sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Capitulo Um - Recomeço

Eu corria sem parar, perseguia alguém que não conhecia, meu ódio e minha vontade de terminar com aquilo pareciam aumentar a cada instante. As casas passavam ao meu lado como se fossem borrões, eu corria a toda velocidade, mas não me sentia cansada. Aquele corpo não era meu, eu tinha certeza. Eu não tinha a capacidade de comandá-lo, não conseguia parar. O ódio rompia em meu peito. Eu tentava entender tudo, porém a vontade de matar aquele a quem eu perseguia parecia me tomar por inteira. Eu já tinha vivido esse sonho, em um lugar diferente, mas sentia que o motivo pelo qual eu corria, o motivo pelo qual eu desejava matar era o mesmo. Ele caiu na isca, e estava perdido. O homem desconhecido ficou sem saída e se virou para me encarar.
- Por favor, eu juro que não sei de nada. – sua voz suplicante quebrara o silencio da noite.
- Você sabe até demais. – A voz que estourava eu meu peito era rouca e sem piedade.
- Por favor, por favor.
Um rosnado saiu do meu peito, e eu o ataquei.

O despertador tocou. Mais um dia começava, não era a primeira vez (tinha quase certeza que não era a ultima) que eu tivera um pesadelo como esse, nem me atormentava mais. Eles se tornaram mais freqüentes de um tempo para cá, antigamente eles me deixavam preocupada, pareciam reais demais para serem apenas pesadelos. Com o tempo, acabei me acostumando e deixando minhas paranóias para trás.
Levantei da cama em um pulo só. O sol entrava pela janela, fazendo as folhas que estavam caídas no chão, tomarem um tom acobreado. Nessa cidade de 10 mil habitantes, as estações eram bem marcadas com suas características, verão: quente, primavera: flores brotando em todos os cantos, outono: ruas cheias de folhas das arvores e inverno: com a neve fazendo tudo ficar branco como glacê.
Fui tomar banho, o aquecedor demorou a fazer sua tarefa, enquanto isso, fiquei mexendo nos mini sabonetes da mamãe. Desde pequena, eu gostei deles, mamãe tinha uma coleção imensa, desde golfinhos, luas e estrelas, a laços e gatinhos. Quando a água já estava na temperatura ideal, entrei no chuveiro. Minha cabeça foi alto enquanto tomava banho, era o primeiro dia de aula, primeiro dia na escola secundaria, as coisas certamente mudariam. Tenho que me dedicar mais, mentalizei por um bom tempo. Saindo do banho, fui para o quarto, nunca fui boa em escolher roupas, mas era o primeiro dia de aula, eu tinha que caprichar. Peguei minha blusa preferida, uma azul com uns detalhes em marfim, um jeans e botas, mesmo sabendo que o sol resolveu aparecer, o clima continuava frio. Peguei um casaco e desci. Mamãe estava me esperando com um copo de leite e uma tigela de cereal.
- Bom dia Anne - disse ela com um sorriso no rosto.
- Bom dia mãe. – sentei para comer o mais rápido que pude – Cadê o pai? – perguntei ao sentir a ausência dele.
- Saiu cedo, o chamaram para uma reunião de emergência.
- Hum... – tentei esconder minha frustração, já que a minha carona até a escola se fora.
- Animada?
- Um pouco – falei levantando e pegando a mochila, o colégio não era muito longe, uns 15 minutos a pé, mas estava planejando chegar mais cedo, para pegar os horários, e sem minha carona, eu precisava realmente correr.
A caminhada foi tranqüila, havia chovido noite passada, o que exigia o dobro de cuidado, já que as calçadas estavam excepcionalmente escorregadias. E lá estava ela, a Escola Secundária de Foester, na verdade um conjunto de prédios pré-históricos com a pintura gasta. Não demorei muito para encontrar a secretaria, que estava praticamente vazia, a não ser por uns três alunos, que aparentavam ser calouros como eu, que tiveram a mesma idéia de chegar mais cedo. No balcão, uma senhora, estava fazendo anotações, e foi a ela que eu pedi os meus horários.
- Bom dia, é com a senhora que é pra pegar os horários?
- Sim querida; seu nome e ano?
- Anne Malakia, primeiro ano.
- Aqui está querida, seu horário é o marcado de vermelho. – disse ela me entregando um papel cheio de observações.
- Obrigada – Espanhol, Matemática e Biologia eram os meus tempos de hoje.
Os corredores ainda estavam vazios a não ser por uns alunos colando alguns papeis no mural, alguns diziam: “Clube de Xadrez” e outros “ Teste para time de basquete” . Isso realmente não era pra mim, xadrez precisava de atenção, basquete de mira, duas coisas que realmente não existiam no meu vocabulário.
Decidi então, ir logo pra minha sala, escolher a carteira ideal talvez fosse um privilégio que mais tarde com a sala lotada eu não teria. Peguei o horário para confirmar a sala. Sala três.
Olhei para os lados procurando um sinal de perto de que sala eu me localizava. Droga, sala 16.
