sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Capitulo Vinte - Novo Lar

O sol começava a nascer no horizonte. O céu agora tomava um tom de vermelho alaranjado. Meu rosto estava amassado contra o vidro do carro tentando identificar os borrões que passavam a minha volta. Meus braços começavam a ficar dormentes, mas eu estava tão exausta que não tinha coragem de me mexer. Eu ainda apertava o pingente com força, fazendo com que meu dedo polegar ficasse dolorido. Eu podia sentir o olhar de Sam em mim por toda a viagem, o que me deixava preocupada já que pela velocidade que ele estava, ele deveria prestar mais atenção na estrada.
Mesmo com os poucos raios solares que começavam a aparecer, eu podia ver que uma pequena cidade se aproximava. Sam diminuiu a velocidade do carro assim que as primeiras casas começaram a passar. Estiquei minhas pernas achando que finalmente havíamos chegado ao nosso destino.
- Ainda falta um pouco Anne. Nosso destino é fora da cidade. – a voz de Sam preencheu o carro e quebrou o silencio que pairava há horas.
Me virei , buscando esticar o máximo que dava dos meus braços e pernas, que agora estavam irritantemente doloridos.
A cidade passava agora mais lentamente do lado de fora. As pessoas poucas pessoas que estavam nas ruas, olhavam com curiosidade para o carro. Uma criança que estava no colo da mãe chegou a apontar para nós.
Matt. O pensamento surgiu em minha cabeça e eu me culpei por não ter reparado sua ausência antes. Sam havia me dito que Matt encontraria com a gente no aeroporto antes de partirmos para França. A preocupação começou a surgir e me sufocar. Algo havia acontecido pra os planos não seguirem da forma correta. Sam percebeu a minha aflição e me olhou intensamente, eu sabia o que ele estava fazendo e preferi assim, minha voz tinha novamente ficado presa em minha garganta.
- Eu também não sei Anne. – seu rosto se congelou numa expressão fria. – Ele me mandou uma mensagem, mas isso faz horas.
Fiz força para falar, minha voz saiu rouca.
- Que dizia a mensagem?
Ele apertou o volante, e eu podia sentir a tensão de seu corpo.
- Que ele ia se atrasar, só isso. Você não sabe o quanto isso me deixa... – ele respirou fundo e encostou a cabeça, mas seus braços estavam esticados nervosamente – Pode ter acontecido algo de grave.
Eu afundei na poltrona do carro, tentando ter pensamentos otimistas, mas do jeito que minha sorte andava provavelmente algo errado acontecera. Encostei meu rosto no vidro novamente e abracei meus joelhos. Agora, tentando desviar a minha cabeça desses pensamentos, tanto otimista quanto pessimista.
A cidade aos poucos ficava para trás e uma estreita estrada começava a surgir em nossa frente. Sam reduziu a velocidade até pararmos. Eu continuei na posição em que eu me encontrava, e esperei que Sam falasse alguma coisa. Eu senti seus dedos frios me virarem delicadamente, fazendo-nos ficar frente a frente.
- Falta menos de dois quilômetros para chegarmos ao nosso destino, e antes de tudo queria conversar algumas coisas com você Anne.
Eu indiquei com a cabeça para que ele continuasse.
- Bom, esse lugar pra onde vamos, é bem maior do que o que nós estávamos. A segurança de lá é mil vezes mais reforçada Anne, mas só te peço um favor, não tente sair dos limites da propriedade, nem sozinha... – ele fez uma pausa. - Nem com o Matt. Entendido?
Fiquei relutante em concordar com a promessa, mas acabei concordando com a mesma. Sam ficou calado novamente, sua respiração levemente acelerada. Esperei que ele continuasse.
- Queria te pedir paciência. – ergui a sobrancelha. – Paciência por que noto que você não gosta de ser o centro das atenções. – ele olhou pra mim e eu concordei rapidamente com a cabeça. – Pra onde estamos indo, infelizmente é isso que vai acontecer.
Eu fiz uma careta, mas aquilo não me surpreendeu. Em algumas das vezes em que parei para pensar e repensar tudo o que havia se passado nesse curto espaço de tempo, minha cabeça se focou nessa possibilidade. Percebi que seria o centro das atenções enquanto estivesse ao lado daqueles que agora era a minha família. Eu era diferente de qualquer um que estivesse ali, e ser diferente torna a pessoa algo a se olhar e tentar decifrar.
