segunda-feira, 30 de março de 2009

Capitulo Onze - Raça

Os segundos se passavam, e nada da resposta. Senti que por algum tempo Matt fez menção de me contar o que queria saber, mas ele sacudia a cabeça me deixando frustrada. Eu olhava em seus olhos procurando respostas, só conseguia ver angustia. Eu não gostava de vê-lo daquela forma, mesmo o conhecendo há tão pouco tempo eu sentia algo por ele. Não conseguia me afastar. Eu fiz um movimento arriscado e coloquei minha mão em seu rosto. Sua pele, gélida como sempre, parecia veludo.
Ele se aproximou lentamente de mim, e eu fiz o mesmo. Nossos corpos estavam tão próximos que sentia o frio que ele irradiava. Meu coração acelerou de tal forma que parecia sair do lugar onde sempre esteve. Seus lábios estavam mais próximos aos meus do que poderia imaginar, sentia seu hálito frio e doce. Fechei meus olhos esperando alguma reação da parte dele. Ouvi um bip abafado de um celular e automaticamente abri meus olhos. Matt já estava do outro lado do quarto atendendo o telefonema.
Por um instante fiquei frustrada e cruzei meus braços infantilmente. Reparei que era inútil essa reação e me concentrei em decifrar o que ele estava falando. As palavras saiam baixas e ele parecia tentar esconder o que estava falando.
- Matt Rider.
- Não a vejo há dois dias senhor. – ele sussurrava.
- Não atendi ligação alguma.
- Prometo que ligarei. - ele batia o pé em sinal de ansiedade.
Ele desligou o celular e seu rosto se tornara uma face obscura. Como hoje, em minha casa, senti medo dele. Ele correu em minha direção e me levantou gentilmente da cama.
- Anne, precisamos voltar para o quarto do Sam. Preciso falar com Michael. Está tudo bem? Ou prefere ficar aqui?
Eu não iria conseguir ficar naquele lugar sozinha. Sacudi a cabeça e ele ofereceu o braço para que eu segurasse. Apertei-o com todas minhas forças e o segui, sendo guiada até o quarto onde Sam estava.
Antes mesmo que Matt pudesse girar a maçaneta, Sam estava na porta, lançando a Matt um olhar desaprovador.
- Você anda bem espertinho não é? Não consegue fazer tudo certo, por que é muito complicado? – Sam acusava Matt.
Percebi que Matt se conteve em responder as acusações de Sam e recuou me empurrando de leve para suas costas. Enfim, o olhar de Sam caiu sobre mim, e ele me olhava tentando entender alguma coisa. Talvez ele estivesse tentando ler minha mente, como ele parecia fazer. Sam passou a olhar para Matt e era com ódio. Por um segundo, jurei que Sam avançava sobre Matt, mas quando voltei a olhar para ele, a mulher e o homem que estavam em minha casa mais cedo, seguravam Sam pelos braços e o impediam de machucar Matt.
- Você, você... Como faz isso sem autorização, hein moleque? – Sam cuspia as palavras.
Não conseguia ver o rosto de Matt para saber sua reação. Esperei que ele se defendesse, mas ele permanecia calado. Michael apareceu por trás da porta, e olhou severamente para Sam, que parecia mais furioso a cada segundo que se passava. Michael ordenou que todos entrassem, porém ninguém se movimentou.
- Querem que eu repita? Sem escândalos no corredor. Resolvemos lá dentro, agora. – disse ele em voz severa.
Dessa vez, obedeceram. O homem e a mulher soltaram aos poucos Sam, que ainda olhava para Matt com ódio. Os dois deixaram Sam entrar e em seguida formaram uma barreira entre ele e Matt. Michael estava na porta, esperando uma reação de nossa parte. Matt se virou olhando nos meus olhos. Meu coração parou por alguns instantes olhando sua beleza estonteante.
- Anne, fique perto de mim, está bem? – ele me pediu, fazendo seu olhar implorativo que nunca falhava.
Assenti e ele pegou minha mão, entrelaçando com a dele. Entramos juntos no quarto, sobre o olhar de todos que estavam ali. Sam estava sentado em uma poltrona, perto da cama, com o homem e a mulher cada um de um lado, como guarda costas. Nos sentamos na cama, um bem próximo do outro, como Matt me pedira. Apertei de leve sua mão, e ele me deu um meio sorriso.
- Agora com calma, um dos dois me explique o que aconteceu. – Michael disse olhando para os dois.
