terça-feira, 22 de setembro de 2009

Capitulo Dezenove - Estrela

Se a menos de uma hora eu não tivesse passado naquela sala, poderia dizer que ela já estava daquela forma a um bom tempo. As caixas haviam sumido, tudo havia sumido. Sam estava sentado na escada parecendo impaciente. Pablo ao seu lado estava com um sorriso debochado no rosto.
- Onde estavam? – Sam tentou parecer indiferente a situação, mas eu podia ver que ele não estava nada satisfeito vendo eu e Matt de mãos dadas.
- No jardim.
Notei seu olhar indo diretamente a minha roupa ainda suja de terra, porém ele desviou assim que percebi.
- Bem, partiremos assim que você estiver pronta. Louise vai te ajudar. Ela está te esperando no seu quarto.
Eu acenei e andei em direção aos degraus com as mãos ainda juntas com a de Matt. Ele hesitou e as soltou delicadamente, eu podia ver seus olhos em Sam.
- Suba. Nos vemos depois. – ele me deu um beijo na testa e sorriu para mim.
Subi as escadas com uma ponta de relutância, não gostava de Sam e Matt juntos. Principalmente quando Sam dissera varias vezes que iria matá-lo. Tentei me prender no pensamento otimista de que Sam não machucaria Matt, porque ele sabia que isso me machucaria. Louise me esperava sentada na cadeira que há algumas horas, eu estava imersa em pensamentos. Assim como toda a casa (ou pelo menos até onde eu havia visto), meu quarto parecia diferente de como o deixei. Não cheio de caixas e vazios, mas ele parecia estranhamente arrumado demais e o forte cheiro de álcool não me deixava enganar. Louise pareceu perceber que eu havia notado a diferença.
- Sam pediu para deixar tudo o mais limpo e ‘esterilizado’ o possível. Sabe, assim que abandonarmos isso aqui, a primeira coisa que os carnívoros vão fazer e procurar algo que teríamos deixado para trás.
Carnívoros? Ah sim, carnívoros. Provavelmente eram os outros. Achei um pouco de ironia eles serem chamados assim. Louise agora mexia dedicadamente numa maleta prata, tirando algumas coisas de dentro e colocando outras.
- Andou rolando na grama? – perguntou ela com um leve sorriso no rosto. Eu senti as minhas bochechas formigarem. – Vá tomar um banho. Ainda não limpei o banheiro mesmo. E vista estas roupas. – disse ela, indicando uma pequena muda de roupas duvidosa.
Não em surpreendi ao ver roupas que realmente eu nunca usaria. Jaqueta de couro? Realmente nunca usaria. Tentei ser o mais delicada o possível.
- Não querendo ser chata, mas não tem uma roupa mais discreta? Essas roupas não fazem o meu tipo.
- Essas roupas não fazem o seu tipo. Mas fazem o de... – ela pegou um pequeno documento – Cassie Montgomery.
- Como é que é? – eu puxei o tal documento e reconheci como um passaporte. Nele havia uma foto (obviamente forjada) de mim loira. Loira? Que merda é essa?
- Você achava que? Iria passar de Anne no aeroporto e ninguém da policia ia te identificar.
Eu demorei um tempo pra engolir o que ela havia falado. Agora eu era a foragida, ou melhor, a seqüestrada e teria que me passar por outra pessoa pra enfim, conseguir me livrar do meu passado. Ou de boa parte dele.
- Vamos Anne. Tome logo um banho e evite molhar a cabeça.
Fiz o que ela pediu evitando ao máximo pensar no que ela havia me dito. Aquilo me fazia sentir estranhamente mal e nervosa. Decidi pensar em coisas melhores como Matt. Meu namorado vampiro totalmente perfeito. Quando retornei ao quarto, me sentindo totalmente desconfortável naquelas calças irritantemente apertadas e naquelas botas irritantemente altas, Louise me esperava do lado da cama, segurando uma coisa parecida com um gato peludo.
- Sente-se, e fique parada. Não vou demorar nem cinco minutos.
Obedeci novamente e assim que eu sentei, ela começou a puxar e repuxar meu cabelo delicadamente. Era uma sensação boa e me fez relaxar um pouco. O que foi extremamente útil numa hora dessas. Realmente não havia se passado cinco minutos quando senti suas mãos pararem.
- E, pronto.
Retornei ao banheiro, indo até o espelho e entendi o que a pouco me pareceu um gato peludo. Era uma peruca loira. Meus olhos demoraram um tempo pra identificar aquela estranha refletida. O meu ‘novo cabelo’ era aquele loiro Barbie escorrido até embaixo do meu ombro, pra piorar ainda tinha uma franja completamente absurda. Com esse cabelo, essas roupas apertadas e esse decote desagradável, eu estava parecendo uma daquelas vadias que já havia pegado meio time de basquete.
- É realmente necessário? – disse a Louise que estava na porta me olhando com um ar de orgulho.
- Extremamente necessário. Só preciso passar um pouco de maquiagem e...
- Não, não. Chega. Pronto. Nem eu mesma me reconheci. É só colocar um óculos escuros, ninguém me reconhecerá.
Ela pareceu meio descontente, mas acabou cedendo.
- Tudo bem. Desça. Vou fazer a limpeza no banheiro.
Não pensei duas vezes em sair com medo dela voltar atrás. Só parei na porta de meu quarto, com uma sensação estranha se apoderando de mim. Eu gostava daquele lugar, tinha se tornado meu lar em pouco tempo. O fato de deixá-lo para trás fez com que eu sentisse que deixava para trás um pedaço de mim. Eu sabia, no entanto, que não era somente esse novo lar que eu estava deixando para trás. Eram 15 anos de vida. 15 anos de uma mentira que vivi diariamente. Mas isso era passado, como eu havia decidido, é hora de virar a pagina.

