu rosto tomou um tom de surpresa.
- Sua família? Anne, eu os vi lutando... Eles não pareciam nem humanos. Um deles, o que estava na nossa sala, Matt... Ele... – suas palavras pareciam tentar me convencer, mesmo que aquilo parecesse estranho – Ele levou um corte muito feio e em menos de um minuto ele já estava parcialmente cicatrizado. Acredite em mim, eu vi o que aconteceu.
- Eu acredito. – disse tentando soar compreensiva.
O silencio veio a tona e Alex me olhava na duvida se eu realmente acreditava no que ele falara.
- Por que eu? Por que isso está acontecendo comigo Anne? Eu só queria entender. – eu conhecia muito bem essas indagações, a pouco tempo atrás eu fizera as mesmas procurando obter uma resposta.
- Eu já passei por isso Alex, e sei como você se sente mais do que qualquer um daqui. Te peço calma. As respostas vão chegar no seu devido momento.
- Você tem como me dar alguma delas?
Eu acenei positivamente e me preparei para começar a falar.
- Por que você? É algo que eu não posso responder. Mas eu posso tentar te colocar em uma caminho para entender. Você acertou em um ponto Alex. Eles não são realmente humanos.
Eu esperei ele digerir essas palavras, rezando para que ele não surtasse da forma que eu fiz. O choque não demorou muitos segundos em seu rosto e eu passei a crer que ele sabia disso desde que vira a pequena batalha na porta de sua casa.
- Se eles não são humanos, eles... – sua voz estava parcialmente calma para aquela situação, e eu não pude deixar de sentir uma ponta de inveja pelo o modo que ele estava lidando com aquela coisa toda de descobrir seres não-humanos. Mas ele não havia escutado a parte mais problemática e me perguntei se ele surtaria após ouvi-la.
Eu levantei uma das sobrancelhas esperando sair tão legal como era nos filmes.
- Pode falar Anne, eu vou tentar ser razoável. – sua voz parecia sincera e me deixou confiante para continuar.
- Eles são vampiros.
Pronto. Eu disse. Agora só me restava ler a sua expressão, tentando decifrar o que passava em sua mente. Eu vi vários sentimentos passarem por ele, a confusão, o medo e por ultimo e menos previsível, nada. Seu rosto ficara sem expressão.
- Você humana, supostamente vivendo com vampiros. – sua voz tinha um leve tom de zombaria e me fez lembrar do Alex que eu conheci no colegial. Nunca nos damos muito bem e nosso maior dialogo era de ‘bom dia’. O modo que ele falou deixou claro a sua descrença pelo o que eu acabara de falar e aquilo me deixou com uma ponta de raiva.
- Sim, eu humana vivendo com vampiros, que no caso, um deles é meu irmão. – eu cruzei meus braços infantilmente, com o ódio aumentando cada vez mais pela expressão como Alex me olhava. Ele achava que eu era doida.
- Você é louca! – disse ele se levantando. Muito previsível a sua pessoa, Alex.
- Não, eu não sou louca. Você mesmo disse que eles não pareciam humanos.
Eu vi a duvida passando por seu rosto e indo embora rapidamente.
- Vampiros não existem. – ele insistia.
Eu levantei indo até sua frente, encarando-o. Ele cruzou os braços da mesma forma que eu e continuou ali. Eu quase desejei que um dos moradores daqui atacasse Alex para que ele passasse a acreditar no que eu estava falando. Quase. Mas eu não via forma de o fazer convencer a não ser essa.
A porta abriu e Eve entrou no quarto. Seu rosto calmo como sempre. Ela usava roupas simples, mas mesmo assim era perfeita. Seus cabelos estavam soltos, fazendo um incrível contraste com a sua pele pálida. Ela era de minha altura e parecia frágil. Bem, creio que só parecia.
- Anne está falando a verdade, Alex. – sua voz era doce.
Alex ficou mudo por um tempo, seu rosto passava de confuso a surpreso e eu entendi o que estava acontecendo. Eve estava falando com ele mentalmente. Sorri satisfeita.
Meu sorriso aumentou ao ver a cara de espantado dele.
- Isso é loucura. – disse ele.
- Mas é verdade.
O silencio tomou o local. Eu permanecia estudando o rosto de Alex, esperando uma reação inesperada. Eu comecei a sentir uma leve pontada no estomago e lembrei que não havia comido nada, tentei ignorá-la, mas ela aumentava cada vez mais.
- Vá Anne, você precisa se alimentar. Já fez um bom trabalho.
Já disse que odeio esses joguinhos de ‘leia minha mente e descubra o que eu to pensando’?
Eu ia recusar o convite e estava abrindo a boca para fazer, quando Alex me interrompeu.
- Vá vocês duas. Eu preciso ficar sozinho. – algo em sua voz me fez sentir pena. – Por favor.
Eve assentiu com a cabeça e foi indo em direção a porta, mas em mim, algo dizia que eu tinha que ficar perto dele, talvez a semelhança em nossas situações me dissesse isso.
- Você vai ficar bem? Tem certeza?
- Eu não vou fazer nada de estúpido. Te prometo. – ele acrescentou uma careta no final na frase, que eu entendi como um sorriso. Ou uma tentativa de um.
Relutante eu deixei o quarto e fui com Eve em direção a cozinha. Onde Matt me esperava.