- Eu sabia que chamaria atenção sendo a humana entre vampiros. – forcei um sorriso, mas falar a verdade em voz alta era mais complicado do que pensar. Sam sorriu também, tendo mais facilidade do que eu.
- Você não é a única humana lá Anne. Existem alguns, poucos mas existem, filhos de vampiros que assim como você estão decidindo o que escolher.
As palavras foram um certo choque para mim. Limpei a expressão de meu rosto e tentei ser firme o máximo que conseguia.
- Eu já fiz a minha escolha.
Sam sorriu novamente, dessa vez demonstrando grande satisfação com o que eu acabara de dizer.
- Mas então, se há humanos lá, o que me faz ser o centro das atenções... É o fato de eu não ser somente humana... - Sam me interrompeu, me olhando novamente com um olhar indignado como fizera algumas vezes há algum tempo.
- Anne, você se lembra do que eu te contei na primeira vez? De toda a historia? Você é minha irmã Anne, seus pais eram Luna e Pietro. Isso significa muito mais do que ser humana ou vampira no mundo em que você está prestes a entrar. – ele não parecia aborrecido, porém seu tom de voz estava severo.
Havia me esquecido dessa coisa toda. Eu não gostava nem um pouco disso. Sam afagou meu rosto e beijou minha testa.
- Todos ali se importam com você Anne, e muitos me ajudaram a te encontrar.
Fiquei pensando nisso, enquanto Sam voltava para o volante e pisava no acelerador, entrando então na estreita estrada.
Menos de 20 minutos depois, eu pude ver o nosso destino e estava longe do que eu imaginei ser.
A construção era grande em todos os aspectos. Tanto na largura quanto em altura. O tom pastel predominava nas paredes. Podia-se notar que o lugar era antigo pela quantidade de detalhes que decoravam a fachada. Em contraste com isso, o local era cercado por uma grade preta de mais de dois metros de altura. Na nossa frente via-se um grande portão, que parecia ser a única entrada. Assim que chegamos a sua frente, ele se abriu. Olhando detalhadamente para cada canto se via uma escondida. Carros e mais carros, estavam dispostos no jardim, como se fossem flores.
No instante em que desci do carro, dezenas de pares de olhos verdes se direcionavam para mim. Senti meu rosto formigar na mesma hora. Um certo grupo que estava mais perto do nosso carro começou a se aproximar. Sam veio para o meu lado e eu o abracei escondendo parte do meu rosto em seu peito. Ele sussurrou que estava tudo bem, mas continuei parada onde estava.
- É o que eu estou pensando? – uma voz fina falou. Eu afastei um pouco meu rosto para saber de onde viera, e provavelmente havia sido de uma mulher pequenina que estava na nossa frente. Ela era um pouco mais baixa que eu, seus olhos eram vivos e brilhantes. Seu cabelo ruivo enrolava em cachos que estavam presos no alto da sua cabeça.
- Eu disse que tinha uma surpresa agradável. – disse Sam. Ele sorria radiante, e eu não pude deixar de sorrir. Eu me sentia bem o vendo daquela maneira.
Eu me virei, diretamente para todos aqueles que me olhavam, alguns confusos, outros com um sorriso no rosto. Eu sorri também tentando passar confiança. E antes aqueles que estavam confusos sorriram também. Aquilo me fez sentir cada vez melhor. Sam puxou meu rosto para perto dele e disse baixo:
- Precisamos ver algumas coisas. Vamos.
Ele acenou para algumas pessoas no caminho até a porta da casa. A mesma era feita de uma madeira brilhante com vários detalhes em cada canto. Sam empurrou a porta com uma certa facilidade, mesmo ela parecendo pesada demais.
Meus pés pararam assim que pude olhar o interior da casa. Se eu considerava a outra casa grande, ao havia explicações para esta. O lugar era enorme e altamente decorado. Um lustre pendia no meio do local, iluminando-o através de pequenos cristais. Uma escada se dividia em dois, com corrimões brilhando. O local ainda contava com inúmeros moveis, incluindo poltronas de diversos tipos e tamanho.
Mesmo estando menos movimentado do que o lado de fora da casa, o hall estava cheio também. Os olhares vieram para mim novamente, mas Sam dessa vez foi mais rápido me puxando delicadamente para a escada. O andar de cima estava vazio. Acompanhei Sam parando para olhar alguns detalhes no corredor de vez em quando. Era impressionante a variedade dos quadros e as coisas neles retratadas.