A risada estrondosa de Pablo ecoou pela sala vazia.
- Oi Britney! – disse ele, debochadamente.
Já estava bastante difícil ter que me vestir daquela forma, e ter alguém rindo não ajudava muito a situação. Olhei nada amigável para ele, que pareceu entender o recado disfarçando seu riso como se estivesse tossindo. Sam e Matt não estavam na sala.
- Cadê Sam?
- Está com Matt... – ele parecia procurar as palavras certas para usar – Se disfarçando.
Por falta de palavras, preferi permanecer em silencio. Pablo agora estava com um sorriso bobo no rosto. Igual aquelas criancinhas quando ganham um pirulito gigante. Ele andou até a janela do lado norte e ficou ali olhando para ela. Me encostei numa das pilastras e tentei relaxar, sem sucesso. Eu podia ouvir Pablo cantarolando.
- Ops, I did again.
Antes que eu pudesse falar algo malcriado para ele, a voz aveludada e calorosa de Louise me interrompeu.
- Pare de perturbar a menina Pablo.
- Ah, pode falar. Em quem você se inspirou pra fazer isso com a menina beleza? Barbie, Britney, ou uma mistura dos dois?
Louise cruzou os braços parecendo estar ofendida.
- Sam mandou eu deixar ela irreconhecível.
- Irreconhecível não é o mesmo que bizarro.
- Obrigada pela parte que me toca. – disse, sarcasticamente.
Os dois riram musicalmente. Louise foi para o lado dele e ele passou sua mão pela cintura dela.
- Vocês vão para lá também, não é? – tentei puxar assunto.
- Vamos amanha de manhã. No primeiro vôo que arranjarmos. – respondeu Pablo.
Eu sorri timidamente. A cada segundo que se passava eu ficava mais ansiosa. Eu queria saber o que me esperava na França. Por que tínhamos que ir para lá?
- Calma Anne. Tudo tem seu tempo. – a voz de Sam tão próxima me assustou. Eu não tinha reparado a sua presença. Me virei automaticamente, esperando que ele conseguisse me acalmar com seu olhar. Se não tivesse ouvido a sua voz, poderia ter certeza que era outra pessoa que estava ao meu lado. Mas eu sabia que por baixo daquela peruca loira (igualmente estranha como a minha) era meu irmão que estava ali. Tentei disfarçar meu riso, fingindo tossir.
- Adorei Barbie e Ken.
Nós dois olhamos automaticamente para Pablo e ele pareceu entender o nosso recado de: Chega! Sam se virou para mim, com aquele olhar indecifrável novamente. Ele afagou de leve meu rosto e segurou uma mecha do meu cabelo.
- Está pronta? – sua voz não passou de um sussurro.
Minha voz parecia ter falhado e só me restou balançar a cabeça. Mas dentro de mim eu sabia que estava pronta pro que estava a vir. Estava pronta para virar essa pagina da minha vida.
Com os dedos entrelaçados, Sam e eu fomos andando para o lado de fora da casa. Eu podia sentir seu olhar me vigiando.
- Eu vou sentir falta daqui. – eu não sabia ao certo se estava falando aquilo para ele, ou para mim.
Ele me olhou meio confuso.
- Você está aqui a menos de uma semana Anne.
- Eu sei, mas... – tentei achar as palavras certas para usar. – É difícil de explicar. Eu me senti completa de alguma forma.
- Vou ser sincero com você. – ele parou de andar. – Não achei que você aceitaria tudo tão bem. Achei que você surtaria e tentasse fugir, que não iria acreditar em nada que eu tivesse dito, ou pior... Tivesse medo de nós.
- Eu to me saindo melhor do que achei que poderia Sam. – eu apertei de leve a sua mão. – É tudo muito novo pra mim. Cada coisa. Eu tenho tantas perguntas a te responder, tenho tantas coisas a me adaptar. Mas eu me sinto bem. Como te disse, me sinto completa. Mesmo que tenha passado por coisas ruins nesse lugar. – ele fez uma careta. – Passei por coisas boas também. Descobri que tenho o melhor irmão que alguém poderia ter. Por que ele nunca desistiu de me procurar, e pelo que reparei nunca deixou de me amar. Descobri também que tenho os melhores pais do mundo... Eles... Eles morreram por mim.
Fiquei surpresa por minha voz ter saído tão firme e só ter falhado no final. Sam parecia surpreso com as coisas que eu havia dito e me olhava intensamente. Sua boca se curvando lentamente num sorriso.
- Eles estariam orgulhosos de você Anne.
Me faltou palavras para responder e só me restou sorrir. Sam beijou delicadamente a minha mão que estava entrelaçada com a dele e começou a andar novamente. Fazendo um grande contraste com o restante dos carros luxuosos ainda presentes no gramado da grande casa, estava um carro extremamente velho e decadente.
- Pra disfarçar sabe! Não ia ser muito discreto andar com uma Ferrari pra todo o canto. – disse Sam respondendo a minha pergunta mental.
- Matt não vai com a gente? – senti uma sensação de culpa quando notei que Matt não estava lá, e não havia reparado nisso anteriormente.
- Ele vai com Michael, para disfarçar. Chegando em NY nós encontramos.
- NY?
- Vôos direto para França só tem no aeroporto de lá.
Eu olhei um pouco relutante para a porta do carro aberta.
- Vamos Anne.
Entrei no carro ainda meio confusa. Assim que fechei a porta, Sam acelerou a lata velha. O carro cheirava a pizza e cachorro molhado. Sam notou que torci o nariz.
- Pode abrir as janelas. Foi o melhor carro inútil que conseguimos arranjar.
A janela abriu pela metade, mas já era alguma coisa. Antes do carro virar numa pequena curva, consegui ter o ultimo vislumbre da grande casa.

