sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Capitulo Quatro– Lembranças

- Eu disse algo de errado? – disse ele preocupado.
Eu não tinha forças pra responder, consegui reunir o pouco que me restava para balançar a cabeça em sinal de negativo. Eu estava desesperada, eu fizera tanta força pra esquecer tudo aquilo. Minha mente tentava inutilmente juntar lembranças melhores para encobrir esse buraco em meu peito, que parecia aumentar a cada batida do meu coração.
- Vou pegar uma água com açúcar, não saia daí, é serio. – ele disse se levantando instantaneamente.
Tentei me concentrar, fingir que não tinha me lembrado de nada. Mas o eco das palavras que ele dissera, fazia replay direto em minha cabeça.
- Toma e tenta se acalmar – disse ele me entregando o copo – E não precisa dar explicações, você parece mal de verdade.
Eu só conseguia balançar minha cabeça, tentei me acalmar, não queria passar a impressão de garota histérica que vive entrando em choque.
-Obrigada. – disse com o resto de força que me restava.
Ele sorriu de uma forma carinhosa e tranqüilizadora, e afagou meu rosto. Eu estremeci, sua pele era gélida e macia. Logo que ele reparou a minha reação, retirou sua mão num movimento rápido.
O sinal tocou e ele já estava de pé ao meu lado, com sua mão em meu ombro, meu casaco impedia o contato com sua pele. Mesmo com as pernas bambas, consegui levantar. Ele sorriu ainda preocupado.
- Vai querer assistir as próximas aulas? – disse ele com o rosto tornando-se serio.
- Sim, claro, realmente não estou a fim de me tornar a garota problemática da escola, que sempre arruma um motivo pra sair mais cedo. – disse falando mais comigo do que respondendo a pergunta. Fiz um enorme esforço, mas consegui sorrir, parecia ajudar a enterrar o desespero que eu entrara minutos atrás.
Voltamos para sala, um do lado do outro, parecia estranho a preocupação que ele demonstrara hoje por mim, ele não me conhecia a mais de 24 horas. Mas eu gostei disso, realmente gostei muito disso.
A sala estava praticamente cheia e todos os olhares se voltaram para mim e o ser angelical ao meu lado, não conseguia conter a minha vergonha, abaixei o rosto corando. Fui logo se sentar em meu lugar perto de Marina e ele se sentou ao grupinho de meninos que ele se juntara mais cedo.
As aulas passaram voando, talvez fosse o meu esforço para tentar esquecer tudo, o intervalo não foi nada especial, fiquei sentada com Marina, que estava ansiosa para me perguntar o que acontecera no tempo em que passei com Matt. Fiquei o tempo todo olhando para ele, tinha se tornado uma fixação apreciar sua beleza. Queria memorizar cada linha de sua expressão. O outro anjo, que as feições eram quase iguais a de Matt, passou o recreio inteiro de cabeça baixa, parecia estar dormindo a não ser por seu pé balançando em sinal de ansiedade. Os dois últimos tempos de historia, passaram tão rápido que nem notei os ponteiros passando, jurava que tinha se passado somente dois minutos, ao invés de duas horas.
O sinal tocou, peguei imediatamente a minha mochila queria ir embora dali, aquele dia estava se tornando cada vez mais imprevisível. Me despedi de Marina, o mais rápido possível, ela estava doida para me fazer perguntas, mas eu estava tentando esquecer o que acontecera mais cedo, contar os fatos, faria meu esforço em vão.
A caminhada até em casa foi tranqüila. O céu estava cada vez mais escuro, as nuvens estavam mais densas, não demoraria muito até começar a chover. A alguns metros de minha casa, notei a presença de alguém sentado no banco frente a minha casa. Era ele, o meu anjo, estava sentado com um sorriso perfeito. Tentei acalmar meu coração, foi em vão, mas de alguma forma arrumei forças para me aproximar dele. Minhas pernas se moveram cambaleantes, ao menos estavam se movendo, pelo menos eu não estava mais me tornando uma estatua quando estava perto dele. Não pude deixar de sorrir ao me aproximar.
- Anda me seguindo, é? – perguntei, me surpreendendo de como eu passara a conseguir fazer coisas normais perto dele, como andar, respirar e falar, era um bom avanço.
- Só queria ver se você estava bem, você ficou estranha lá no refeitório. – sua voz tinha um tom de preocupado.