Passamos por um corredor que não havia paredes, apenas janelas que davam para visualizar tanto o interior, quanto o exterior da casa. Pude ver através dele, o imenso terreno que ficava atrás da propriedade, além da variedade de flores que havia nele.
Paramos numa sala vazia, que possuía quatro portas idênticas. Sam abriu a primeira delas e acenou pra que eu o seguisse. O sorriso tímido tomando seu rosto.
O lugar era um quarto, com todos os detalhes em azul. Paredes, almofadas, poltronas, cortinas. Tudo. A cama era enorme, com uma cabeceira toda detalhada com flores. Havia uma lareira e em volta dela duas poltronas com almofadas do mesmo tom de azul claro. O quarto ainda era mobilhado por diversos moveis. As cortinas estavam abertas, e a visão que eu tinha era do jardim.
Eu estava deslumbrada com tamanha riqueza de detalhes, e o tamanho cuidado. Sam parara um pouco mais a frente e me olhava com ternura.
- Gostou? - Perguntou ele.
- Eu estou sem palavras. É tudo tão... – as palavras fugiram da minha boca assim que me deparei com o quadro que estava acima da lareira. Um rosto delicado estava retratado em uma pintura. A mulher retratada aparentava ter uns 20 anos. Seu rosto tinha feições delicadas e marcadas. Seu olho era um tom de verde que eu já conhecia. Minha visão embaçou assim que as primeiras lágrimas começaram a surgir. Eu podia notar a semelhança agora mais do que nunca. Eu sabia quem era ela.
Sam me abraçou pelas costas e ficou olhando para o quadro junto a mim. Eu enxugava as lágrimas em vão. Como eu podia sentir falta de alguém que eu nunca vi? Não que eu pudesse me lembrar, mas era aquilo que eu sentia naquele momento. Eu sentia falta dela, queria ter o poder de voltar ao passado e tentar avisá-la de tudo o que aconteceu. As coisas podiam ser diferentes. Meus pais estariam comigo agora e minha família estaria reunida.
Mas infelizmente as coisas não aconteceram dessa maneira. Minha mãe estava morta, e morreu para me salvar. Essa verdade doía mais do que eu podia imaginar. Era uma dor terrível, que me deixava sem ar. Apertei novamente o meu colar, tentando extrair alguma lembrança, alguma coisa daquele objeto inanimado, mas nada. Só podia sentir a pedra gelada em meus dedos.
- Ela estaria realmente orgulhosa do que você se tornou Anne. – disse Sam. Sua voz estava chorosa. Eu levei minha mão até junto a dele, mas antes que eu pudesse dizer algo para ele, uma dor me arrastou para fora de mim como das outras vezes.
Meus joelhos cederam e eu caí. Com um grande esforço consegui sentar. Mas nada, nada podia me desviar do que estava acontecendo. Meus sentidos foram se perdendo aos poucos e a dor aumentando a cada respiração. Eu me esforçava para não cair nesse abismo. Eu sabia o que ia acontecer logo em seguida, minha ligação com aquele maldito ia começar. Eu não queria, não agüentaria aquela tortura.
Tentei voltar a tona, porém me parecia impossível. Algo começava a crescer em mim, algo estranho, a mesma sensação que eu tinha de estar em outro corpo. Só a curiosidade de saber o que estava por vir, me fez cair ainda mais no abismo. O ódio agora parecia fazer parte mim. Eu senti algo me chacoalhar e aquilo bastou para me ajudar. A ligação parecia mais fraca nesse instante e eu podia ouvir Sam gritar o meu nome. Alguém mais estava com ele agora.
- Tente Eve. Tente. – Sam suplicava para alguém.
Minha visão escura, mas podia ver que algo se aproximava. Eu não tinha forças mais para perguntar quem era. Eu simplesmente deixei que se aproximasse, senti uma mão me ajudando a subir e uma voz delicada me dizendo que estava tudo bem.
A claridade me atingiu e as coisas começaram a tomar forma. Alguém me colocara em cima da cama e prendido meu cabelo no alto. Minha respiração estava ofegante e eu me sentia exausta. Senti alguém segurar meu rosto com mãos frias, demorei certo tempo para notar quem era.