Nós seguimos por uma estrada improvisada diferente da que fomos para praia. O terreno era extremamente irregular e o movimento do carro estava me deixando enjoada. Fiquei de olhos fechados boa parte do caminho tentando me concentrar em não vomitar. Sam perguntou diversas vezes se eu queria que ele estacionasse, mas eu sinalizava que era para ele continuar dirigindo.
Depois do que para mim pareceu ser uma eternidade, o carro pareceu chegar numa pista regular e os solavancos pararam. Respirei fundo algumas vezes e consegui abrir os olhos. Estávamos numa das pequenas estradinhas que ligavam Foester a outras demais cidades. Reparei que ao invés de sair da cidade, Sam estava indo em direção a ela.
- Estamos voltando para Foester? – minha voz estava meio falha.
- Não tem outro caminho para o aeroporto mais próximo a não ser esse, Anne.
Eu permaneci em silencio tentando me preparar emocionalmente para o que estava por vir. Eu sabia que teríamos que passar em frente a minha antiga escola secundaria para chegar ao outro lado da cidade e sabia que teríamos que passar pela a minha antiga rua.
Os primeiros sinais de civilização foram a aparecendo quando Sam finalmente falou.
- Você está preparada pra isto? Eu sei que pode piorar a sua situação. Se quiser ficar de olhos fechados novamente...
- Não. – disse interrompendo-o. – Talvez isso seja melhor para mim.
Ele não disse mais nada. Eu engolia as lagrimas enquanto os prédios e casas familiares passavam pela janela. Paramos num sinal, perto da esquina da rua onde ficava a escola.
- Você está realmente bem? – eu podia sentir a preocupação de Sam através de seu tom de voz.
Eu simplesmente balancei a cabeça. Tentei focalizar meu olhar em um poste em que paramos do lado, mas isso não foi uma boa idéia. Impresso em um papel bege estava uma foto minha. Uma foto que tirei no último natal em que eu e minha antiga família passamos em Washington. Embaixo da foto havia algumas coisas escritas, mas eu não tive coragem de lê-las. Abracei meus joelhos com toda força que consegui, ignorando a calça que agora parecia mais apertada do que antes.
- Não foi boa idéia termos vindo por aqui. – Sam disse, pisando fundo no acelerador ignorando o sinal ainda vermelho. Aconteceu tão rápido que não sei ao certo dizer de onde eles vieram, se o reflexo de Sam não fosse tão bom, creio que algo terrível tivesse acontecido.
Alex e Marina estavam parados na frente do carro ainda confusos com o que acabara de acontecer. Eles estavam de mãos dadas, e não deixei de notar a mão ainda engessada de Marina. Eu ofeguei, tentando me lembrar de como se respirava. Por que estava acontecendo aquilo tudo? Minha confiança que a pouco estava a toda, agora havia afundado num mar de incertezas. Meu passado recente estava tentando me avisar alguma coisa?
- Me tira daqui. – consegui falar por fim.
Sam buzinou para os dois que ainda estavam em frente ao carro. Agora um pequeno grupo de estudantes que já haviam atravessado olhavam com curiosidade para o nosso carro. Enfim os dois liberaram a nossa passagem e Sam pisou fundo no acelerador, virando com uma velocidade excessiva a esquina que dava pra Escola Secundaria de Foester.
Fechei meus olhos procurando apagar o que eu havia acabado de ver, mas a imagem de Marina e Alex parecia ter grudado na minha memória. Eles pareciam estar juntos, como um casal de namorado e aquilo me fez mal de uma forma estranha. Agora, só conseguia pensar em como eu estava sendo louca ao ponto de me atirar para esse mundo desconhecido.
- Pare a droga desse carro.
Sam me olhava preocupado. Por um instante eu achei que ele iria discordar, mas ele agora olhava para a pista com uma expressão estranha, suas mãos presas ao volante com uma força exagerada.
- Espere chegar à estrada.
E depois um silêncio constrangedor tomou conta do carro. Minha mente começava a clarear depois do ataque de fúria. Sam continuava olhando para frente e eu reparava que ele evitava me olhar. Fechei meus olhos mais uma vez, quando estava perto da minha antiga rua, olhar para a casa onde eu morei, provavelmente não me ajudaria muito naquele momento. Minha mente agora processava a imagem daquele cartaz de ‘Procura-se’. O nó em minha garganta agora ardia e dificultava a minha respiração. Senti o carro diminuir de velocidade até parar. Abri meus olhos lentamente. Sam ainda não olhava para mim.
- Desculpe. Eu me descontrolei. – minha voz saiu estranha graças a grande dificuldade que eu tive para falar.
- Foi erro meu ter te trazido pela cidade. – disse ele ainda parecendo distante.
- Não. Claro que não. Você não tinha como prever que essas coisas iam acontecer. Não se culpe Sam. – eu afaguei de leve o seu rosto e ele finalmente olhou para mim. Ele respirou fundo e segurou minha mão delicadamente.
- Vamos? – a voz dele parecia mais otimista.
Eu acenei de leve e ele voltou para a estrada. Ele continuou segurando minha mão, mantendo só uma no volante. Eu estava cansada e fui adormecendo aos poucos. E ainda bem, consegui descansar sem sonhos.