Matt começou calmamente.
- Me ligaram da casa da Anne. A policia já está lá. Eles acharam o celular dela, e a ultima ligação foi para mim. Eles acharam que eu poderia saber de alguma coisa.
Meu coração acelerou. Então já sabiam do meu sumiço e provavelmente meus pais já estavam de fato, a caminho de casa, preocupados comigo. Soltei minha mão, que ainda estava com a de Matt, e a levei ao rosto para esconder as lagrimas que caiam. Matt me abraçou, me pedindo para ficar calma. Enxuguei minhas lagrimas na manga do agasalho e voltei a olhar para todos, segurando ao máximos as lagrimas que lutavam em cair. Matt pegou minha mão novamente.
- Tem certeza que foi só isso que aconteceu moleque? Você não disse nada que deveria ter ficado calado? – acusou Sam.
- Eu não disse nada. Você sabe disso. – Matt se defendeu.
Sam olhou para mim de relance e depois para Michael.
- Matt, fez o grande favor de falar para Anne, da minha... Habilidade.
Entendi finalmente o porquê de tanta irritação.
- Ele não me disse nada. – defendi Matt. - Eu deduzi. Não sou tola, nem alienada. Você sempre fala coisas que eu simplesmente pensei.
Todos olharam pra mim quando terminei de falar.
- Os policiais, por hora, não são um problema. Temos que colocar prioridades na nossa missão protegeremos Anne com nossas próprias almas. – Michael falava tranquilamente. Eu não entendia o porquê de tanta devoção.
- Então você confirma? – perguntei para Sam, evitando olhar em seus olhos. – O que eu deduzi?
Mesmo sabendo que Matt deixou a entender que eu estava certa, queria ouvir a verdade vinda da boca de Sam talvez fizesse a coisa parecer mais normal, ainda achava toda uma loucura essa idéia de ‘ler mentes’
- Prefiro te explicar a coisa toda. – disse ele olhando para Michael, que assentiu com a cabeça.
Os outros começaram a se retirar do quarto, restando somente eu, Sam e Matt. Cheguei para mais perto de Matt, eu tinha a leve impressão, que o que eu ouviria a seguir, mudaria todo o rumo da história.
Sam se levantou e andou em minha direção, pegou minha mão e fez menção que eu me levantasse. Olhei para Matt, preocupada, mas ele fez um gesto para que eu me levantasse. Percebi, que Sam me passava a mesma sensação de segurança transmitida por Matt. Mesmo que eu tivesse me desentendido vezes o suficiente com ele em pouco tempo, a proteção que ele me passava, fez com que eu sentisse um pouco mais de simpatia por ele. Matt ficara no quarto, enquanto eu e Sam andávamos pelo extenso corredor. Achei que surtaria sem Matt do meu lado, mas me pareceu tão normal estar ali, com meu suposto irmão. Essa percepção me fez sorrir.
- O que houve? – perguntou Sam, curioso.
- Hm, eu e... Você aqui. Parece tão normal, me sinto segura perto de ti. Como se o que você me contou fosse realmente a minha historia. – respondi sinceramente.
Ele parou no corredor e afagou meu rosto. Reparei que uma lagrima escorreu por seu rosto antes de recomeçarmos a andar. Ele me puxou para perto das escadas e eu parei. Não queria descer para aquela sala movimentada, era muita gente desconhecida.
- Tudo bem, eles não vão te machucar. – disse Sam, com um meio sorriso no rosto.
Pelo visto, ele entrara mais uma vez na minha mente. Eu não gostava muito desta situação, era complicado ter alguém na minha cabeça sempre.
- Posso te pedir uma coisa? – vacilei entre um degrau e outro.
- Fale, mas eu imagino.
- Dá pra ficar fora da minha cabeça. É serio, posso pensar coisas que possa te machucar. – pedi sabendo o quanto era difícil controlar meus pensamentos.
- Tentarei evitar. Com você é mais fácil. – seu sorriso aumentou fazendo seu rosto ficar extremamente estonteante.
Não entendi o que ele quis dizer, mas permaneci em silencio assim que chegamos à sala lotada. Parecia que mais gente havia chegado ao local e mais uma vez todos pararam o que estavam fazendo para olhar em direção a mim. Michael também estava na sala, no canto norte, rodeado de pessoas, inclusive o casal que estivera em minha casa. O homem alto e loiro acenou rapidamente para mim, o ato não passou despercebido pela mulher que estava do seu lado, reparei que ela dera uma cotovelada nas costas dele. Sam passou comigo por entre todos que estavam ali presentes me levando para uma porta do outro lado da sala.