- Anne? Anne? Diz alguma palavra. Por favor. – Sam estava aflito na minha frente.
- Eu to bem. – as palavras saíram emboladas da minha boca, que agora eu notava que estava seca.
Olhei em volta procurando identificar quem me ajudara a sair daquele pesadelo. Na porta dois vampiros grandalhões me olhavam assustados. Ambos não pareciam ser quem havia me ajudado. Fiz um esforço enorme e me virei para o outro lado do quarto. Encostada a parede, estava a vampira ruiva que estava lá embaixo. Ela parecia exausta assim como eu. Ela olhava para o teto tentando retomar as forças. Sam olhava igualmente preocupado para ela.
Deixei minha cabeça cair no travesseiro e fechei meus olhos descansando, torcendo para que nada igual acontecesse novamente.
Não parecia ter se passado nem alguns minutos quando eu acordei. Meu corpo estava dolorido, mas minhas forças estavam retomadas. O quarto agora estava escuro e a única iluminação vinha da lareira. Sam estava sentado numa das poltronas e a vampira ruiva em outra. Ambos em silencio olhando para o fogo que ardia na sua frente.
- Que horas são? – perguntei.
Os dois olharam para mim assustados, provavelmente não notaram que eu havia acordado.
- Já é bem tarde Anne.
- Eu dormi tanto tempo assim?
Sam confirmou com a cabeça. Ele sentou na beira da cama e colocou a mão na minha testa.
- A febre parece ter cedido. – disse ele olhando em direção a lareira.
- Febre? – perguntei assustada.
Seu rosto endureceu. A vampira ruiva começou a andar em nossa direção parando a alguns passou da cama.
- Pode chegar mais perto Eve. – disse Sam.
Ela sorriu timidamente e deu a volta sentando do outro lado da cama. Eles voltaram a ficar em silencio, me deixando mais agoniada.
- Foi você que me ajudou não é? – perguntei me dirigindo a ela.
Ela confirmou com a cabeça e olhou para Sam que olhava para fora parecendo distante.
- Muito obrigado. Eu não teria conseguido sem você. – eu sorri mesmo sentindo uma ardência no rosto.
- Eve. – ela estendeu a mão pequenina na minha frente. Eu a segurei delicadamente não me surpreendendo com a frieza.
- Anne. – disse. Ela riu baixinho.
Sam se mexeu inquietamente.
- Eu... Droga! – ele levantou bruscamente. Eve soltou minha mão e se levantou também. Ela cruzou os braços e olhou para Sam com uma expressão estranha. – Não adianta Eve. – berrou Sam. Eu me sentei bruscamente o que fez minha cabeça latejar.
- Então se comporte. Sente, e converse. Como eu disse para fazer. – disse ela furiosa.
- Você não manda em mim. Já disse que não vou fazer isso com ela.
- Então eu faço. – ela se virou pra mim, mas antes que pudesse dizer alguma coisa Sam estava ao seu lado, segurando sua mão. – Me solta. – vociferou ela.
- Saia, Eve!
- Você está me machucando Sam.
- Pare vocês dois. – gritei levantando da cama. Minha cabeça girou, mas consegui me manter em pé. – Me diga Eve, o que ele quer de mim. Achei que a essa altura Sam não me escondesse segredos. – ele abaixou a cabeça e soltou-a, sentando na beirada da cama.
- Sam, - começou ela – queria saber o que você viu, ou sentiu. Talvez viesse a ter algo útil para nos ajudar.
Eu olhei para Sam, incrédula. Era isso?
- Achei que você não gostaria de pensar no que aconteceu. Se preferir me mostrar eu...
Sentei ao seu lado e encostei minha cabeça em seu ombro. Ele passou seu braço por trás de mim, me trazendo para mais perto dele. Eve ficou parada em nossa frente, braços cruzados e uma expressão séria.
- Eu preferia falar Sam. É melhor do que ver tudo aquilo de novo. – senti seus braços se apertando mais em minha volta. – As coisas aconteceram rápido demais. Não consegui ver nada. Somente sentia um ódio sem tamanho. Até que Eve me tirou de lá. Não houve mais nada a não ser isso.
Os dois ficaram em silencio, olhando um para o outro. A primeira a falar foi Eve.
- Algo pra ele deu errado. Creio que esteja ligado aos que ficaram.
- Matt me ligou dizendo que estava a caminho e assim que chegasse aqui, me diria o que aconteceu.