Olhei para o relógio, ainda faltava 20 minutos para o sinal tocar. Os corredores estavam mais cheios de rostos desconhecidos. Eu tinha feito a mim mesma uma promessa, e precisava cumprir: Tente ser mais sociável Anne, mas era uma coisa excepcionalmente difícil para mim. Em todo o meu colegial, eu passei com poucos amigos, na verdade só uma amiga que eu considerava de verdade, Laura, mas infelizmente ela estava a quilômetros de mim agora, graças à transferência do pai dela. Ia ser complicado sem ela, eu podia ter certeza que ela era uma das poucas pessoas do mundo que conseguia me entender.
A sala três não estava vazia, parecia até o lugar mais cheio da escola, um grupo de cinco garotas cochichavam sem parar no final da sala, outro grupo de garotos estavam na frente da sala, falando pelo que me pareceu de futebol. Eu reconheci um deles, Alex Still, ele era da minha sala ano passado, mas nunca trocara uma palavra com ele. Os outros presentes dentro da sala estavam mais deslocados. Tente ser mais sociável Anne, ao menos tente. Eu olhei para todos tentando “escolher” a vitima para minha tentativa de socialização. Tinha uma menina, magra, de cabelos claros e óculos, ela me parecia uma pessoa que eu podia lidar. Tente Anne. Eu me sentei, busquei na minha cabeça as palavras certas para começar.
- Sala legal não é? – Idiota quem começa com sala legal?
- Prazer meu nome Marina. – ela disse com um sorriso no rosto. Ela não sabia o quanto eu estava grata de ela ter facilitado as coisas dessa forma, pulando direto pra o: Prazer, eu sou fulana de tal.
- Prazer, eu sou Anne.
Sentei ao na carteira a sua frente, me sentindo mais animada por ter conseguido pelo menos uma companhia. Eu ia tentar puxar um assunto, aproveitando a onda de coragem que me tomava, quando o barulho da conversa dos demais grupinhos se cessou, fazendo com que a sala ficasse em silencio. Olhei em direção a porta automaticamente, esperando ver o motivo da interrupção. E lá estava. Um motivo perfeito por sinal. Um garoto, com cabelos castanhos e olhos verdes tão claros que beiravam o branco. Eu me desliguei do mundo naquele instante. Fiquei completamente hipnotizada por sua beleza.
- Bom dia alunos, meu nome é Sr. Stuart. Eu vou dar aula de espanhol para vocês esse ano.
E como se fosse um clique, eu voltei para a realidade. Eu poderia odiar o professor por ter me desligado daquele instante tão perfeito. Com um sorriso maravilhoso, o tal garoto sentou-se duas carteiras atrás da minha, pelo o que reparei não era só eu que tinha entrado em estado hipnótico quando ele entrara na sala.
- Vamos fazer assim, começando pela fila da direita, diga o seu nome. Começando por você. – ele apontou para o Alex. E as apresentações começaram. Retirando o que eu pensei, eu não iria odiar o tal professor, saber o nome daquele anjo talvez fosse essencial.
- Matt Rider. – ele disse, com uma voz perfeita, parecia musica. Então esse era o nome daquela criatura tão perfeita.
A aula passou rápido, nada de novo, somente revisões. A aula de matemática também passou da mesma forma, tivemos de novo as apresentações e eu me senti estremecer ao ouvir mais uma vez seu nome e sua voz, eu estava grata a professora. Eu me recusara a olhar para trás, com medo de não conseguir voltar a realidade.
O sinal tocou, era à hora do intervalo. Marina e eu fomos em silencio para o refeitório. Já na fila da lanchonete, pedi apenas um refresco, não estava com a mínima fome. Marina fez o mesmo. Ao me sentar, meus olhos foram procurando o tal garoto. Até que me deparei com um olhar que vinha para mim. Tentei identificar o rosto que pertencia àqueles olhos. Seu rosto era conhecido, mas distante, a sensação foi estranha. Eu o conhecia, mas ao mesmo tempo não. Era um rapaz bonito, de cabelos escuros e olhos da mesma cor do anjo da minha classe. Ele era extremamente bonito também. Aparentava ter uns 17 anos. Seus olhos não desligavam de mim, nem eu conseguia me desligar dele. Eu vasculhava a minha memória para todos os eventos do trabalho do papai que eu fui, para todas as viagens, mas nada. Eu tinha vontade de levantar e perguntar a ele se o conhecia, se ele já estivera alguma vez comigo. Depois de alguns instantes que reparei a companhia dele, era o anjo da minha sala. Eu fiquei confusa e tonta, os dois estavam olhando para mim. Então, Matt murmurou algo para o tal garoto, ele desviou o olhar. Começaram a falar, mas estava longe demais para entender. Pareciam estar discutindo. Comecei a me sentir tonta. Quem eram eles? De onde eu conhecia o tal garoto? Minha mente voava sem parar. Até que tudo ficou escuro.

6 comentários:

  1. começando a ler agora....
    quanto mistério!
    adoro mistérios... *---*

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  2. leitora nova.....

    adorei o começo da história.....mtooooo boa mesmo....

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  3. `O sol entrava pela janela, fazendo as folhas que estavam caídas no chão, tomarem um tom acobreado. ` uooou serio? eu nunca pensaria em dar uma descricao desse jeito, atenuou um pouco deixou menos apressado e mais suave o que acontece muito quando se escreve um livro desse genero (sabe? vida adolescente) =D Genial =) ansiosa pela historia

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