- Hei Pablo, evitem barulho, preciso de silencio. – Sam gritou para o grupo em volta de Michael, o homem loiro assentiu com a cabeça saindo do lugar onde estava.
Paramos em frente à porta e Sam a abriu, esperando que eu entrasse primeiro. A sala tinha paredes claras e moveis brancos, talvez o motivo pelo qual Sam me trouxera ali era porque a sala passava um ar de tranqüilidade. Isso me fez temer mais ainda o que ouviria a seguir.
- Sente ali Anne. – disse Sam apontando pra uma poltrona perto da janela.
Fui andando até lá e olhei para a janela. A vista dava pra uma montanha, e uma clareira lotada de flores violetas. Fiquei impressionada com a beleza do local. Sentei-me no sofá e fiquei olhando para Sam, ele levantou e foi em direção a janela, fechando à persiana.
- Você é como se fosse um radio fora de sintonia – disse ele, ainda perto da janela.
- Como? – disse me virando para ele. Não vi sentido nas palavras que ele acabara de dizer.
- Eu te disse que era mais fácil não te ler. Você perguntou o por que. – disse ele se explicando.
- Ah. – então era por isso, eu era um radio sem sintonia.
Ele puxou um pufe e sentou na minha frente.
- Antes de tudo Anne, quero que me prometa uma coisa. – pediu ele.
Assenti com a cabeça, e esperei que ele continuasse.
- Tudo o que você vai ouvir, quero que, por favor. Ouça de cabeça aberta. Não leve em conta nada que tenha ouvido em toda sua vida. Prometa-me.
- Eu prometo Sam. – tentei parecer o mais indiferente o possível, mesmo que tudo que ele tenha dito havia me deixado mais tenebrosa.
- Então Anne – ele fez uma pausa, parecendo procurar palavras para começar- pelo que percebi você já reparou na semelhança entre todos os presentes aqui.
Assenti novamente com a cabeça. Foi a primeira coisa que reparei ao entrar neste local. A beleza estonteante, os olhos verdes claro, a pele pálida e gélida, levando em consideração o toque de Matt e Sam.
- As semelhanças vão além de nossa aparência. Fazemos todos, parte de uma raça, desconhecida pela maioria.
A palavra ‘raça’ me fez sentir calafrios, então eles eram diferentes de minha raça? Não consegui entender o que ele tentava dizer. Esperei que continuasse.
- Na verdade, você tem uma idéia de boa parte do que somos. Mas uma idéia errada, mitos e mais mitos fazem de tudo o que vocês pensam que somos um erro.
“Não somos afetados pelo alho, nem pelo sol, nem pela água benta. Não dormimos em caixões, não viramos morcegos e não necessariamente bebemos sangue.”
Eu ouvi as palavras dele lentamente, tentando entendê-las, mesmo sabendo do que se tratava. Meu coração acelerou de tal forma que tudo começou a girar em minha volta. As palavras dele eram repetidas varias e varias vezes em minha mente, mas eu não conseguia raciocinar sobre elas. Vampiros era isso que ele queria me dizer, impossível. Então de anjos não havia nada neles, eles eram monstros.
Mesmo tendo prometido a ele, não conseguir me conter. Minhas pernas não pareciam responder aos meus comandos, mas mesmo assim consegui levantar.
- Impossível. – gritei em meio a lagrimas, que resolveram aparecer no momento errado.
- Não Anne, por favor, me escute. Não é do jeito que você está pensando, você me prometeu.
- Não, me deixa sair deste lugar. Agora, Agora. – eu gritava sem pensar. Eu não queria ficar mais ali, depois disso. Eu tinha medo de ficar em meio a monstros. Eu não estava raciocinando direito. Eu estava desnorteada, optei por correr até a porta. Sabia que ele não deixaria sair daquele lugar, se eu fugisse, talvez funcionasse.
Fui o mais rápido que pude e girei a maçaneta. Eu não esperava que o homem loiro, que a pouco Sam chamara de Pablo, e Matt estarem em frente à porta. Não fui rápida o bastante para conseguir passar por entre eles, o braço de Matt me segurou.
- Me solta, agora. – eu me debatia em vão.