- Eu to bem, obrigado por se preocupar.
- Por que você não senta aqui? – ele disse batendo no espaço vazio ao lado dele.
Não consegui hesitar, ele era impossível dizer não ao deus grego da beleza.
- Confesso que fiquei curioso do por que você agiu daquela forma, talvez você não queira me falar, eu juro que vou entender.
Eu fiquei em silencio por um breve tempo, minha cabeça a mil, passando e repassando aquela terrível lembrança, o pior dia de minha vida. Eu queria contar, queria desabafar, desde o dia que tudo aconteceu eu me calei, não conseguia narrar os fatos pra ninguém, o máximo que consegui fazer era responder com a cabeça as perguntas dos policiais. Fiquei meses sem sair de casa, eu estava em choque. Algo me dizia que podia confiar nele, no meu anjo, podia contar para ele, o que era estranho por que eu o conhecia tão pouco tempo.
- No verão retrasado – tomei coragem para contar, ele se moveu para ficar olho a olho para mim – eu fui passar umas semanas com a minha avó, ela tinha uma fazenda, ao norte, eu sempre passava as férias lá. Estava indo tudo bem, eu gostava muito de lá, de ficar olhando para as flores, para os cavalos.
- Anne se você não quiser fazer isso, eu vou entender.
Balancei a cabeça, eu queria continuar, as palavras que ficaram travadas em mim, por esses dois anos, queriam sair. Fechei os olhos tentando voltar ao lugar, ao dia em que tudo aconteceu.
- Três dias após a minha chegada lá, resolvi sair com o meu cavalo, Spirit, ele era negro, o mais lindo que eu já vira, ele foi meu desde o dia em que nasceu. Eu estava a poucos quilômetros da fazenda, numa clareira, que eu tinha descoberto uns anos atrás, quando ouvi um barulho vindo da fazenda, era alto e lembrava um grito rouco.
Uma lagrima involuntariamente escorreu por meu rosto. Mas eu tinha que continuar, precisava desabafar retirar do meu peito toda essa tristeza que me consumia há tempos.
- Eu corri com Spirit o mais rápido que eu conseguia. Perto da porta da fazenda, eu vi a agitação, uns cinco homens encapuzados me esperavam na porta, eu não conseguia fugir, quando dei meia volta com meu cavalo, mais três homens esperavam atrás. O Spirit ficou muito nervoso, ele não gostava de muita gente cercando-o, ele empinou, minha mão estava suada e não consegui segurar nas rédeas. Eu cai de costas, e bati minha cabeça no chão. A grama amorteceu a queda, mas mesmo assim fiquei muito tonta, e aos poucos minha mente foi apagando, me lembro de ver o Spirit ir correndo em direção ao mato.
“Depois disso, eu apaguei. Acordei quando tudo estava escuro, somente a lua iluminava o lado de fora da casa. Eu estava amarrada pelos punhos na cabeceira da cama, meus olhos demoraram a se acostumar com o breu. Uma luz se acendeu, e eu pude ver as dez figuras encapuzadas, eu não conseguia ver o rosto de nenhum deles.“
O anjo afagava minha mão, e seu rosto era um misto de preocupação e ansiedade. Eu forçava as lagrimas a não sair.
- Eu estava começando a ficar desesperada, não conseguia gritar, queria pedir ajuda, mas minha voz falhava. Até que um deles, o mais alto, se separou do pequeno grupo e veio em direção a mim. Eu me debatia em vão. Ele retirou o capuz, seu rosto era pálido e sem vida, seu cabelo de um loiro branco preso numa pequena trança. Suas feições eram perfeitas.
Olhei para o meu anjo, lembrando da semelhança entre ele e o ser que me ameaçara tanto naquele dia. Ele abaixou a cabeça, parecendo perceber a comparação que eu fazia em minha mente.
“Ele olhara para mim, com uma mistura de ódio e fascinação. Ele afagou meu rosto e eu pude sentir sua pele fria e macia. Ele começou a falar com uma voz rouca, mas musical.
- Você cresceu, seu pai ficaria orgulhoso. Minha Pequena Anne.”
Foi como se um choque tivesse atingido ele. Seu rosto agora desesperado.
- Ele, te chamou de Pequena Anne? – sua voz saiu aguda.
- Sim, por isso eu me lembrei de tudo hoje cedo, por que você me chamou da mesma forma.
- E como você conseguiu sair? – ele pareceu confuso.
- Bom a pior parte ainda está por vir. – eu respirei, tentando empurrar o nó em minha garganta.
“Ele estava me assustando, ele começou a cantar uma canção de ninar, que eu tive a impressão que já ouvira antes. Algo como:
Minha princesa durma, não quero ver você triste, seu sorriso me ilumina, você é meu Sol.
Era algo assim. Aquilo me deixara angustiada, até que ele começou a ficar com raiva, ele... ele, você pode me chamar de louca, mas, ele pegou um sofá e tacou na parede.”
Eu olhara para ver sua expressão esperando que fosse como a dos policiais, que falaram que foi algum tipo de alucinação o que eu tivera. Mas seu rosto agora se tornara inexpressivo.
- Ele começou a perguntar se eu achava que ele era tolo, que se toda aquela farsa podia enganá-lo. Ele me perguntou se eu achava que ele era fraco, se eu tinha medo dele.
“Eu não conseguia falar, eu estava muda e com medo. Ele a cada minuto ficava mais nervoso. Até que ele pegou a minha avó. Segurou-a pelos cabelos, e me perguntou novamente se achava ele tolo. Com muito esforço eu só conseguia mexer a cabeça. Ele pareceu ficar mais enraivecido. Eu não estava entendendo nada, parecia tudo um mal entendido. Minha avó estava desacordada nos braços dele, ele a sacudia sem parar. Foi quando ele pareceu ter uma idéia, ele olhou com ódio para minha avó em seus braços.”
As lagrimas escorriam sem parar, eu estava me descontrolando, ele continuava a afagar minha mão. Respirei fundo e continuei.
“Ficou tudo em silencio por um tempo, e ele chamou um dos homens, ele o chamara de Marcus, e pediu para dar conta de mim, e tudo depois ficou escuro. Meu pai que estava tentando ligar para lá, pelo dia inteiro, ficou preocupado, e foi lá ver se estava tudo bem, garanto que foi mais paranóia de minha mãe na cabeça dele. Ele me encontrou desacordada, amarrada na cama. Ligou imediatamente para policia. Eu fui levada para o hospital, fiz alguns exames que não deram em nada. E minha avó foi encontrada morta, perto dos estábulos.”
Parei de lutar contra as lagrimas, e elas escorreram sem cessar. Mas finalmente eu estava aliviada, tudo que estava preso em meu peito conseguira sair.
- Anne eu sinto muito. – ele disse por fim, eu não conseguia falar nada. - Eu preciso fazer uma ligação. Fique aqui não vou demorar.
Ele foi para um dois metros de mim, discara o numero tão rápido que eu não consegui seguir o movimento de seus dedos. Ele falou rápido com a pessoa do outro lado da linha, não consegui decifrar nada do que dissera.
- Anne eu tenho que ir.
- Obrigada por me ouvir, obrigada mesmo, eu precisava de alguma forma fazer isto sair de dentro de mim.
- Eu que te agradeço, obrigada por confiar em mim.
Inesperadamente, ele me abraçou, sua pele estava fria como de manha, eu me senti de alguma forma segura em meio aos seus braços.
- Posso te pedir uma coisa Anne, uma única coisa? – disse ele, usando um olhar implorativo impossível de resistir.
- Sim. – eu disse já quase ficando sem ar novamente.
- Se você precisar de qualquer ajuda, de qualquer coisa, ligue para esse numero – ele me entregou um papel – Por favor.
- Sim, eu prometo que irei ligar. – disse sorrindo ao perceber mais uma vez que ele se importava comigo.
- Obrigado, se cuida Anne. – disse com aquele sorriso perfeito.
- Você também. – disse por fim.
Atravessei a rua, e ele ficara lá, me esperando entrar. Seu rosto num perfeito sorriso, antes de abrir a porta eu olhei para ele mais uma vez, e se não tivesse sido tão rápido juraria que seu semblante de desespero voltara mais uma vez.

6 comentários:

  1. Tô morrendo de curiosidade!!

    PS.Amando sua historia !!

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  2. Adorando e adorando cada vez mais sua historia!!

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  3. uau! o.o
    que doidera!
    tah muito boa sua história!
    quando tem o cap 5? ;)

    ps: pode ser só mais um comentário inútil, mas eh a 3ª história que tem um personagem Marcus! (a saga Crepúsculo, Segredos de uma Noite) quem será o Marcus dessa vez? curioooosa! *---*

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  4. Deus to desatualizadaaa
    eu viaJeei e cheguei ontem . vou ler tuudo hje :D
    adoorei o capiitulo ^^

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  5. meu q triste a parte q a avó morre.....quase chorei junto com a anne.....

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