- Ei Anne. – senti alguém me sacudindo de leve.
Demorei um tempo pra me lembrar onde estávamos. Sam estava curvado de maneira que ficava olho a olho comigo. Eu sorri para e ele e ele retribuiu.
- Nosso vôo sai em alguns minutos, quer comer alguma coisa antes de irmos? – ele segurava dois papeis na mão.
- Um refri seria útil. – disse saindo do carro.
- Então vamos.
Ele me pagou uma coca e tivemos que correr um pouco para pegar o vôo. Consegui com um pouco de esforço me manter acordada durante o trajeto até NY. Não tivemos problemas com os falsos passaportes. Pegamos o primeiro vôo para França e tivemos que correr novamente para não perdê-lo. Dessa vez não consegui arranjar forças para combater o meu cansaço e novamente fui adormecendo. E mais uma vez, por sorte minha, consegui descansar sem sonhos.
- Anne? O piloto já avisou, vamos aterrissar em alguns minutos! – Sam me acordara delicadamente.
Eu levantei ainda desnorteada. Minha cabeça estava apoiada no ombro de Sam e mais gente estava acordando. O piloto avisou para todos sentarem e as aeromoças andavam de um lado para outro conferindo se todos estavam com seus cintos presos corretamente. Foi então que o avião fez uma curva brusca e umas das aeromoças perdeu o equilíbrio. Ela estava ao lado da cadeira que estava na nossa frente. Ela bateu com a cabeça no braço da poltrona de Sam.
A sensação estranha me atingiu como uma flecha. Eu senti o desejo passar incendiando minhas veias, fazendo meu corpo inteiro estremecer. Eu me afoguei nessas emoções sendo inteiramente levada por elas. Eu não conseguia voltar à tona.
Aconteceu muito rápido e quando dei por minha conta estava soltando o cinto e indo em direção da pobre mulher que ainda estava tonta. Era como se outra pessoa tivesse controlando meu corpo. Meu olhar inteiramente ligado na linha escarlate que descia no rosto da aeromoça. Sam olhava para o mesmo ponto intensamente, antes de perceber que eu levantara. Ele me empurrou novamente na poltrona e passou seus braços envolta de mim. Pra quem não estivesse a par de toda a situação, ele poderia estar me abraçando, mas eu podia sentir a força descomunal que ele fazia para me prender ali.
- Se concentre. – ele sussurrou entre os dentes, encostando sua boca em minha orelha.
- Eu quero... Necessito daquilo. – choraminguei.
- Não Anne. Se concentre, por favor.
Meus olhos ainda preso na aeromoça que agora estava sendo amparada pelos seus colegas de trabalho. Eu tentei voltar à realidade. Ignorar aquele misto de emoções que passavam por mim. Eu não consegui fechar meus olhos, nem mesmo piscar. Mas fui me concentrando em outras coisas. Pensei em Matt, pensei em Sam que ainda me segurava com força. Finalmente consegui fechar meus olhos e assim foi mais fácil de me concentrar.
O que eu estava fazendo? O que estava acontecendo comigo? Eu quase ataquei alguém por causa de sangue. Eu não era vampira, eu não precisava daquilo. Meu corpo começou a voltar ao normal e fui relaxando aos poucos, e os braços de Sam foram diminuindo aos poucos o aperto. Não abri meus olhos até que o avião aterrissasse, e Sam permaneceu em silencio o tempo todo.
Os passageiros já haviam saído do avião, quando Sam falou finalmente.
- Vamos?