- Matt? – perguntei desesperada.
- Ele está bem Anne, como eu estava dizendo, algo aconteceu e só quando estivesse próximo aqui ele me ligaria para falar.
- Pode sim, ter ligação com o que a Anne sentiu. – Eve parecia distante agora. – Começo a sentir ele, deve chegar aqui amanha a tarde.
- Sentir? – perguntei dessa vez para Eve, mas foi Sam que respondeu.
- Eve é como... Eu. Só que mais irritante. – ele sorriu para ela meio sem graça, ela ignorou-o.
- Como você? – perguntei novamente, dessa vez ela que falou.
- Sou especial Anne. Posso visitar a mente das pessoas. Senti-las de uma forma diferente e me comunicar com elas através de suas consciências.
- Foi assim que você conseguiu me ajudar.
- Sim. – ela sentou do outro lado de Sam, encostando a sua cabeça na cabeceira. – Mas eu tenho um preço com isso. Tentar qualquer coisa desse tipo me deixa exausta, e minha cabeça se confunde com a sua. Meus pensamentos não são os únicos aqui – ela apontou pra sua cabeça – agora.
Senti certa simpatia a mais por Eve. Eu sabia como era ruim sentir o que os outros sentiam. O silencio tomou novamente o quarto. Do lado de fora se podia ouvir vozes vinda lá de baixo.
- Você é um idiota. – Eve levantou sorrindo olhando para Sam.
Eu senti uma ligação entre os dois. Algo que eu não pude explicar, mas eu sabia que havia. Os dois eram iguais em certos ângulos. Ambos tinham que conviver ouvindo os outros e não havia segredos entre eles. Provavelmente Sam dissera algo apara Eve através de sua cabeça. Era algo que nunca poderia saber.
- Vai descer? – perguntou Sam.
- Sim. Eu... – ela olhou para mim duvidosamente – preciso me alimentar.
- Pode ficar com ela enquanto pego algo para ela comer?
Eve sorriu e voltou para o meu lado.
Sam me soltou delicadamente e antes que eu pudesse me dar conta, já havia saído. A porta já ia bater quando ele apareceu novamente.
- Eve? – disse ele com aquele sorriso de menino.
- Sim.
- Tente não falar nem fazer nada idiota. Lembre-se que é tudo novo para ela.
Ela levantou uma sobrancelha e riu docemente.
- Sam?
- Sim. – disse ele debochando.
- Trás uma garrafa pra mim.
Ele revirou os olhos.
- Coisas idiotas tipo isso Eve. – e saiu.
Ela me olhou travessamente.
- Garrafa? – perguntei.
- É um tipo de alimento industrializado. Como se fosse a comida de microondas de vocês.
- Comida de microondas?
- É um sangue engarrafado. É meio sintético. Tem gosto de nada, mas ajuda. – ela parecia relaxada dizendo isso. – Ah, e não surta Anne. Sam me mataria.
Eu dei um meio sorriso para ela e levantei devagar, meus músculos ainda doíam. Eve olhava cada passo que eu dava minha cabeça agora pensando num ponto.
- Você viu cada pensamento que eu tive? – perguntei ainda andando devagar.
- Sim. Sua cabeça é muito engraçada. Você é uma menina forte, mas tem bom coração. Senti a sua preocupação com aqueles que te cercam. Sam principalmente, e...
- Matt. Você o conhece?
- Claro. Ele é um bom menino também. Possui algumas características incomuns, e tem opiniões muito diferentes de todos nós.
- Você disse que podia senti-lo. Pode ver se ele está bem? – voltei agora para a cama e sentei perto dela. Ela demorou a responder.
- Desculpe Anne. Estou fraca demais, e ele ainda está longe. Mas ele está bem. Só não consigo ver como se sente. Peguei rapidamente um pensamento vindo dele. E adivinha o que ele estava pensando?
Balancei a cabeça. Realmente não fazia idéia do que poderia ser.
- Está pensando em você Anne. – ela sorriu e eu, retribui. – Pude sentir devoção no modo como ele pensava em você.
- Espero que ele chegue logo.
- Não vai demorar. Só não tente se focar no tempo, que ele custa a passar se for feito assim.
Sam voltou e eu comi silenciosamente. Eve desceu logo em seguida sorrindo pra mim ao sair. Eu gostei da presença dela.