- Calma Anne, não vou te soltar se continuar neste estado. – disse Matt calmamente.
- Me solta agora, me deixa sair daqui. Não quero ficar no meio de vocês, quero meus pais, minha casa. – eu não iria conseguir me acalmar facilmente.
- Solta ela. – a voz de Sam estava chorosa.
Matt vacilou em obedecer, ele foi me soltando aos poucos e por fim fiquei livre. Olhei em seus olhos, mas desta vez, ao invés de fascinação, eu senti medo de Matt. Eu teria que decidir o que fazer. Fugir dali e tentar esquecer tudo, ou continuar aqui e continuar a ouvir o que Sam queria que eu escutasse.
Mesmo contrariando o que eu sentia naquele momento, recuei novamente para dentro da sala.
- Eu quero ouvir tudo, tudo mesmo. E quero provas, de tudo o que for dito. – minha voz saiu severa, fiquei com medo de me arrepender do que estava fazendo, mas algo dentro de mim me fazia querer continuar ali.
Sam assentiu e desviou o olhar, sentando-se novamente no pufe. Antes de voltar a me sentar, olhei para Matt mais uma vez. Em vez de encontrar aquele sorriso perfeito que sempre estava presente em sua face, encontrei agonia e dor. Ele percebeu meu olhar a ele, e veio em minha direção, com um dos braços estendidos.
Mesmo querendo abraçá-lo, o que eu acabara de ouvir me deixou assustada. Afastei-me dele, empurrando seu braço.
- Anne... – ele sussurrou meu nome, e foi recuando lentamente. Seu olhar ainda estava preso em mim, antes de se virar.
Eu estava confusa demais pra tentar concertar o que acabara de fazer. Arrastei meu pé em direção a poltrona que a pouco ouvi a história mais absurda o possível. Sentei-me esperando que Sam recomeçasse tudo, ouvi um estalo da porta sendo fechada.
- Eu imaginei que você reagiria assim. E Anne, por mais que você esteja confusa, uma coisa quero que esteja claro para você, nunca nenhum de nós vai te machucar. Nunca, entendeu?
- Entendi. – eu estava mais calma, consegui dar um meio sorriso para Sam. Ele retribuiu automaticamente- E então o que tem para me contar?
- O que quer saber, fica melhor assim. – ele me olhou, podia ver que seus olhos agora, estavam mais leves, talvez me contar esse segredo, talvez fosse aliviar boa parte do seu fardo.
Procurei as perguntas certas em minha mente.
- Você me disse, há pouco... Que vocês, não... Necessariamente bebem sangue. – tentei formular uma pergunta certa, mas não conseguia. Meu raciocínio ainda permanecia lento.
Ele pareceu entender o que eu estava tentando perguntar.
- Nós podemos optar, entre a comida normal, a que vocês humanos comem. Ou sangue.
Estremeci ao ouvir essas palavras. Ele percebeu.
- Já disse que não precisa ter medo, nós...
- Nunca me machucarão. – completei a frase.
Um silêncio constrangedor baixou no local. Eu estava fazendo as minhas perguntas e Sam as esperando.
- E as presas? – disse por fim, gesticulando com a mão, imitando-as.
Ele olhou debochadamente para mim, provavelmente por parte do gesto.
- Mito. – disse ele, formando um sorriso no rosto.
- Prove. – o desafiei.
Ele pareceu se divertir. Sam chegou para frente, de modo que ficasse a um palmo de mim. Meu rosto estava perto o suficiente para que conseguisse ver todos os detalhes. Ele sorriu divertido e me mostrou todos os dentes. Realmente, não havia nada de incomum neles, nem uma ponta mais afiada.
Ele esperava que eu continuasse com o interrogatório. Uma pergunta surgiu em minha mente, se de fato, eu fosse irmã de Sam, a que ponto nossos genes eram iguais.

5 comentários:

  1. opa! agora você por favor tente postar mais vezes antes que me mate de curiosidade!
    Beijooo

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  2. Se curiosidade matasse...Eu já estava morta...!
    Otimo caítulo Ana,
    Mais...Mais...Mais...
    beijos

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  3. nossa ta muito legal
    por favor posta logo o capitulo 12

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  4. Deixe todo mundo curioso mesmo!
    Capítulo 12, ar maria.


    http://agarotaatrasdaportaazul.blogspot.com/

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