Ele se soltou delicadamente de mim e ficou me encarando por um tempo. Eu ainda estava desconcertada do que havia acontecido e a expressão indefinida no rosto de Sam não me fazia sentir melhor. Eu apenas acenei com a cabeça e o segui. Fomos direto para uma lanchonete que ficava dentro do aeroporto. Sam sinalizou para que sentasse numa mesa meio isolada de tudo e eu obedeci.
Ele falou com a garçonete num francês perfeito e trouxe um croassant e um Milk Shake. Eu não estava com fome e beberiquei um pouco do Milk. Sam ainda me olhava estranho, sua boca agora não passava de uma linha reta e eu podia ver a tensão irradiando de seu corpo.
O silencio começava a sufocar e Sam parecia não querer se livrar dele. Ele pagou a garçonete e fomos andando para o estacionamento do local. Ele segurava uma chave prata na mão e abriu o porta-malas de um carro prata no fim do estacionamento. Paramos em frente a ele, e Sam jogou sua peruca com uma agressividade exagerada. Eu já havia esquecido o treco peludo, mas tive todo o prazer de tirá-lo.
Mesmo tendo dormido a maior parte das viagens, minhas pernas pareciam mais cansadas do que nunca e não esperei que Sam em acompanhasse. Me aconcheguei no banco e descansei minha cabeça refletindo no que acabara de acontecer. De como o cheiro doce me atraiu. Aquele silêncio estava me fazendo cada vez pior.
- Perder o controle é comum Anne. – parecia ter se passado anos até Sam falar. Ele sentou do meu lado no carro e passou o braço pelas minhas costas, me aproximando mais dele.
- Você não está chateado comigo? – minha voz saiu meio chorosa.
Ele me olhou como se eu acabasse de insultá-lo.
- Anne, como eu disse... Perder o controle é comum.
- Mas você ficou estranho depois que tudo aconteceu.
Ele ficou em silencio por um breve tempo.
- Admito que fiquei assustado quando vi a sua reação. Mas eu já estou acostumado com coisas assim. Você só seguiu os seus instintos Anne.
- Eu sou humana, Sam. Humanos não atacam outros quando...
- Você é meia humana Anne. – ele me interrompeu.
Minha voz ficou presa na garganta. Eu havia me esquecido desse detalhe. Então minha parte vampira, resolveu se manifestar.
- Não vamos nos preocupar com isso, por hora. Ainda temos um pequeno caminho a seguir. Podemos?
Acenei com a cabeça e Sam ligou o motor do carro, fazendo-o rugir como um leão. Sam sorriu como um menino contente fazendo toda aquela expressão mortificada desaparecer.
- Como eu esqueci. – ele parecia dizer isso mais para si mesmo do que para mim. Ele soltou o pé do acelerador e começou a revirar seus bolsos. Até que ele pegou uma pequena caixinha de veludo azul, com algum brasão bordado na frente. Ele me entregou o delicado objeto, sorrindo agora intensamente. – Abra.
Eu obedeci e me deparei com algo que parecia uma pequena estrela presa numa fina linha prata. A pedra que ficava no pingente brilhava de uma forma que ofuscava a visão.
- Ah Sam... – minha voz chorosa mais uma vez.
- Era da mamãe. – e aquelas palavras bastaram para que as lágrimas tornassem a rolar pelo meu rosto. Sam pegou a gargantilha e eu me virei puxando meu cabelo para o lado. A jóia fria em meu pescoço me causava arrepios. Mas um tipo diferente de arrepio. Era como se aquilo me deixasse melhor, mais leve.
Sam pisou fundo no acelerador e o motor voltou a rugir suavemente. Mas eu já estava desligada daquele mundo. Agora apertava fortemente o pingente que um dia, pertenceu a minha mãe.