- Eve é encantadora e irritante ao mesmo tempo. – disse Sam, olhando para o lado de fora da janela.
Eu estava muito exausta pra reclamar sobre Sam estar na minha mente. Deixei minha cabeça tombar na cama e meus olhos foram ficando pesados.
Um barulho constante me acordou. O sol já preenchia o quarto, que estava vazio. Na beira da cama estava um bilhete, escrito a mão.
‘’ Tive que resolver algumas coisas. Volto antes do almoço. Divirta-se. Sam’’
Divirta-se? Ele só podia estar brincando. Eu não ia descer sozinha. Olhei para o quarto vazio pensando no que eu poderia fazer. Eu ainda estava usando aquelas roupas grotescas, e estava toda suada.
- Necessito de um banho.
Havia duas portas do outro lado do quarto. Provavelmente uma delas era o banheiro. E acertei. Só me restava uma roupa, que encontrei do outro lado da outra porta. Difícil foi encontrar algo simples. O clima não parecia estar frio, então me contentei com um jeans e uma camisa de manga.
Tirar aquelas roupas e tomar um banho fez me sentir melhor. A fome começou a me dominar, mas não tinha coragem de descer as escadas. Nem sabia onde ficava a cozinha.
Sentei na beira da janela, encostando meu rosto no vidro, tentando visualizar algo lá de fora. Como ontem, estava cheio. Os grupos estavam separados por todo o terreno. Eu conseguia visualizar boa parte da entrada do local. Seus rostos estavam felizes e muitos riam. A maioria usava pouca roupa, menos um pequeno grupo que parecia mais afastado dos demais presentes.
Minha curiosidade por eles aumentou ao perceber que seus olhos não eram como os demais e seus rostos eram diferentes. O pequeno grupo era formado apenas por garotos. Três na verdade. Dois deles eram morenos e um loiro. Aparentavam ter a minha idade. Eles permaneceram calados um bom tempo. Me perguntei se eles eram humanos assim como eu, e era eles a quem Sam se referira ontem para mim.
Um deles notou que eu os olhava e alertou os outros. Eles me encararam imediatamente. Não consegui imaginar o que eles estavam pensando. Senti meu rosto ruborizar e desviei meu olhar deles focalizando num carro que chegara nesse instante.
O primeiro a sair foi Pablo. Sorri no mesmo instante, mas senti que algo estava errado. Pablo sempre sorria, mas seu rosto agora estava serio, podia dizer que até mesmo preocupado. Senti um aperto no coração e minha mente logo parou em...
-Matt. – foi a única coisa que consegui dizer ao ver a segunda pessoa que desceu do carro. Era ele. Seu rosto estava como o de Pablo. Não pensei duas vezes e corri em direção a entrada.
Algumas pessoas que estavam no corredor olhavam para mim, mas eu as ignorei. Eu tentava lembrar onde Sam passara até chegar aqui, e logo vi o começo da escada. Acelerei o passo e acabei esbarrando em um homem, parado no começo do corredor. Comecei a descer as escadas assim que Matt entrava no hall. Ele veio na minha direção sorrindo. Não pensei duas vezes e me joguei em seus braços.
- Nunca mais faça isso, entendeu? – minha voz saiu chorosa.
Matt não me respondeu. Ele começou a me puxar em direção as escadas novamente me forçando a subir um degrau.
- O que houve Matt? – ele continuou calado, me olhando de uma forma estranha. – Matt? – minha voz começava a ficar histérica.
- Vamos subir. – sua voz estava estranha e eu me recusei a sair dali. Ele começou a me puxar, mas mesmo sabendo que ele era mais forte, não me mexi.
- O que tá acontecendo? – Matt me soltou e revirou os olhos. Um pequeno grupo se formou no hall, todos olhando para mim. Eu não estava a fim de perguntar novamente. Não demorou muito tempo, comecei a ouvir vozes exaltadas do outro lado da porta.
- Me solta. – o grito me fez arrepiar. Eu conhecia aquela voz de algum lugar. Senti as mãos de Matt no meu ombro. – Me solta.
A porta se abriu num só movimento, revelando algo que eu não esperava. Aquele era o ultimo rosto que eu esperava ver aqui.
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mil desculpas gente :X
sei que estou devendo um capitulo digno a muito tempo. espero que gostem. vou me esforçar pra escrever o mais rapido possivel.
beijos, e obrigada a todos que leem, mais uma vez.