7 comentários:

  1. aaah que lindo, AMEI! *-----*
    yéeh o lado vampira dela resolveu se manifestar.. ui medinho :O
    mto bom ana, sua historia é incrivel, parabéns ;D

    bjs :*

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  2. yéeh o lado vampira dela resolveu se manifestar.. ui medinho :O(+1 UIDSHSAUIODHASDUIASHDOIU
    muuuuuuuuuuito lindo mesmo, faltou so um pouco mais de Matt, ta que eu sou muito tarada pelo Matt, mas isso nao é novidade -qqq, UISADHASIOUDAHSDIUASHD
    naao demora tanto pra poostar ana, ta muito lindo aki

    beeijos :*

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  3. Parabénssss....Lindo mesmooooo....

    Não demora mais não.....

    Eu adooroooo.....Angeles.

    Beijos

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  4. Anaaa.....
    To viciada em Angeles...

    Quero maisss...

    rsrs....

    Bjus

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  5. Own! Leitora nova!
    putz.. li tudo em 2 dias... Gamey!
    A história é ótima, mas falta mais ação aí! hehe
    A teoria dos vampiros é sua? Achei muito interessante ela. A pessoa nasce humana e tem a escolha, muito legal mesmo!
    E meldels! Sam! Esse cara, ou melhor, vampirão é demais! Adoro ele! *-*

    Espero ansiosa pelo próximo capítulo! ^^
    ;**

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  6. *Leitora Nova*
    Ah tá tão BOM...
    Por Favor CONTINUAAA!!
    E Parabéns! A história é muito original e muito bem escrita ^^

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  7. Leitora nova.
    Amei tudo. Sério, vc pode fazer sucesso com isso. Muito bom, eu cheguei a chorar, de verdade, quando Matt pensou em morrer pela Anne, isso nunca aconteceu em histórias de escritores(as) amadores(as), é preciso ser algo realmente bom, e Angeles... sem dúvida alguma é.

    Perfect!!!

    By: Caroline B. Freitas.

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